O futebol parou por todo mundo devido ao surto de coronavírus e por todo o mundo há portugueses à espera de ultrapassar esta situação para voltarem a fazer o que mais gostam: jogar futebol.
Neste tempo em que o exigido é «ficar em casa», o zerozero foi conversar com vários portugueses espalhados pelos quatro cantos do Mundo para perceber como tem sido este período sem futebol e como têm acompanhado toda esta situação, lá fora e em Portugal. Sempre à distância, claro.
Da vizinha Espanha à longínqua Indonésia, o mote passa por ficar em casa e ler os relatos da rubrica: «O meu futebol em quarentena».
zerozero (ZZ): Como tens ocupado o teu dia durante a quarentena?
Ricardo Ferreira (RF): A verdade é que tinha vindo para cá apenas há um mês e duas semanas. Procuro manter a minha rotina dentro do possível. Acordo de manhã, treino de manhã, almoço, deito-me a ver uma série. De tarde aproveito para fazer mais um treino e depois é jantar, falar com a família, namorada e amigos e ver uma série, à espera que o sono chegue.
ZZ: Que indicações te deu o clube?
RF: Começamos o campeonato em março, tínhamos feito dois jogos e estávamos a preparar o terceiro até ao momento em que o campeonato foi suspenso por uma semana. Fomos mandados para casa e mais tarde foi decidido suspender o campeonato sem data de retorno. A partir desse momento o clube começou a mandar planos de treino, semanalmente, e é a isso que me tenho agarrado.
ZZ: Como é ficar tanto tempo em casa?
RF: É difícil. Não me recordo de ter passado por uma situação destas. Estamos privados praticamente de tudo. É difícil. Procuro manter as rotinas, mas é muito complicado. Passamos 18 horas do nosso dia sentados ou deitados.
ZZ: Que conselhos deixas (livros, filmes, séries...)?
RF: Aproveitem para treinar e ver Netflix.
ZZ: Tens mantido contacto com os teus colegas?
RF: Temos o grupo de whatsapp e falamos por lá sobre a situação na Geórgia. E sobre outras coisas, como a possível data para o regresso do campeonato e sobre a família de cada um. O normal.
ZZ: Como tens acompanhado a situação em Portugal?
RF: É difícil. Sou jovem, esta é a minha primeira experiência fora e acontece isto passado um mês e pouco. Estou sozinho cá e isso complica um pouco. O coração está em Portugal. É lá que tenho toda a gente. Vejo o número a aumentar todos os dias e fico preocupado. Mas agora não posso fazer nada e tenho de me manter o máximo tranquilo possível.
ZZ: Como está a situação na Geórgia?
RF: Há duas semanas começaram a tomar medidas severas. Temos o recolher obrigatório das 21 horas às seis da manhã. Não podemos estar em contacto com muitas pessoas. Máximo três. Não há restaurantes abertos. As lojas estão praticamente todas fechadas e quando vais a uma superfície comercial tens luvas e desinfetantes à entrada. Aqui as pessoas já tomaram consciência de que é uma situação séria. Ontem [anteontem] estavam confirmados 150 casos e 20 recuperados. Não é nada comparado com o que está a acontecer em Portugal.
ZZ: Como contas regressar à competição? Tem sido fácil manter a forma?
RF: É difícil até arranjar a própria motivação para treinar sem um objetivo. Se nos dissessem que o campeonato ia recomeçar daqui a três semanas, ou daqui a um mês… Mas na realidade não sabemos. Estamos a treinar e podemos estar parados um mês. Dois meses. Ninguém tem noção. É uma luta contra nós. Mas temos de ser profissionais, manter rotinas e ter uma boa alimentação. Vai custar quando voltarmos, pois vamos ter de fazer 'outra' pré-época.
ZZ: Quando isto acabar, qual é a primeira coisa que queres fazer?
RF: Se houvesse possibilidade queria ir a Portugal para estar com a família. Também quero sair, jantar fora e conhecer um pouco mais do país. Preciso de espairecer a cabeça. Estar em casa é duro.