A passagem do Paços de Ferreira pela Segunda Liga foi curta. Um ano depois de terem sido despromovidos, os castores sagraram-se campeões da Ledman LigaPro e estão de volta ao convívio com os grandes na próxima temporada.
Na construção do plantel para atacar a promoção, os pacenses recrutaram para a baliza aquele que tinha sido o melhor guarda-redes da segunda divisão portuguesa no ano anterior: Ricardo Ribeiro (ex-Académica de Coimbra).O guardião, de 29 anos, acabou mesmo por ser um dos grandes destaques da equipa liderada pelo mestre das subidas Vítor Oliveira - melhor guarda-redes da prova para o Segunda à Sexta, do zerozero – e recorda agora os segredos de uma época que devolveu a Liga às gentes de Paços de Ferreira.
Numa entrevista exclusiva ao nosso site, Ricardo Ribeiro passou em revista vários temas, entre eles a importância de Vítor Oliveira, o novo recorde que estabeleceu entre guarda-redes na Segunda Liga, o presente, o passado e o futuro.
2019 tem sido um ano «fantástico» para o guarda-redes e ainda não acabou… E vem aí um reforço muito especial!
zerozero (ZZ): Como surgiu a possibilidade de ir para um clube como o Paços de Ferreira, que tinha acabado de descer de divisão? Foi fácil dizer ‘sim’ a um projeto como esse?
Ricardo Ribeiro (RR): A proposta surgiu passado uma semana de ter acabado o último Campeonato. Eu queria muito voltar para o Norte, para perto da minha família, pois já eram seis anos fora, e quando surgiu a proposta nem hesitei. Sabia que era um grande projeto, logo a começar pelo treinador, e sabia que era um clube cumpridor. Isso tudo foi muito importante para tomar a decisão.
ZZ: O que encontraste correspondeu a todas as expectativas que tinhas criado?
RR: Sim, claro. Já sabia o que podia esperar em Paços, pois já tive alguns colegas que tinham passado pelo clube. É um clube onde recebem muito bem as pessoas e isso ajudou bastante na minha decisão.
RR: Claro que isso joga muito. Quando tens um treinador que já tem dez ou onze subidas é logo uma ajuda muito grande na hora de tomares uma decisão. E claro que também teve influência na minha decisão, não vou dizer o contrário. Custou-me um pouco sair de Coimbra, clube que nunca vou esquecer, mas eu queria vir para o Norte, mas sabia que ia encontrar um treinador muito capaz de nos levar até ao objetivo e uma direção que se dispôs a tudo para que eu voltasse.
ZZ: E afinal o que tem de tão especial o mister Vítor Oliveira?
RR: Eu acho que é o respeito que os jogadores têm por ele. É um treinador ganhador e é muito mais fácil, para nós jogadores, tomarmos a decisão de trabalhar com ele, porque sabemos que o sucesso fica mais próximo. A mensagem vencedora passa muito facilmente para os jogadores.
ZZ: Além do treinador e da estrutura, quais foram os outros segredos para o sucesso?
RR: Foi o grupo de homens que tivemos aqui. Sabíamos, desde início, qual era o objetivo. Sabíamos desde o início aquilo que tínhamos de fazer e, quando é assim, as coisas tornam-se mais fácil dentro de campo e no balneário. Quando tens um grupo fantástico é tudo muito mais fácil.
ZZ: A nível individual as coisas também correram muito bem. Melhor arranque de sempre de um guarda-redes na Segunda Liga - 1.º guarda-redes sem sofrer golos nos 6 primeiros jogos realizados na época -, apenas 18 golos sofridos e 17 jogos sem sofrer golos. Podemos dizer que foi a melhor época da carreira do Ricardo Ribeiro?
RR: Sem dúvida. Mas isso também se explica por ter feito 80 jogos nas duas épocas anteriores. Ajuda imenso. É consequência do trabalho. Jogar duas épocas consecutivas fez com que evoluísse e claro que os treinadores de guarda-redes com quem trabalhei ajudaram-me muito. É uma marca inédita na segunda liga e só tenho de estar orgulhoso do trabalho que fiz esta época.
Ricardo Ribeiro fez história na 🇵🇹II Liga: 1.º guarda-redes sem sofrer golos nos 6 primeiros jogos realizados na época:
6 jogos: R. Ribeiro🔝
5: Peres (Leiria,90/91)
5: Avelino (Penafiel, 99/2000)
5: Yannick (Alverca, 02/03)
5: Vágner (Estoril, 10/11)
5: Ricardo (FCP B, 14/15) pic.twitter.com/Cd33APZbYQ
— playmakerstats (@playmaker_PT) 31 de outubro de 2018
ZZ: Foi a terceira época consecutiva como indiscutível na baliza, primeiro na Académica e agora no Paços. Sentes que chegou finalmente a hora do Ricardo Ribeiro afirmar-se na Primeira Liga?
RR: Eu vou trabalhar para que isso aconteça. Já estou à espera disto há muito tempo. Felizmente, este ano conseguimos subir e consegui fazer uma época muito boa. E eu quero dar sequência a esta época. Claro que sei que é difícil, mas estou preparado para estar na máxima força na próxima temporada.
ZZ: É uma posição um pouco incompreendida e com apenas espaço para um no onze?
RR: É complicado, mas temos de saber lidar com isso. Somos profissionais e temos de aceitar as decisões que são tomadas. Claro que temos de dar sempre o nosso melhor e queremos sempre jogar, independentemente da posição. Este ano estou preparado para assumir a baliza porque trabalhei imenso para isso.
ZZ: Em 2012/13 tiveste a tua primeira oportunidade na Liga, mas depois as coisas não tiveram a regularidade talvez desejada. Estoril, Belenenses... Consegues perceber o que falhou?
RR: Quando estava no Estoril tinha o Vagner à minha frente, que era um dos melhores guarda-redes na Liga. Não joguei muito, mas senti que evoluí imenso. Não surgiu a oportunidade de jogar muito. No Belenenses estava o Ventura, que tinha sido chamado à Seleção, acabei por jogar os últimos seis jogos, mas infelizmente não tive sequência. Acabei por ir para Coimbra para a Segunda Liga. É tudo uma questão de oportunidade.
ZZ: Voltaste a falar de Coimbra. A Académica foi um clube muito importante para ti, num momento em que estavas a precisar de conseguir a tal regularidade, não é verdade?
RR: Eu quando fui para Coimbra não vinha a jogar com regularidade e quando fui para lá acabei por jogar 40 jogos em cada uma das épocas. E quando um jogador se sente acarinhado é sempre mais fácil. É um clube que nunca irei esquecer e as pessoas sabem disso. Sempre fui bem tratado. Infelizmente não conseguimos os objetivos. Saí por questões pessoais, pois queria vir para o Norte como já disse e as pessoas compreenderam e deram valor por aquilo que fiz ao serviço do clube.
ZZ: E como foste recebido pelos adeptos do Paços?
RR: Fui muito bem recebido também. O facto de ter sido o melhor guarda-redes da Segunda Liga no ano anterior também ajudou. Sabiam que ia jogar alguém com provas dadas. As pessoas sentiram que eu ia ser uma ajuda muito grande para a equipa.
RR: O nosso grande objetivo é garantir a manutenção o mais rápido possível. Temos de ter os pés bem assentes no chão, porque foi uma época extremamente difícil e desgastante. Conseguimos os objetivos, mas agora na primeira liga sabemos que vai ser muito mais complicado. Trabalho, união e muito espírito de sacrifício. Só assim conseguiremos os nossos objetivos.
ZZ: Estás com 29 anos, ainda tens muitos anos pela frente na tua carreira, certamente, que sonhos ainda tens na tua cabeça?
RR: O meu desejo é fazer uma época regular na Primeira Liga e também tenho o desejo de jogar noutro campeonato. Sempre foi aquilo que quis. Jogando na primeira liga torna-se tudo mais fácil, de ir para um campeonato mais competitivo.
ZZ: Sempre tiveste essa ilusão de ir para fora?
RR: Sim, sempre tive isso em mente. Já tive algumas propostas para ir para outros países, mas infelizmente nunca se chegou a acordo. Mas a vida é mesmo assim. Eu acredito que, mais cedo ou mais tarde, irá surgir.
ZZ: 2019 será para sempre um ano muito importante para ti. Subida de divisão, regresso à Primeira Liga e também sei que serás pai ainda este ano. Melhor era impossível?
RR: Um ano fantástico a todos os níveis, que vai ficar para sempre na minha memória!