A perfeição não existe, mas há momentos que se aproximam. A melhor forma de descrever o jogo da primeira-mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões é que o FC Porto saiu do Dragão com a vitória, mas com uma sensação áspera na boca, pois merecia mais. A equipa de Sérgio Conceição teve um comportamento soberbo, apenas manchado no golo de Chiesa, podia ter conseguido um resultado melhor, mas segue viva e com ambições para a viagem a Turim.
Os portistas entraram muito bem em jogo, repetiram-no no segundo tempo e, como já vem sendo habitual nos seus jogos, a Juventus apenas despertou na parte final do encontro, o que não chega para dizer que podia ter conseguido mais - no fundo, o resultado beneficiou-a, tendo em conta a exibição. Pirlo levou goleada tática de Sérgio Conceição.
Num jogo em que, finalmente, a pressão era bem menor para a equipa de Sérgio Conceição, houve muito bons indicadores.
Que melhor maneira de começar a eliminatória do que com um golo? Pode ser argumentado que tudo correu bem ao FC Porto, mas a estratégia mereceu a felicidade. Muito se falou da possível utilização de três centrais, mas Sarr ficou no banco e Diogo Leite (tal como Fábio Vieira) na bancada. A opção foi de jogar com os melhores e mais rotinados. Resultou de forma supersónica: na primeira posse da Juventus, o FC Porto ficou atrás, contido, a dar um sinal de muito respeito. Na segunda, pressionou a fundo, surpreendeu e... golo! Taremi aproveitou um passe curto de Bentancur para o guarda-redes e foi eficiente na abordagem, entrando de carrinho praticamente até à baliza.
A equipa de Sérgio Conceição conseguia, ao longo do jogo, um excelente misto sem bola: ora pressionava alto e tentava criar distúrbios, e aos poucos, a Juve percebeu como lidar com isso; ora recuava linhas e obrigava o adversário a ter de pensar em ataque continuado - aí, só as subidas de De Ligt com bola e a condução de Bentancur criavam algum burburinho.
Era uma organização defensiva exemplar, que não permitiu um milímetro a Cristiano e que não trouxe qualquer oportunidade à Juventus.
Os dragões não se limitaram a ser exemplares no primeiro tempo, continuaram a sê-lo no segundo, em que houve receita idêntica: um golo no primeiro minuto, desta vez com Manafá a explorar o lado direito e a servir Marega.
Pirlo era o espelho da inércia. Incapaz de encontrar novas ideias, esperava que um rasgo individual colocasse o resultado mais favorável do que o perigoso 2x0, só que, tirando tentativas de fora da área, não houve uma luz sequer. E, com melhor definição, o FC Porto (foi mesmo!) podia ter conseguido ainda melhor - veja-se o lance em que Sérgio Oliveira conduziu até à área e rematou em excelente posição.
Só ficou mais complicado quando Morata entrou em campo. A propósito, porque terá ficado no banco? O espanhol foi bem mais capaz de incomodar a defesa contrária e, ao mesmo tempo, tirou a Cristiano o foco exclusivo da defesa contrária, abrindo alguns espaços.
Não veio, e a prova foi que a equipa portista continuou à procura da baliza contrária, já sem a mesma frescura, se bem que com idêntica intenção. O 2x1 foi um mal menor... e haverá melhor forma de elogiar o FC Porto?
Que grande abordagem dos dragões ao jogo, do ponto de vista do momento sem bola. O primeiro sinal foi dado logo na escolha do onze, com tração à frente, e teve com píncaro a forma de pressionar, que variou entre o sufoco e a retração atrás, o que confundiu a Juventus, deu um golo e aniquilou o jogo seguro dos italianos desde o começo.
Claramente, houve um vazio de ideias notório, do qual a responsabilidade tem de se atribuir ao treinador. O mérito do FC Porto é muito grande, mas uma equipa com estes valores individuais tinha de jogar muito mais em termos coletivos. Assim, vai de certeza ser mais um ano de insucesso europeu, o tão ambicionado sonho.