placardpt
    Azul do céu como o futuro
    Sebastião Barata
    2018/09/05
    E1
    Coluna de opinião, batizada pelo belo verso de Pedro Barroso, que irá acompanhar a nova realidade do Clube de Futebol os Belenenses, sem por isso deixar de olhar para o futebol português no seu todo.

    A presença do Belenenses nas distritais tem despertado ceticismo entre uma pequena fação de adeptos, que expressam o seu sentimento nas redes sociais, seja em grupos de sócios e simpatizantes ou nas publicações oficiais do clube.

    O ceticismo tem como base a pergunta “como vamos convencer os mais novos a ser de um clube das distritais?”. A questão implica desde logo duas falácias: a necessidade de “convencer” alguém a ser de um clube; e a dificuldade em apoiar uma equipa que milita no último escalão do futebol português.

    Quanto à primeira, ser-se do Belenenses (ou de qualquer outra equipa, obviamente) não é resultado de qualquer tipo de persuasão ou discussão entre uma criança ainda sem clube e um adepto que a tenta angariar para a sua bancada. Cria-se, isso sim, uma relação entre adepto e clube, ou melhor: o adepto revê a sua identidade num determinado emblema desportivo e em torno desse emblema os sócios e simpatizantes sentem-se unidos e interligados – Michael Serazio, professor universitário, escreveu inclusive um artigo científico onde analisou de uma perspetiva durkheimiana este fenómeno sociológico no desporto. O seu caso de estudo foi a vitória dos Philadelphia Philies na World Series de 2008, que uniu os habitantes da cidade americana em torno da equipa, restaurando os valores comunitários e a união entre as gentes de Filadélfia.

    Como se pode ver, não há espaço para convencimentos nem argumentos quando o que está em causa é uma questão, digamos, espiritual e não tão preta e branca quanto pode parecer a alguns. Contudo, o ambiente do futebol português não é propício a “espiritualidades”, e entende-se por aí a resistência de um ou outro adepto à ideia de alguém se tornar belenense num contexto adverso como o que vivemos. Só teríamos direito a ser de três clubes se nos deixássemos guiar pela comunicação social, pela arrogância condescendente de alguns apoiantes desses ditos emblemas ou até mesmo pelas instituições que gerem o futebol – as condicionantes nos sorteios do campeonato, o silêncio da Liga face a casos como o do Belenenses e, mais recentemente, do Leixões e a falta de uma política que proteja os clubes face às SADs demonstram bem essa tendência.

    É por isso que, mais do que nunca (até porque, com a passividade da Liga, os sintomas referidos estão a caminhar para um ponto de não retorno), é importante relembrar a questão dos valores. Não falo dos valores monetários, obviamente; mas sim dos valores de identidade, aqueles sobre os quais os clubes são fundados, e com os quais a massa associativa se identifica. As vitórias e os títulos são, inegavelmente, um fator importante para alguém ser de determinada equipa; mas terão de ser sempre os valores o elo de ligação entre clubes e pessoas.

    Vai isto de encontro às reticências relativamente ao apoio que um Belenenses nas distritais possa vir, ou não, a ter. Não está em causa apoiar um clube das distritais; está em causa apoiar o Belenenses. Se os jovens se identificam verdadeiramente com o clube, não olharão à divisão, da mesma forma que um número significativo de sócios retirou o apoio à equipa de futebol sénior nos últimos 5 anos por não reconhecer naquela formação valores belenenses, independentemente dos resultados e da presença na primeira liga.

    As palavras de Raul Solnado servem de reposta à pergunta dos mais céticos. O ator não dizia que é do Belenenses quem é persuadido nem quem está na primeira liga. Dizia, e bem, “é do Belenenses quem pode”. No contexto atual, é do Belenenses quem pode esperar, no mínimo, cinco anos até regressar ao escalão principal, quem pode lutar contra o futebol moderno, quem pode apoiar a equipa sem olhar à divisão, etc. Se o clube se mantiver fiel aos seus valores, serão muitos e muitas a poder.



    Comentários

    Gostaria de comentar? Basta registar-se!
    motivo:
    o distrital tem uma grande vantagem
    2018-09-07 23h53m por carlos_batuta
    "Não há" jogos fora.
    Com jogos num raio de poucos km, e bilhetes a poucos euros, é possível levar a família a todo o lado, e criar "bichinhos".
    Falo com a experiência de salgueirista. Os primeiros anos após o regresso foram saborosos.
    Força Belém.

    OPINIÕES DO MESMO AUTOR

    É particularmente saboroso celebrar o centenário do Belenenses dada a quantidade de vezes que foi anunciada a nossa morte. Estes 100 anos de vida são, obviamente, anos de ...
    24-09-2019 11:25E5
    Imaginemos o seguinte cenário: uma equipa da Primeira Liga termina a temporada em 9.º lugar, cria numa só época os seus escalões de formação e ainda ...
    23-06-2019 10:29E14
    Após o apito final, durante o habitual cumprimento aos jogadores, um senhor agita a sua camisola em frente aos atletas que por ele passam. Diz-lhes que veio de propósito de Leiria ...
    17-06-2019 08:52E1
    Opinião
    Treino Invisível
    Pedro Filipe Maia
    Oitava Arte
    Álvaro Costa
    O Melhor dos Jogos
    Carlos Daniel
    O sítio dos Gverreiros
    António Costa