A notícia apanhou o futebol brasileiro de surpresa. Jean Pyerre, talentoso médio de 24 anos e futebolista do Grémio, está determinado a abandonar o futebol. O rumor ganhou proporções concretas e o empresário do atleta confirmou essa intenção, em palavras à Rádio Guaíba.
O adeus tem efeitos imediatos e é o derradeiro capítulo de uma carreira atribulada. Internacional pelo Brasil nas seleções jovens, Jean Pyerre conviveu de perto com problemas familiares, uma doença grave e comportamentos sociais mais do que discutíveis.
«O Jean Pyerre tem uma carreira repleta de histórias, e de muitos altos e baixos», confirma Eduardo Massa, jornalista do O Gol, parceiro do zerozero. «Surgiu como grande promessa na formação do Grémio e fez sua estreia em 2017. Dois anos depois estava estabilizado como profissional e com direito a contrato com cláusula de rescisão recorde no clube, de 120 milhões de euros. Um valor irreal, mas que dá a noção do quanto se esperava dele naquela altura.»
Os primeiros problemas surgiram em 2019. O que parecia ser uma simples lesão muscular, possível de debelar em 15 dias, tornou-se num tormento de seis meses. «O Jean Pyerre começou a conhecer o lado mais duro do desporto», continua Eduardo Massa, conhecedor dos «problemas de mentalidade» que impediram sempre o médio ofensivo de chegar à elite.«O treinador do Grémio nessa época era o Renato Gaúcho e ele deixou escapar críticas veladas, indicando falta de comprometimento de Jean Pyerre como profissional. A relação viveu momentos turbulentos: Renato chegou a dar a camisa 10 ao rapaz, falou-se até em seleção brasileira. Ao mesmo tempo, o técnico cobrava sempre mais dedicação fora do campo e participação dentro dele.»
Não resultou. Nesse carrossel de estados de alma, Jean Pyerre foi resistindo, mas a pandemia provocou-lhe «um drama familiar» difícil de gerir. A cabeça do atleta, já de si tumultuosa, revoltou-se.
«O pai foi internado com covid-19, apareceram outras polémicas extra-campo e o Jean Pyerre foi sendo deixado de lado. Chegou a ir para a Turquia, onde sofreu mais uma pancada: descobriu um tumor no testículo.»
Jean Pyerre voltou ao Brasil, foi operado e emprestado pelo Grémio ao Avaí, despromovido no Brasileirão. «Ele parece nunca ter gostado da vida de profissional e, depois de tantas deceções, aparenta não ter mais motivação para seguir em frente», conclui Eduardo Massa.»
O adeus ainda não é oficial. O empresário do futebolista garante, aliás, que Jean Pyerre não se pronunciará publicamente nas próximas semanas. Sem espaço no Grémio e sem vontade de continuar a lutar, o médio negoceia a rescisão da ligação que ainda se estende até ao final de 2023.
Tanta vida, tantas histórias de futebol em apenas 24 anos. 141 jogos e 22 golos no Grémio, 23/1 nesta última época já muito limitada no Avaí, tantas promessas por cumprir. Jean Pyerre ainda nem começou e já vai acabar.