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Workshop na Cidade do Futebol

CA convidou comunicação social a experimentar o VAR e o zerozero disse ‘presente’

Árbitros e jornalistas são muitas vezes apontados como os principais culpados para o atual estado do futebol português. Os erros de arbitragem estão em constante escrutínio na praça pública nacional e por isso o Conselho de Arbitragem, em conjunto com a Federação Portuguesa de Futebol, decidiu juntar os dois lados num workshop sobre o VAR para os jornalistas.

Como não podia deixar de ser, o zerozero esteve presente para estar mais a par daquilo que é, atualmente, ser árbitro e das dificuldades e potencialidades que o VAR trouxe ao futebol português. O timing dificilmente poderia ter sido melhor, tendo em conta as atuais críticas à tecnologia de videoárbitro durante a final four da Taça da Liga. Neste artigo conto-lhe o que aprendi, revelo, com humildade, as notas dos testes e deixo uma garantia: ser árbitro não é fácil, estar no VAR é, de forma sucinta, uma confusão.

©zerozero.pt

VAR, o protocolo

A sessão foi comandada por João Ferreira, vice-presidente do Conselho de Arbitragem, que numa fase inicial explicou o protocolo do VAR. Para que o leitor não se questione o porquê de o videoárbitro não atuar em determinadas circunstâncias, fazemos-lhe um pequeno resumo.

O princípio fundamental do VAR passa por responder à questão: «A decisão da equipa de arbitragem foi claramente errada?". A tecnologia entra em ação em quatro momentos de jogo:

  •  Golo/ Não golo;
  •  Penálti/ Não penálti;
  •  Vermelho direto (nunca em situações de amarelo ou segundo amarelo);
  •  Erro de identificação do jogador por parte do árbitro principal.

Parece fácil, não é verdade? Não. Concordamos que em casa ou no estádio é mais simples, mas junto a tantos televisores, com a pressão de decidir e com tantas vozes na cabeça a tarefa fica dificultada. Mas já lá vamos. Durante a sessão foram apresentados vários lances que facilitaram ao nosso entendimento das jogadas. Para facilitar a sua compreensão, peguemos num lance fresco na memória e abordado no workshop [n.d.r. A sessão já estava preparada antes da final four da Taça da Liga].

Teste escrito ©zerozero.pt

Recorda-se do golo do Moreirense em Alvalade (caso não se lembre veja aqui)? Os adeptos sportinguistas ficaram a pedir grande penalidade sobre Bas Dost antes do golo da equipa de Moreira de Cónegos. O lance completo passou no ecrã para a avaliação dos jornalistas, com dois momentos de VAR em análise - golo/não golo; penálti/não penálti.

Uma vez que o penálti sobre Bas Dost foi logo colocado de parte - o holandês sofre, efetivamente, falta, mas é fora da área -, olhemos para a situação de golo/não golo. Os lances de VAR são analisados de acordo com os momentos de ataque. Entre a queda de Bas Dost e o golo de Heriberto quantos momentos de ataque existiram? A contagem foi feita e a conclusão foi a seguinte: sete momentos de ataque. Assim sendo, o golo do Moreirense é válido e não pode ter intervenção do VAR, uma vez que as faltas, exceto para vermelho ou grande penalidade, não são alvo de escrutínio da equipa que se encontra na Cidade do Futebol.

Entendido? Demos então um salto até ao primeiro teste. Os 17 jornalistas presentes no workshop foram divididos em três grupos, passando por três fases para entender a dinâmica do VAR. Prontos? Chegou a hora do vídeo teste.

Este jornalista teve ... 12 valores 

Vídeo teste

Tal como as equipas de arbitragem, os jornalistas também realizaram um teste com imagens de lances reais, nacionais e internacionais, onde tiveram de acertar em dois critérios: ação técnica e ação disciplinar. Ao todo foram 20 vídeos. O esforço deu para passar, mas parecia mais fácil do que foi.

Simulações, entradas com pitons, foras de jogo, penáltis, mãos dentro da área. Jogos da Liga NOS, Ledman Liga Pro, Liga Europa, com VAR, com árbitro de baliza, houve de tudo. No momento de discutir os resultados não houve unanimidade, exceto nos árbitros. 

A questão interpretativa e a falta de conhecimento das leis de jogo dificultou a tarefa. Por exemplo, sabia que um corte com a mão, dentro da área, na sequência de um cruzamento não é punível com cartão amarelo? O motivo: não é um lance prometedor, é um lance de incerteza (não se sabe onde vai parar a bola). Tudo isto tem de ser observado ao pormenor, no momento e muitas vezes com milhares de assobios e a pressão dos jogadores. Naquela sala não foi fácil, mas a pontuação não foi assim tão má, não concorda? Passemos para o próximo teste: Leis de jogo.

Resultado um pouco melhor, mas...

Todos os meses os árbitros realizam um teste online (também há dois encontros anuais com avaliação por escrito). Em caso de nota negativa ficam inaptos para arbitrar até ao próximo teste. 

Sem o mesmo grau de exigência, os jornalistas tiveram de responder a 12 questões de escolha múltipla sobre as leis de jogo que não vamos estar a enumerar. Este jornalista teve 16 valores, mas deixou cartões vermelhos por mostrar, expulsou quem não devia e não sabe a definição correta de brutalidade no futebol... É melhor passarmos para a sala do VAR. Preparado para a confusão?

Sala do VAR na Cidade do Futebol ©zerozero.pt

Alô, Artur, daqui fala o VAR

A quantidade de monitores, headphones e botões surpreende e confunde quem entra na sala. Com a equipa de sub-23 do Belenenses SAD nos relvados da Cidade do Futebol (caso a carreira de futebol não dê, o teatro parece uma boa profissão) a ensaiar várias jogadas de possível VAR, os jornalistas encarnaram os papéis de VAR e AVAR. Artur Soares Dias era o árbitro principal e na sala do VAR havia ainda um operador de câmara que acedia aos nossos pedidos de planos. Headphones na cabeça e aqui vai: «Artur, estás a ouvir? Daqui fala o VAR».

O ecrã que os árbitros portugueses consultam ©zerozero.pt

Foi uma tarefa complicada, confusa e de incerteza. «Eu acho que é penálti, mas aconselho-te a ir ver». Marcar o lance, escolher o plano, trocar o plano, rever o plano, falar com o árbitro, falar com o AVAR, com o operador. Entretanto, nas bancadas o público vai ficando inquieto. Passam dois minutos e nada. Difícil, muito difícil.

O AVAR parece ter a tarefa mais facilitada, mas não é bem assim. Enquanto o VAR analisa o lance de possível penálti, o AVAR tem de continuar a ver o jogo ao vivo, auxiliando VAR e árbitro principal, para o caso de novos momentos de análise do VAR enquanto a primeira decisão não é tomada. Falou-se muito, acertou-se pouco. Artur Soares Dias tentou, mas estes jornalistas não terão futuro como VAR e sentiram na pele todas as dificuldades.

«Tanto tempo», «era penálti!», «vai ver as imagens». Não é fácil, caro leitor, não é nada fácil. É preciso comunicação, experiência, capacidade e paciência, muita paciência...

Comentários

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motivo:
Zerozero = jornalismo a sério
2019-01-26 16h24m por AndreGM
Excelente artigo
VAR
2019-01-26 14h36m por malaiko
VAR não é infalivel porque depois depedende de interpretações.

Quantas vezes não vemos comentadores de arbitragem como Duarte Gomes que para o seu jornal diz uma coisa (provavelmente tem que escrever depois do jogo para sair na edição do dia seguinte) , e depois no dia seguinte com a controversia e opiniões do painel presente nao diz "pois hoje vendo melhor parece-me que a decisão é contraria a que tinha" bla bla bla bla

Problema é quando ha fora de jogos de 3 met...ler comentário completo »
MO
E. . . não são profissionais!?
2019-01-26 11h56m por MonstroBolachas
Ok, não é tão simples como possa parecer.
Ok, até pode ser difícil.
E. . . qual é o problema!?

Querem ver que os árbitros não treinam nas funções de VAR? Acham que eles se sentem assim tão confusos após vários meses de treino?
Claro que não! Não sejamos ridículos.
Além do mais deveriam tb revelar quanto é que ganham por cada jogo que fazem como VAR. . . acho que seria esclarecedor.

O problema não passa por aí.
O problema é...ler comentário completo »
Nada fácil
2019-01-26 07h37m por xithombo
Tudo no inicio é difícil e confuso e o VAR no podia ser exceção. Todos ainda estão a aprender. Para decidir é preciso conjugar várias briskets (e. g. , a dinâmica do jogo, as leis, etc. ). Com o tempo acumular-se-ão experiencias e o processo de tomada de decisão será mais fácil e rapido.
JO
WORKSHOP
2019-01-25 22h58m por jorslb3
Boa iniciativa
A experiência pode servir para que surjam debates e propostas de melhorias

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