Paciência, amor e carinho. Durante meses a fio, artistas e formações várias foram pacientemente adicionando ingredientes e condimentos à sua sopinha. Mexendo, remexendo e provando. Aperfeiçoando. Tudo com a esperança e objetivo de realizar o mais opíparo repasto que jamais degustaram...até que após meses de um aturado labor de amor, alguém lhes mijou na panela. Bem vindos às jornadas de maio.
O primeiro mijo na panela veio de França, e com urina retardada. Onze deliciosos meses após El Rey Dom Éderzito ter reduzido Paris a ruínas, uma outrora orgulhosa nação de nariz empinado procura reerguer-se. Confusa e atordoada, esgravatando por esperança nos escombros ainda fumegantes deixados pela vitoriosa armada lusitana, a Pátria da Liberté, Egalité e Fraternité busca consolo nos musculados braços do lado negro da força. Porém, fazendo uso da sua parceria de equipamentos desportivos com a maior potência desportiva mundial (facto que carece de comprovação), monsieur Macron põe fim ao sonho molhado da belle copine de Darth Vader e caminha isolado (força Schembri!) na direção do Palácio do Eliseu.
Confrontado com o novo inquilino, o lateral esquerdo do Benfica já veio a público pôr água na fervura : “Não me importo que o gajo venha morar para cá” - afirmou o magnânime Eliseu - “desde que ponha as patas longe do frigorífico. Senão vamos ter problemas. Não andei a encher este Palácio de picanha e couratos para vir um franciú meter o bedelho. Desde que se mantenha longe da cozinha tenho a certeza que vamos ser amigos. Ouvi dizer que eles têm bons queijos.” Por sua vez, Macron congratula-se com a simpatia de Eliseu e deixa no ar a possibilidade de nomear Lacatoni como novo primeiro-ministro.
Mas se a extrema-direita francesa falhou o assalto à Bastilha, outro golpe não menos importante conheceu o seu decadente final para lá do Marão. Simon Vukcevic, o irascível Príncipe Montenegrino, depôs finalmente as armas e assumiu a derrota. “Sonhava com uma Chaves só minha, bandeiras ao vento com minha fronha, camisolas número dez esvoaçantes nas ameias do castelo. Mas há que ter noção da realidade: há três bares porreiros em Chaves, sendo que um deles limita-se a passar Vengaboys, Eiffel 65 e tem vodka de péssima qualidade. Os outros dois até servem uma vodka com red bull porreira, mas fecham às três da manhã. Isto é para meninos. Se eu me via aqui a fazer a minha vida, a envelhecer como um aged whisky encorpado? Não, o Simon precisa de mais.” Acrescentamos que o Bota que Chuta está em condições de afirmar que após a rescisão com o Barça trasmontano, o mágico dos Balcãs tem intenções de ingressar no CD Feirense, dada a proximidade relativa do seu centro de treinos com a mítica discoteca Big Cansil. “Até dá para ir para os treinos de bicla!”
O sonho sempre moveu a vida de Fernando Fonseca, menino da Sé. Todos os recantos da sua cidade, das suas memórias, do seu percurso de vida, são pintados a azul-e-branco. O petiz subiu a pulso pelos escalões do clube de sempre, identidade forjada a títulos e sob um indelével manto de glória e identidade que se confunde com a da própria alma e granito da cidade que deu o nome a Portugal. A 6 de maio de 2017 a fantasia tornou-se realidade: o menino subiu ao relvado com a camisola 52, número de todos os sonhos. Certamente, o dia mais feliz da sua curta vida...até ao momento em que, de lágrima no canto da vista, lança um orgulhoso olhar para a parte de trás do maillot e se apercebe de um flamejante...”FERNADO”. Assim mesmo, dignidade assaltada de arma em punho, “N” caído na sarjeta, flutuando num oceano de esperanças liquidificadas em tom de empate. “Pai, empate escreve-se com “N” ou “M”?”, perguntava o destroçado Fernando a seu progenitor, na expectativa de encontrar o paradeiro da fugitiva letra.
Contudo, se de sonhos destroçados e empates falamos, teremos forçosamente que revisitar o mister de Fernando. Com a vitória do rival, Nuno deu de caras com a dura realidade, enquanto esta lhe mictava casualmente na malga. O sonho de ser campeão nacional com mais empates do que vitórias caiu estrondosamente por terra neste início de maio. “Sinceramente, a glória que vem com a conquista do ceptro de campeão pouco me importa. O que eu queria mesmo era provar um ponto (passe a ironia): que a vitória está sobrevalorizada. Sim, claro, ganhar é giro e tal, mas nada supera a sobriedade e dignidade do empate. A incomensurável beleza da partilha de pontos, sonho socialista de uma sociedade que divide o regozijo por igual. Os outros podem achar interessante ficar com os pontos todos para eles. Mas eu gosto de ver a alegria espelhada nos rostos dos outros - lembrem-se, a verdadeira felicidade é apenas atingida quando partilhada. Ok, não vamos ser campeões, correu mal, pronto. Mas isso é apenas uma parte do puzzle. O que interessa é que fizemos muita gente feliz pelo caminho.”
[Nota : Enquanto leu este trecho, o FC Porto empatou mais três vezes]