Da pergunta sobre o Vitória ao passaporte de Pelé: a viagem imersiva pela história do futebol

«A primeira vez que vim a Inglaterra, disse para mim mesmo que o futebol tinha sido criado aqui, sem sombra de dúvida» - Arsène Wenger, treinador de futebol

O passaporte de Pelé ©Rodrigo Coimbra

Não vamos propriamente ao desconhecido, uma vez que este é um dos pontos turísticos mais recomendados em qualquer guia. Senhoras e senhores, eis o Museu Nacional do Futebol. Drama, história, habilidade, arte, fé, estilo, paixão e futebol. Tudo isto num verdadeiro local de culto, que preserva e exibe alguns dos mais emblemáticos objetos do futebol inglês e mundial.

Cartilagem de Willie Cunningham ©Rodrigo Coimbra

Isto e muito mais em três andares de pura magia.

©Rodrigo Coimbra

«É de Portugal? Vitória, de Guimarães! Tem adeptos fervorosos»

O entusiasmo é tanto que não ficamos satisfeitos com a primeira visita. O bilhete (gratuito para os habitantes de Manchester, 12 libras para os restantes) é válido para um ano, por isso, na incerteza de termos perdido algum pormenor num dos recantos do museu, decidimos voltar no dia seguinte para mais uma jornada de duas horas. Muito bem passadas, diga-se.

Os troféus da liga feminina e masculina ©Rodrigo Coimbra

A explicação para a referência aos vimaranenses é deliciosa. Ponto prévio: nunca foi a Portugal. Mas é um entusiasta por clubes, então como «o normal é [os portugueses] serem de Benfica, FC Porto ou Sporting», procura saber um pouco mais para além do óbvio, como estar a par de que o Vitória é o «clube do primeiro Rei de Portugal», que «tem adeptos fervorosos» e ainda atirou o nome do Rio Ave para provar que tinha estudado bem a lição.

Espaço dedicado a Best ©Rodrigo Coimbra

©Rodrigo Coimbra

«Muitos ganharam a Taça, mas só um clube a perdeu»

©Rodrigo Coimbra

1863. A viagem começa aqui, no ano em que foram escritas as primeiras leis do jogo. «O mais importante documento da história do futebol» - composto por 13 leis - foi revisto inúmeras vezes ao longo dos anos e ajuda-nos a perceber o futebol como hoje o conhecemos. «Sem ele o mundo nunca teria conhecido este desporto», pode ler-se.

Preston North End, "The Invencibles" ©Rodrigo Coimbra

A história de Arthur Kinnaird, o primeiro Lord do futebol inglês, presente em 9 das primeiras 12 finais da Taça de Inglaterra, tem um cantinho especial reservado, até pela relevância que teve em lutas extra-futebol, tais como os direitos das mulheres e o cuidado pelas crianças desfavorecidas. Nota ainda para a reconstituição de uma das histórias mais inusitadas da FA Cup: o Aston Villa conquistou o troféu, em 1895, e decidiu expô-lo na vitrine de uma loja de um dos seus principais patrocinadores. Resultado? O troféu foi roubado e nunca mais apareceu.

Os villans são, até hoje, reconhecidos por serem a única equipa que perdeu, literalmente, a Taça.

©Rodrigo Coimbra

Taças, camisolas de jogo, bilhetes, cromos, medalhas, chuteiras, fotografias e muitas, mas mesmo muitas histórias. Se é um apaixonado pelo futebol, este é definitivamente um ponto de paragem obrigatório caso visite Manchester.

Exposição itinerante sobre o futebol feminino ©Rodrigo Coimbra

'Crossing The Line: The Story of Women's Football'

No 2.º piso, a história continua bem presente, naturalmente, mas este é um espaço mais interativo, onde podemos marcar grandes penalidades, treinar passes ou até mesmo sentir o cheiro de um balneário. Sim, isso mesmo. Há um espaço onde podemos sentir o cheiro de meias e roupa transpirada ou aquele odor a bálsamo. Seguimos.

Estátua de Lily Parr, a primeira super-estrela do futebol feminino ©Rodrigo Coimbra

Ali conta-se a história de Lily Parr, a primeira super-estrela do futebol feminino, do Dick, Kerr Ladies, clube de futebol feminino que moveu multidões na segunda década do século XX - entre 1917 e 1921 disputou mais de 100 jogos e colocou mais de 46 mil pessoas em Goodison Park, casa do Everton -, e ainda a forma grotesca como foi proibido.

Dick, Kerr's Ladies FC, um caso de enorme sucesso no século XX ©Rodrigo Coimbra

«Aqui defendemos a igualdade no desporto». Assim seja! Sempre.

Braçadeira de capitão que Harry Kane utilizou durante o Inglaterra vs Alemanha, no Euro 2020, para mostrar apoio à comunidade LGBT+ ©Rodrigo Coimbra