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      Poente B2
      José Pedro Fernandes
      2019/01/24
      E6
      Poente B2 é o olhar de José Pedro Fernandes sobre o desporto, o futebol e os media. Uma perspectiva a partir da pedreira, com um espectro vermelho e branco, sem amarras ou pressupostos de isenção, mas tendo como linha orientadora a honestidade intelectual.

      A primeira vez que me lembro de ir ao 1º de Maio foi pela mão do meu padrinho, benfiquista, para ver um Braga-Benfica. Não me lembro da idade, mas sei que era pequeno, muito pequeno e (já) do Braga.

      Naquele domingo, o meu padrinho tinha-me prometido uma bandeira (do Braga), tal como prometera ao meu primo, seu filho, também benfiquista. Na caminhada desde a Avenida Central até à Ponte de S. João nem uma banca de vendedores tinha uma bandeira do meu clube, apenas vendiam material alusivo ao clube da capital e o meu padrinho, no intuito de cumprir a promessa (parte dela) e quiçá alterar o gosto clubístico do afilhado, comprou-me uma bandeira do... Benfica. O jogo acabou 1-1, e de nada adiantou ao meu padrinho a oferta, eu era do Braga e sempre seria do Braga. Fez-se jus a uma máxima que “aprendi” anos mais tarde quando estudava da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto: “Na vida mudamos de tudo, de casa, de carro, de cidade, de mulher/homem, até de sexo, mas nunca, nunca mudamos de clube!”

      Sei que a minha grande influência foi o meu Avô, o maior Bracarense e Braguista que conheci e que um dia, em pleno estádio, o coração dele não aguentou a emoção do 2º golo do Braga ante o Vitesse e sucumbiu no lugar onde era feliz, no seio da família do Braga, na superior, no “tribunal”. Eu estava no estádio, na bancada em frente, na central, e, apesar da vitória, é dos jogos de pior memória para mim. Ser do Braga é ser eu e é perpetuar a memória de quem mais me ensinou a ser Braga.

      Quando António Salvador, no discurso da última Gala Legião de Ouro, afirmou que era com mágoa que dizia que ser de Braga ainda não era sinónimo de ser do Braga, eu percebi completamente o sentimento dele. Contudo, é pelas mãos do nosso presidente que a (grande) mudança se tem feito. Com ele o Braga cresceu, ganhou mais vezes, conquistou (mais) títulos, desafiou os “grandes” e a realidade instalada e chegou às escolas, onde, todos os anos, tem conseguido conquistar muitos pequenos adeptos, os grande adeptos de amanhã.

       Lembro-me de ser dos raros Braguistas na minha escola, normalmente o único da turma, lembro-me dos tempos de não haver qualquer merchandising do Braga, lembro-me de ser dos poucos a levar um cachecol do Braga para o estádio, dos poucos a levar uma camisola bracarense vestida para um jogo. Atualmente passa-se o oposto, o que não falta são miúdos Braguistas e todos os anos há mais e mais bonitos materiais alusivos ao Braga e diminuto o número de adeptos que vai ao estádio sem que a indumentária não inclua um adereço com o cunho guerreiro. Apesar da mágoa de Salvador, hoje já é normal ser de Braga e ser só do Braga.

      Para os 100%, sentir o Braga é parte da nossa essência, do nosso pulsar diário. Quem nos conhece não consegue dissociar-nos do Braga e não fugimos a esse compromisso, e responsabilidade, de sermos Bracarenses, de sermos o Braga.

      No dia em que o ENORME fizer 99 anos de idade, eu terei 42 e juntos completaremos 25 anos de “matrimónio”. Nem sempre vivemos dias felizes, mas são esses dias que me fazem valorizar as pequenas conquistas e os grandes feitos, que me fazem gritar BRAGA e ser orgulhosamente Bracarense e 100% Braga.

       

      CURTAS:

       - Abel Ferreira colocou o dedo na ferida, responsabilizando a Liga pela possibilidade de  não se encher o estádio na (“perfeita”) final four da Taça da Liga. Bilhetes entre os 15 e os 25 euros são “pornográficos” para a realidade da maioria dos portugueses, ainda mais se pensarmos que os jogos decorrem à semana (meias-finais), à noite e no inverno. Assistir à meia-final Porto-Benfica com apenas  23 mil espectadores nas bancadas e à meia-final Braga-Sporting com 10 mil espectadores num estádio com capacidade para 30 mil espectadores deveria fazer o presidente da Liga de Clubes pensar se realmente se interessa por futebol e pelo adepto ou se a prioridade é o dinheiro.

      - Na meia-final da Taça da Liga, FC Porto-Benfica, mais uma vez ficou evidente o exagerado número de pessoas que “habitam” o banco de suplentes e que apenas contribuem para a confusão e para o espetáculo degradante no espaço que medeia o campo de futebol onde deambulam os artistas e as bancadas onde está quem pagou bilhete e quer ver mais futebol e menos circo.

      - As duas meias-finais da Taça da Liga vieram comprovar a necessidade de se afinar e clarificar as ações do VAR. O adepto de futebol não pode ficar com a sensação de que esta tecnologia apenas serve para ratificar erros que favorecem os que recorrentemente mais beneficiam com os quiproquós das equipas de arbitragem.

      - Tenho saudades da medida, que não vingou, do ex-presidente da Liga de Clubes, Mário Figueiredo, que não permitia aos clubes emprestarem jogadores a clubes da mesma divisão. Era uma medida inteligente e que punha termo, ou pelo menos condicionava, a compra desregrada de jogadores pelos “grandes”, jogadores que nunca vão jogar nesses clubes e que mais não servem do que inflacionar o mercado e condicionarem as equipas adversárias.



      Comentários

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      motivo:
      AR
      Sr Batata e JAOF
      2019-01-25 14h44m por armandopinheiro
      Há uns anos, o SC Braga era o Porto B, actualmente é o Benfica B. Em que ficamos afinal?
      Quanto aos braguistas, não sei se vens a Braga com frequência, mas claramente está desactualizado. Cada vez mais os bracarenses são braguistas e só braguistas. E isso vê-se. Quanto ao nosso presidente, e à reacção ás derrotas, o teu comentário é apenas estúpido. Compara o que aconteceu nas derrotas com o Sporting de Lisboa (uma vergonha por culpa da arbitragem) e nas derrotas com o Benfica ...ler comentário completo »
      JAOF
      2019-01-24 14h39m por sr_batata
      Pensei nisso o outro dia, nos jogadores emprestados, era uma boa medida, um clube que compra e depois o jogador não faz um único jogo e é emprestado é uma pseudo corrupção, qual a necessidade de ter sido comprado? na verdade quando se compra o jogador ou vários e se empresta a uma equipa será que está a comprar uma vitória?
      Mesmo impedido o jogador de jogar contra o clube mãe!
      Existem casos como o famoso Eusébio no Beira-Mar que se recusava ser profissional, têm que se acabar com isso.
      2 considerações rápidas
      2019-01-24 12h01m por JAOF
      1 - Salvador (e recentemente, o Abel). . . Sim, claramente contribuíram com a sua gestão para o crescimento do Braga. . . mas quanto à "magoa" do presidente. . . enquanto estiverem como boys do Benfica, em Braga primeiro ser-se-á do Benfica e só depois do Braga, pois o exemplo vem da liderança, e é claro para qualquer um que o Braga é vassalo do Benfica. . .

      . . . é ver o comportamento quando toca o Benfica e quanto são os outros clubes, é completamente o oposto. Para ...ler comentário completo »
      IS
      No bom caminho
      2019-01-24 11h41m por Isentoqb
      Aos poucos os Bracarenses vão mudando e acredito que num futuro próximo sejam em muito maior número do SC Braga. Conheci a realidade do passado e já vi no estádio um jogo entre o Braga e o Benfica e poucos dos sócios estavam com a equipa da casa. As coisas estão a mudar e faço votos, ainda que não seja adepto do Braga, que cresçam e façam ver que o Sporting Clube de Braga representa uma região e pode ser um dos maiores clubes de Portugal não prestando vassalagem aos clubes de Lisboa.
      Bracarense e/ou Braguista
      2019-01-24 10h18m por DragonKing
      Excelente artigo.
      Começo por dizer começo bem, para não dizer profundamente, a realidade do Braga e de Braga. Uma cidade que tinha um elevado número de simpatizantes do Benfica e Sporting. Paradigma de tem vindo a ser alterado, em virtude do excelente trabalho que o clube tem feito nas provas nacionais e internacionais. Em especial com esta direção, também tem havido especial preocupação em captar adeptos mais novos, nomeadamente nas escolas do concelho. Esse aspeto será refele...ler comentário completo »
      José Pedro Fernandes
      2019-01-24 10h02m por sr_batata
      Bom artigo expressa o teu sentimento, mas continuo a achar que na maioria dos adeptos que vão ao estádio são como o teu padrinho e primo, normalmente existe um clube da terra e o clube que somos desde pequenos às vezes não coincide (razão pela qual querias uma bandeira e não tinhas), como dizes que és do Braga eu acredito, mas provavelmente se o Braga não fosse da primeira, para além de seres do Braga serias do Benfica é matemático é a influência.

      Dizeres hoje em dia que cada...ler comentário completo »

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