Comprar barato, muitas vezes nos mercados sul-americanos, integrar os jogadores no imediato, vendê-los por muito. A estratégia foi, durante muito tempo, associada ao FC Porto, e teve frequente repercussão nos meios de comunicação estrangeiros. Nos últimos anos, em parte por contenção financeira e em parte por alguns erros de casting, a abordagem ao mercado tem sofrido profundas alterações.
Parece claro que, nos últimos anos do Dragão, treinadores diferentes têm trazido abordagens diferentes. Se Paulo Fonseca olhou para o mercado nacional, Julen Lopetegui apostou quase tudo na sua Espanha natal, com alguns casos de sucesso e outros de insucesso.
Em 2015/16, a contratação de Iker Casillas, pode dizer-se, rompeu com o paradigma associado ao clube azul-e-branco. E com o guarda-redes trintão chegou o também experiente Maxi Pereira, apontados como os nomes fortes do mercado em questão. Foi uma abordagem pouco comum para o FC Porto e, até ver, não repetida nas últimas duas janelas de verão.
Nuno Espírito Santo, em 2016/17, procurou apenas fazer contratações cirúrgicas para posições carenciadas, num mercado relativamente tímido, embora com as integrações bem sucedidas de jogadores como Alex Telles ou Felipe. Menos feliz foi, por exemplo, a contratação de Depoitre.
E se olharmos para o defeso atual vemos que a abordagem é, de facto, pouco vista no Dragão.
Não é novidade o FC Porto começar uma pré-época com os regressos de um grande número de jogadores que haviam estado emprestados, mas é novo que tantos tenham tão fortes hipóteses de ficar no plantel. É verdade que o mercado prossegue e ainda há vários destes jogadores com hipóteses de sair, mas a intenção de Sérgio Conceição de integrar pelo menos boa parte destes atletas parece clara.
Ricardo Pereira e Aboubakar são, talvez, os casos mais prementes e aqueles com mais hipóteses de serem primeiras opções nesta nova época. O lateral rodou no Nice, com sucesso, e voltou para assumir a titularidade, aparentemente relegando Maxi Pereira para o banco (ou será para a porta de saída?). Já o avançado camaronês teve uma experiência por empréstimo no Besiktas e apesar de algumas declarações pouco felizes foi integrado na equipa deste ano, sendo um dos nomes em destaque na pré-época.
Também com hipóteses de ficarem no plantel mas com a situação ainda indefinida - possíveis saídas dependem de vários fatores, como o valor de eventuais propostas ou as possíveis saídas de outros jogadores - estão jogadores como Rafa Soares, Martins Indi, Diego Reyes, Sérgio Oliveira, Mikel Agu, Marega e Hernâni.
Como dissemos, é possível que nem todos fiquem no plantel, mas não há recordação de uma época em que tantos jogadores regressados tenham sido tão fortes hipóteses para o reforço do plantel. Uma questão com direta relação com a fase de contenção financeira que os dragões atravessam, claro, mas também com a confiança de Sérgio Conceição em jogadores que têm já vínculo com o clube e que não tiveram ainda as oportunidades que poderão fazer por merecer.
Tudo indica que a integração, nesta época, de tantos jogadores que rodaram em outros emblemas será inédita, mas isso não significa que conceder experiências a alguns atletas noutros clubes não tenha já sido benéfico para os dragões.
Podemos recordar, por exemplo, os casos do médio brasileiro Fernando, que começou a rodar no Estrela da Amadora antes de conquistar lugar no plantel, ou de Paulo Assunção, que rodou no AEK para depois assumir papel de destaque de azul-e-branco. Do próprio Bruno Alves, cedido a três emblemas antes de assumir lugar no plantel principal portista, e podemos ainda falar de Otávio, regressado na última época e que integrou o plantel, assumindo na atual pré-temporada papel de destaque na manobra ofensiva portista.
Em termos de número de jogadores reintegrados, a época mais ou menos recente que mais se aproxima da atual é a de 2012/13, na qual Vítor Pereira apostou em Abdoulaye, Miguel Lopes, André Castro e Christian Atsu. Os dragões conquistariam o campeonato em questão, mas por outro lado não se pode dizer que, olhando aos jogadores a nível individual, as apostas tenham valido lugares de destaque na primeira equipa ou originado grandes transferências.
Houve ainda os casos bem mais habituais de atletas que se viram sem lugar no plantel, foram cedidos a outros clubes e acabaram por não mais regressar ao Dragão, transformando-se os «até já» em «adeus». Foram casos como o argentino Juan Iturbe, que viria a conseguir feitos interessantes no futebol italiano, ou de Josué, que conseguiria destacar-se na Turquia e ainda no Braga. E também casos menos impressionantes em termos de prestação dos jogadores, como Ghilas, cedido a Córdoba, Levante e Gaziantepsor, ou Licá, emprestado a Rayo Vallecano e Vitória SC. Nestes casos, os bilhetes foram mesmo apenas de ida.
Abordámos já as várias apostas para esta nova época com o novo timoneiro Sérgio Conceição, que parece estar disposto a dar uma nova vida a uma série de jogadores, mas como referido nem todos parecem ter as mesmas hipóteses de continuar no plantel e serem opções frequentes.
Analisamos por isso, de seguida, os casos um a um.
Quem ficará para pegar de estaca, quem ficará para ser opção ocasional e quem poderá ainda ter guia de marcha antes do fim do mercado?