A 11 de maio de 2013 acontecia um dos momentos mais marcantes da história do futebol português no século XXI. Com quatro pontos de avanço sobre o FC Porto a três jornadas do fim, o Benfica tinha o título na mão, só que escorregou em casa com o Estoril e habilitou-se a um momento ímpar na história do jovem Kelvin, que fintou o destino e inverteu um campeonato que parecia perdido para os dragões.
Depois de uma primeira parte com algum ascendente portista, altura em que Varela respondeu ao golo inaugural de Lima, o segundo tempo foi mais cauteloso e, nos últimos 20 minutos, o Benfica conseguia manter de forma continuada a bola longe da baliza de Artur. James Rodríguez, num lance em que até partiu de posição irregular, atirou ao poste e parecia ter sido essa a derradeira chance dos dragões.
Minuto 90+1' - Contudo, já depois de dado o tempo de compensação, a bola chegou ao meio campo ofensivo do FC Porto. Kelvin, que tinha entrado no segundo tempo, conduziu e deu para Liedson. O Levezinho, também saído do banco, devolveu para o jovem brasileiro, que, descaído para a esquerda, à entrada da área, fez aquilo que só um jovem irreverente e espontâneo faria. É que, em condições normais, o exigido seria que Kelvin fosse à linha tentar o cruzamento para a área, mas não. O 'pequenino da crista' estava talhado para uma noite de verdadeiro sonho: rematou com a bola em suspenso no ar, encontrou o poste mais distante e descobriu a fórmula para ajoelhar Jorge Jesus.
Naquela que foi uma das imagens do campeonato, o técnico do Benfica caiu no relvado do Dragão, tal como os jogadores encarnados, incrédulos com um desfecho que já não julgavam possível. Do outro lado, a correria louca e descoordenada de Vítor Pereira, de lágrimas nos olhos, em busca de um abraço que lhe garantisse estar a sentir a realidade e não a ilusão. O FC Porto passava para a frente e viria a conquistar o campeonato em Paços de Ferreira, na semana seguinte.
Se aquele golo fez o dragão sacudir a águia novamente para um voo mais baixo que o seu, isso não se refletiu de forma continuada. Mesmo com muitas feridas, próprias de quem tudo perdeu no último suspiro em 2012/2013, a águia foi-se conseguindo reerguer e fê-lo de forma convincente, tão convincente que está outra vez na frente da corrida e será, para todos os efeitos, a turma portuguesa que mais troféus irá levantar em 2013/2014, num ano memorável para os de Jorge Jesus.
Relativamente ao FC Porto, chegou Paulo Fonseca e vários jogadores que se viriam a revelar de segunda linha, ainda foi conquistada a Supertaça Cândido de Oliveira, só que a queda foi sendo progressiva ao longo da temporada e, no fim das contas, quase existe motivo para dizer que aquele golo de Kelvin adiou uma renovação mais profunda e cuidadosa que se exigia no plantel e na estrutura.
Acabou Luís Castro, de forma não mais brilhante, embora, ainda assim, com uma vitória sobre o grande rival Benfica, se bem que o simbolismo tenha sido, desta vez, bem menor.
Kelvin mais notado... no museu
Quanto ao jovem extremo, que parecia ter ganho, naquele momento, um pulmão extra para a afirmação total na equipa, viu o golo do título ser insuficiente para atingir tal estatuto.
No recente museu do clube azul e branco, até houve lugar para o 'Espaço K', onde o vídeo é repetido de forma continuada, o que não tem sido esquecido por Pinto da Costa, que aproveita as questões que lhe são colocadas sobre o tema para 'picar' o adversário encarnado, como é costume no mítico dirigente.
Em todo o caso, isso tem sido insuficiente para o atleta. Kelvin fez exatamente os mesmos jogos da época passada e a sua preponderância na equipa é ainda menor, enquanto vai colecionando casos de indisciplina a nível interno. Resta perceber se a sua imortalidade no clube se resumirá ao momento aqui descrito ou se haverá mais para contar.
2-1 | ||
Kelvin 90' | Lima 19' Maxi Pereira 26' (p.b.) |