Agora que Portugal já cumpriu os “serviços mínimos” na Taça das Confederações ao apurar-se para as meias-finais como vencedor do seu grupo, em que era aliás favorito, podem colocar-se algumas questões sobre critérios das quais não virá mal ao mundo nem beliscam a nossa seleção como principal candidata a ganhar a prova.
Seleção, tal como o seu nome indica, é o apuramento daqueles que em cada momento dão as melhores garantias de poderem representar uma equipa no topo da forma e, assim, contribuírem para que essa equipa tenha sucessos nas provas que disputa.
Selecionar, tarefa que nada tem de fácil porque, por mais justo que cada selecionador procure ser, acaba por neste ou naquele caso ser...injusto, significa isso mesmo, escolher os melhores a cada momento e para cada jogo/competição sem olhar a idade, clube ou...empresário, que parece ser um critério não assumido destes tempos modernos!
Naturalmente, para que essa escolha seja criteriosa, justa, o mais defensável possível, isso implica que o selecionador, durante um período de tempo razoável, observe jogadores em diferentes momentos de competição, avalie o seu estado de forma físico, técnico e psicológico em cenários diversos e depois escolha em função dessas observações e do tipo de jogo/competição para que necessita dos jogadores.
Por aqui começam , então, as interrogações sobre alguns dos selecionados que Fernando Santos levou para a Rússia a fim de disputarem esta Taça das Confederações.
Desde logo pelos guarda-redes. Como avaliou o selecionador o estado de forma de Beto e José Sá se pura e simplesmente não jogaram durante toda a época no campeonato? Ou os três jogos de Beto e o jogo único de José Sá permitiram avaliar de forma consistente o seu estado de forma? Foram convocados por quê? Palpite?
Sem me querer imiscuir minimamente no trabalho do selecionador, não deixo de lembrar que muitos outros guarda-redes portugueses competiram assiduamente durante toda a época.
Depois, Eliseu. Suplente do Benfica, que apenas jogava nos impedimentos de Grimaldo, que foi sempre primeira escolha de Rui Vitória, foi convocado por quê? Quando é patente para (quase) todos que o seu prazo de validade como jogador da seleção está ultrapassado já há algum tempo. Por que não Antunes, ou até Tiago Pinto a quem nunca foi dada uma oportunidade, que são titularíssimos nos seus clubes, mais novos que Eliseu e com rendimento seguramente melhor do que este lateral benfiquista? Por quê? Por ser benfiquista? É que não encontro outra explicação.
O mesmo pode dizer-se de Nélson Semedo, que é um jogador de talento, com um futuro prometedor (embora dificilmente tanto como alguns jornais desportivos lisboetas gostam de vaticinar...) mas que em nada tem demonstrado, neste final de época, merecer mais a convocatória do que, por exemplo, João Cancelo, que foi “relegado” para os sub-21 quando, em boa verdade, quem lá devia estar era Nélson Semedo e Cancelo na seleção A.
Isto para já nem falar de Bruno Gaspar, que fez uma grande época e a terminou num momento superior de forma, mas que, jogando no Vitória e não tendo o empresário “certo”, obviamente que não podia ser opção para a seleção… É que no seu caso, como em tempos no de André André, pôr-se-ia logo o problema do “...e quem tiro?...” que é um tipo de problema que nunca afeta as convocatórias de jogadores de Benfica, FC Porto e Sporting, como é sabido.
Voltando a Nélson Semedo, e tal como em Eliseu, não duvido que o peso da camisola clubística pesou mais que o momento de forma.
Se as interrogações quanto à convocatória são estas, outras ficam quanto às opções tomadas durante os jogos até agora efetuados.
Creio que Fernando Santos tem estado bem na escolha das equipas e na rotação inteligente que tem feito dos jogadores com vista a poupá-los ao desgaste de muitos jogos em poucos dias, mas é precisamente por compreender e aplaudir essa lógica que não consigo entender algumas opções feitas neste último jogo face à Nova Zelândia, o mais fraco dos adversários que Portugal encontrou e encontrará nesta competição, e que poderão ter influência nos próximos jogos.
Essencialmente as opções por Pepe e Ronaldo. Pepe tinha feito os dois primeiros jogos completos, tem 34 anos, tinha visto um cartão amarelo. Será que para ganhar à Nova Zelândia era indispensável Pepe jogar? José Fonte ou Luís Neto não dariam conta do recado? O que aconteceu? Pepe, que é física e tecnicamente muito forte, mas mentalmente nem tanto, fez uma falta absolutamente estúpida, a meio campo e num lance sem qualquer perigo para a nossa baliza, e viu um amarelo que o impedirá de jogar as meias-finais. Sendo certo que contra a Nova Zelândia nunca faria falta, é muito provável que face ao próximo adversário possa fazer. Por que jogou?
E Ronaldo? Claro que ter um jogador desta categoria e sentá-lo no banco até deve “doer” e percebo isso, mas era essencial ele jogar de início para ganharmos à Nova Zelândia? Não seria preferível tê-lo poupado e levá-lo ao relvado só se fosse absolutamente indispensável ao invés de lhe pôr em cima mais uma hora de jogo e sujeitá-lo a uma lesão que tudo complicasse? É que nas meias-finais, e depois desejavelmente na final, Ronaldo será certamente essencial.
É por Portugal estar a ganhar, ter-se apurado para as meias-finais e ser o principal favorito a ganhar a prova, que deixo aqui estas interrogações quando seria certamente mais fácil alinhar no coro nacional de aplausos. Mas acredito que, nalguns casos, perguntar ajuda mais que aplaudir.
P.S.: Para não complicar, nem falei de William Carvalho. Sempre convocado, quase sempre titular, coqueluche da imprensa desportiva lisboeta que o coloca todas as semanas nos maiores clubes do mundo e nos melhores campeonatos da Europa, mas que continua no Sporting ano após ano.
Talvez porque nesses campeonatos e nesses clubes se exija que um jogador tenha boa técnica (e William tem) mas também que tenha velocidades diferentes do parado e do devagar. E isso William não tem.
Mas tem lugar cativo na seleção. E isso é tão estranho que só desfarei a minha curiosidade do porquê no dia (se esse dia acontecer) em que ele seja transferido e gere as mais-valias para os habituais beneficiários que há muito as esperam.