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    2018/10/24
    E0
    O "19:45" é um espaço de opinião do jornalista do zerozero Duarte Monteiro. À flor da relva e do coração, com os filtros puros do futebol.

    Coloquemos o 4x3x3 e o 4x4x2 de lado e esqueçamos as marcações à zona. Este não pretende ser um texto opinativo ou explicativo, muito menos uma tentativa de me tornar um influencer (numa era infestada por “eles”); é, apenas e só, um pedaço de literatura do futebol, palavras simples de um adepto do jogo, de um apaixonado por estádios (quanto mais antigos, melhor) e pelas histórias que deles transbordam.

    Nos últimos dois dias fui tocado por uma mão divina (não a de Maradona), porque na minha visita a Gotemburgo pude pernoitar a escassos 350 metros de um dos palcos mais idiossincráticos do futebol mundial: o estádio Nya Ullevi, ou Ullevi, apenas e só, como se deu a conhecer às gentes.

    Dirão os mais ostentosos que o recinto sueco não tem a magnificência de um Maracanã ou de um Camp Nou; mas dirão os mais românticos, como eu, que tem o charme da história. Assim que soube que iria a Gotemburgo, e já depois de ter a reserva do hotel concluída, a primeira coisa que fiz foi ver a distância para aquele estádio com arquitetura “esquisita” e alguns momentos memoráveis.

    Chegado à segunda maior cidade da Suécia, passos apressados e entusiasmados. Da janela do meu quarto conseguia espreitar dois dos quatro holofotes que se erguem sobre as curvas perfeitas das bancadas. 'Ah, os holofotes'! Hoje, na era dos estádios de última geração, perdeu-se tanto daquela aceleração cardíaca quando desvendávamos os holofotes, ao longe, por entre os prédios. Era como se nos dessem um rebuçado.

    A tarde ameaçava chuva e o céu era uma manta única de cinzento, mas os meus olhos brilharam de entusiasmo quando dobrei a esquina e olhei para ele: ali estava, como sempre o imaginara, através das fotografias e dos vídeos: curvilíneo e elegante, desafiando as leis da física naquelas inclinações vertiginosas que ligam os topos às centrais. 'Ah, Ullevi. Que bom ver-te a vivo e a cores'.

    E de repente, a história à minha frente. O Mundial de 1958, que até àquele momento só conhecia a preto e branco. A vitória dos suecos sobre os alemães (3x1), ali mesmo, que os levou à final da prova; ou a épica conquista dos vizinhos dinamarqueses em 1992, quando depois de “repescados” para o Euro sueco acabaram com a glória nas mãos em pleno Ullevi.

    Mas há outra história, paralela ao futebol, que marcou a vida do maior estádio da Suécia. Aconteceu no verão de 1985, com mais de 60 mil pessoas a acorrerem ao Ullevi. A ocasião não era para menos, porque havia concerto de Bruce Springsteen, um dos nomes maiores da história do rock & roll. Nesse dia, o Ullevi tremeu como nunca – literalmente. A vibração causada pelo público em êxtase provocou danos em toda a estrutura, com relatos de várias pessoas a procurarem lugares seguros, longe da cobertura.

    Felizmente, nada de grave aconteceu. Pelo contrário, ficou a memória e a história de mais um dia na vida do “velhinho” Ullevi, que repousa em toda a sua elegância peculiar a poucos metros do novo estádio de futebol da cidade, o Gamla Ullevi. Passado e presente, ou o charme da história a ofuscar os padrões da modernidade.



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