Um resultado algo desnivelado, é verdade. Mas os vencedores fizeram por isso. É verdade que a arbitragem teve dualidade de critérios, permitiu toda a liberdade a uns e quase nenhuma a outros. É verdade que as táticas de uns são de ataque e de outros são de defesa com linhas baixas. O que explica este resultado sem contestação. E, por agora, não há muito que se possa fazer para contrariar esta enorme superioridade da equipa da casa.
Estamos a falar de declarações, de comunicação. De intervenções mediáticas no pós-dérbi, um jogo que até nem teve grande qualidade futebolística, mas que foi, como é hábito, de enorme intensidade, pressão, incerteza e emoção. Muita coisa boa, várias más durante aqueles 90 minutos. No final, minuto e meio para cada interveniente na flash interview, treinadores na conferência de imprensa com perguntas contadas e... é tudo.
Tudo? Tudo não. Depois foi Luís Filipe Vieira à zona mista tratar de se demarcar de alguns assuntos e aproveitar para deixar indiretas constantes, embora todas sem nomes próprios e a apontar aos jornalistas a responsabilidade de saber de quem falavam e do que se falava (não era difícil). A seguir foi Bruno de Carvalho, cliente habitual das redes sociais, ripostar um assunto cada vez menos coletivo e mais pessoal. No dia seguinte, Pinto da Costa também enviou a sua posta, com a eterna menção ao «contra tudo e contra todos». Um filme visto e revisto, de qualquer um dos três. Todos recheados de razão, todos inocentes de culpas.
Mas, calma lá... Eu queria era saber o que o Ederson tinha a dizer sobre aquele disparate a abrir. Queria saber o que sente o William nesta altura em que está a estagnar (parece-me) e a desesperar em surdina por mudar de ares. Queria saber o que sentiu o Carrillo neste regresso a Alvalade. Queria saber o que Pizzi e Gelson me teriam a dizer sobre mais um soberbo jogo de ambos e as ambições para uma seleção onde cada vez mais justificam uma real oportunidade. Queria saber o que pensa Bas Dost (Jonas safou-se porque não jogou) de tremer mais nos jogos mais a sério. E qual a explicação de Rafa para ainda não ter atinado. Queria saber... Grimaldo, Podence, Paulo Oliveira, Fejsa. Queria ouvir e questionar todos.
E não era para benefício próprio. Era para esclarecer os adeptos que também têm estas perguntas na cabeça, mas que cada vez mais assimilam que nem sequer há hipótese de estas obterem resposta. Aliás, o subconsciente vai tratando de educar que um jogador nunca responda a temas destes em tempo útil (ouvir Rúben Amorim no Maluco Beleza explica muita coisa).
«Não conheço nenhum jornalista que prefira escrever uma notícia a partir de algo que Cristiano Ronaldo escreveu no Twitter do que a partir de uma conversa com o próprio. Se houver, sublinhe-se, não é jornalista», diz o João Tiago Figueiredo no seu artigo de opinião "Digam o óbvio que nós escrevemos". Um texto que merece ser lido e que também encarna nesta problemática.
A comunicação dos clubes é, por estas alturas, um assunto de enorme relevância e para o qual existem muito poucas respostas. A comunicação social teve e tem enorme responsabilidade nesta questão, pela forma como se recusa a uma ação conjunta ou a medidas de bater o pé. Mas não terá mais responsabilidade que os próprios clubes, os dirigentes que os comandam e que fazem do uso da palavra uma arma em vez de uma dádiva.
Talvez já esteja na altura de uma troca de protagonistas. Ou, vá lá, que se reúnam condições para que o jogo fique pelo menos empatado. 3x0 é pesado.