A primeira vez que me lembro de ir ao 1º de Maio foi pela mão do meu padrinho, benfiquista, para ver um Braga-Benfica. Não me lembro da idade, mas sei que era pequeno, muito pequeno e (já) do Braga.
Naquele domingo, o meu padrinho tinha-me prometido uma bandeira (do Braga), tal como prometera ao meu primo, seu filho, também benfiquista. Na caminhada desde a Avenida Central até à Ponte de S. João nem uma banca de vendedores tinha uma bandeira do meu clube, apenas vendiam material alusivo ao clube da capital e o meu padrinho, no intuito de cumprir a promessa (parte dela) e quiçá alterar o gosto clubístico do afilhado, comprou-me uma bandeira do... Benfica. O jogo acabou 1-1, e de nada adiantou ao meu padrinho a oferta, eu era do Braga e sempre seria do Braga. Fez-se jus a uma máxima que “aprendi” anos mais tarde quando estudava da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto: “Na vida mudamos de tudo, de casa, de carro, de cidade, de mulher/homem, até de sexo, mas nunca, nunca mudamos de clube!”
Sei que a minha grande influência foi o meu Avô, o maior Bracarense e Braguista que conheci e que um dia, em pleno estádio, o coração dele não aguentou a emoção do 2º golo do Braga ante o Vitesse e sucumbiu no lugar onde era feliz, no seio da família do Braga, na superior, no “tribunal”. Eu estava no estádio, na bancada em frente, na central, e, apesar da vitória, é dos jogos de pior memória para mim. Ser do Braga é ser eu e é perpetuar a memória de quem mais me ensinou a ser Braga.
Quando António Salvador, no discurso da última Gala Legião de Ouro, afirmou que era com mágoa que dizia que ser de Braga ainda não era sinónimo de ser do Braga, eu percebi completamente o sentimento dele. Contudo, é pelas mãos do nosso presidente que a (grande) mudança se tem feito. Com ele o Braga cresceu, ganhou mais vezes, conquistou (mais) títulos, desafiou os “grandes” e a realidade instalada e chegou às escolas, onde, todos os anos, tem conseguido conquistar muitos pequenos adeptos, os grande adeptos de amanhã.
Lembro-me de ser dos raros Braguistas na minha escola, normalmente o único da turma, lembro-me dos tempos de não haver qualquer merchandising do Braga, lembro-me de ser dos poucos a levar um cachecol do Braga para o estádio, dos poucos a levar uma camisola bracarense vestida para um jogo. Atualmente passa-se o oposto, o que não falta são miúdos Braguistas e todos os anos há mais e mais bonitos materiais alusivos ao Braga e diminuto o número de adeptos que vai ao estádio sem que a indumentária não inclua um adereço com o cunho guerreiro. Apesar da mágoa de Salvador, hoje já é normal ser de Braga e ser só do Braga.
Para os 100%, sentir o Braga é parte da nossa essência, do nosso pulsar diário. Quem nos conhece não consegue dissociar-nos do Braga e não fugimos a esse compromisso, e responsabilidade, de sermos Bracarenses, de sermos o Braga.
No dia em que o ENORME fizer 99 anos de idade, eu terei 42 e juntos completaremos 25 anos de “matrimónio”. Nem sempre vivemos dias felizes, mas são esses dias que me fazem valorizar as pequenas conquistas e os grandes feitos, que me fazem gritar BRAGA e ser orgulhosamente Bracarense e 100% Braga.
CURTAS:
- Abel Ferreira colocou o dedo na ferida, responsabilizando a Liga pela possibilidade de não se encher o estádio na (“perfeita”) final four da Taça da Liga. Bilhetes entre os 15 e os 25 euros são “pornográficos” para a realidade da maioria dos portugueses, ainda mais se pensarmos que os jogos decorrem à semana (meias-finais), à noite e no inverno. Assistir à meia-final Porto-Benfica com apenas 23 mil espectadores nas bancadas e à meia-final Braga-Sporting com 10 mil espectadores num estádio com capacidade para 30 mil espectadores deveria fazer o presidente da Liga de Clubes pensar se realmente se interessa por futebol e pelo adepto ou se a prioridade é o dinheiro.
- Na meia-final da Taça da Liga, FC Porto-Benfica, mais uma vez ficou evidente o exagerado número de pessoas que “habitam” o banco de suplentes e que apenas contribuem para a confusão e para o espetáculo degradante no espaço que medeia o campo de futebol onde deambulam os artistas e as bancadas onde está quem pagou bilhete e quer ver mais futebol e menos circo.
- As duas meias-finais da Taça da Liga vieram comprovar a necessidade de se afinar e clarificar as ações do VAR. O adepto de futebol não pode ficar com a sensação de que esta tecnologia apenas serve para ratificar erros que favorecem os que recorrentemente mais beneficiam com os quiproquós das equipas de arbitragem.
- Tenho saudades da medida, que não vingou, do ex-presidente da Liga de Clubes, Mário Figueiredo, que não permitia aos clubes emprestarem jogadores a clubes da mesma divisão. Era uma medida inteligente e que punha termo, ou pelo menos condicionava, a compra desregrada de jogadores pelos “grandes”, jogadores que nunca vão jogar nesses clubes e que mais não servem do que inflacionar o mercado e condicionarem as equipas adversárias.