*com Cristiano Tavares Faria
É uma história inspiradora para vários quadrantes da sociedade e chega-nos diretamente da 2ª liga espanhola, com a titularidade de Dani Lasure, no jogo do último domingo entre o Eibar - equipa que reforçou no último mês de janeiro - e o Levante (1-1). Até aqui tudo normal, não tivesse o lateral canhoto passado por um interregno de 912 (!) dias, em relação à última titularidade, por culpa de um cancro nos testículos.
Rebobinando a fita: em março de 2021, quando representava o Leganés, por empréstimo do Zagaroza, Lasure soube da notícia mais assustadora da carreira e da vida, com a doença oncológica que lhe foi diagnosticada.
Prontamente intervencionado, o lateral ficou afastado dos relvados por tempo indeterminado, até voltar à ação na temporada seguinte. De regresso ao clube que o formou, Lasure ainda foi a tempo de ajudar os aragoneses a selar a permanência no segundo escalão com um tranquilo 10º lugar, mas o seu contributo não foi além dos 55', divididos por dois desafios.
Na presente campanha, o figurino pouco se alterou com os 19 minutos angariados na deslocação dos blanquillos a Tenerife, mas o passado março acabou por ser mês de boa-nova, após o calvário. Com Imanol García a contas com uma rotura do tendão de aquiles, o Eibar decidiu apostar no recuperado Dani Lasure, para a desenfreada luta pela subida à La Liga.
A ideia era testar o jogador num período experimental de duas semanas, que não chegaram a ser inteiramente necessárias. Ao fim de sete dias, Garitano, técnico do Eibar, aprovava a sua adição ao elenco por si treinado e... o resto chegou com a confiança no processo.
Somados os primeiros minutos na complicada vitória no terreno do Mirandés, Lasure dispôs da verdadeira prova de fogo este fim de semana, contra o Levante, rival direto na luta pela promoção. Privado de vários elementos habitualmente titulares do setor defensivo - Venâncio foi um deles -, o treinador basco não teve dúvidas em confiar a titularidade ao seu mais recente pupilo, sendo que, no final, até lhe dirigiu elogios.
«Tinha uma doença que não desejaria a ninguém. Na frente, esteva o melhor jogador da divisão naquela posição [De Frutos] e ele não jogava há não sei quanto tempo. Aguentou os 90' e abrandou-o muito bem. Tem muito mérito. É um rapaz fenomenal e estou muito feliz. Quando passas por uma doença destas é mais uma questão de vida do que de futebol», enalteceu, no final do desafio.
A prova viva que os obstáculos, por vezes, surgem para nos tornar mais fortes a cada adversidade.