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    Postecoglou é o nome do momento em Londres

    A estrada que levou Big Ange à liderança da Premier League: «Foi como um pai para mim»

    O Tottenham é atualmente o líder da Premier League. Desligue os alarmes, caro leitor, porque não é um teste nem houve nenhum engano no cálculo dos pontos. Embora tão raro, potencialmente esmagador para os ânimos do recém-transferido Harry Kane, os spurs ocupam mesmo o primeiro posto ao fim de oito jornadas!

    Por detrás deste improvável início de campanha está Angelos Postecoglou. Um treinador que, para além de ter um nome impronunciável para qualquer locutor boquicheio, chegou ao norte de Londres com menos fama do que seria de esperar de alguém que vive a profissão há quase 30 anos. 

    Ora, mesmo que a apreciação pelo Big Ange - pode poupar sílabas desta forma - não tenha chegado mais cedo ao público maior do futebol mundial, isso vai bem a tempo de mudar. Afinal, entrou bem nesta aventura inglesa, na qual segue invicto e já escreveu histórias inéditas, como ser eleito treinador do mês nos primeiros dois meses na Premier League!

    Enquadramos esta liderança como uma raridade porque, apesar da sua inegável dimensão, o Tottenham Hotspur é também conhecido por não vencer qualquer competição desde que em 2007/08, comandado por Juande Ramos, conquistou a Taça da Liga Inglesa. 15 anos e quase uma dezena de treinadores depois (Pochettino, Mourinho e Conte entre eles), o museu segue igual. Zero adições. Nesse mesmo período, entre Oceânia, Ásia e Europa, o australiano levantou nove troféus.

    Justificou a aposta dos spurs e para o zerozero justifica a seguinte pergunta: quem é Ange Postecoglou?

    Na asa de Puskás e testado por Sir Alex

    A resposta a essa questão começa, sem surpresas, na Austrália. Lá a fama não é nem recente nem pequena, uma vez que este treinador é há muitos anos uma das figuras mais respeitadas do desporto.

    Nasceu na Grécia, de onde herdou este cada vez mais célebre apelido, mas do pai herdou também o futebol, um amor que começou a pôr em prática já na Oceânia, para onde se mudou com apenas cinco anos. Virou futebolista e passou uma carreira inteira no South Melbourne, onde foi capitão (desde os 21 anos) e por duas vezes campeão nacional.

    Compreendemos que o futebol australiano não era propriamente célebre, especialmente nessa altura, mas nenhum sítio onde a bola rola é imune a dados deliciosos. Atiramos um: nesse segundo título, em 1991, o South Melbourne tinha Ferenc Puskás como treinador!

    Aos 27 anos reformou-se devido a uma lesão grave e aí, talvez inspirado pelo mítico húngaro, Postecoglou virou treinador. Assumiu o seu South Melbourne em 1996 e foi bicampeão nacional em 1998 e 1999, numa altura em que a principal liga australiana ainda era apelidada de NSL (a A-League como hoje conhecemos começou em 2005).

    Venceu também a Liga dos Campeões da Oceânia, garantindo um lugar na primeira edição do atual Mundial de Clubes, onde, em pleno Maracanã, um jovem Postecoglou mediu forças com Sir Alex Ferguson e o seu poderoso Manchester United, que acabara de conquistar a tríplice coroa. 2-0 foi o resultado.

    Seguiram-se sete anos consecutivos ao leme da seleção de sub-20 da Austrália, pela qual conquistou três troféus, antes de um regresso à Liga da Austrália. Se já tinha uma boa reputação no seu país, foi aí, ao serviço do Brisbane Roar, que explodiu: bicampeão nacional, depois de uma série invicta de 36 jogos. O nome de origem helénica começava a circular pelas ruas...

    Big Ange ao serviço do Celtic, em jogo da Liga dos Campeões @Getty /

    «O Ange tirou o máximo de mim»

    Poderíamos responder à questão «Quem é Ange Postecoglou?» apenas com esta viagem às suas origens, mas optámos por pedir ajuda a alguns dos atletas que com ele privaram.

    «O Ange foi um dos treinadores que melhor me compreendeu, conseguiu tirar o máximo de mim. Sinto que ele fazia isso com cada atleta, física e mentalmente, e é isso que o diferencia. Agarrou-me muito, pelo estilo de treino e maneira de ser. Depois tentei tirar o máximo dele também, porque sabia que já tinha uma grande reputação e não ficaria para sempre», disse Gui Finkler ao zerozero.

    Foi em 2006, o primeiro brasileiro da história do Wolverhampton Wanderers @Getty /
    Finkler nasceu duas décadas depois de Postecoglou, mas chegou a Inglaterra muito mais jovem. Tinha apenas 21 anos quando foi o segundo lusófono de sempre - batido apenas por Silas - a assinar pelo Wolverhampton, então no Championship, mas as coisas não correram bem. Não sabia falar inglês e, apesar de ter sido o melhor marcador da equipa na pré-temporada, a chegada de Mick McCarthy empurrou-o permanentemente para o banco.

    Não demorou a regressar ao Brasil, mas essa experiência deixou-o melhor preparado para o seguinte convite do estrangeiro. Esse chegou bem depois, em 2012, por parte de um clube australiano - Melbourne Victory - que acabara de contratar um certo treinador...

    «Joguei apenas 12 jogos nessa temporada porque eu tive uma lesão muito séria. Uma rotura dos ligamentos cruzados. Só fiz um terço da competição, mas mesmo assim acabei como melhor assistente na Liga da Austrália, daí eu dizer que o Ange tirou o máximo de mim», recordou o brasileiro que registou oito passes para golo nessa dúzia de encontros.

    «Ele é uma pessoa muito séria, mas mesmo sem brincadeiras ele é alguém que conversa muito. É focado e sabe do que está a falar, tem todos os argumentos. Na palestra, antes de cada jogo, ele tinha a capacidade de nos motivar e sabia tudo acerca do adversário.»

    qSó joguei 12 jogos e mesmo assim fui o melhor assistente na Liga da Austrália!
    A primeira temporada no clube, embora sem títulos, foi francamente positiva. Os adeptos e jogadores - incluindo Finkler - ansiavam por 2013/14, mas em outubro, ao fim do terceiro jogo oficial, o grande Ange recebeu o seu primeiro grande convite.

    «Ainda joguei novamente para ele depois da lesão, mas ele saiu para ir treinar a seleção da Austrália. Ninguém quer perder o treinador, mas nós sabíamos que ele era um nome bem cotado naquele momento e que a qualquer momento podia receber um convite», explicou este ex-jogador que hoje, aos 38 anos, desempenha funções de agente.

    A poucos meses do Mundial de 2014, Ange Postecoglou chegava finalmente a um cargo de proeminência internacional e assumia-se cada vez mais como uma das principais faces do desporto no seu país.

    Ange no Mundial do Brasil, ao serviço da Austrália @Lusa
    Não venceu qualquer jogo e terminou no último lugar do grupo, mas vingou isso no ano seguinte, quando se tornou no primeiro e único selecionador a levar os socceroos à conquista da Taça Asiática. Em 2017, depois de garantir a qualificação para o Mundial 2018, demitiu-se. Trabalha nos seus termos, sempre.

    A aventura no Japão

    Adivinhar o passo seguinte seria uma tarefa quase impossível... Depois da seleção do seu país, Postecoglou viajou para o Japão e assumiu o leme do Yokohama Marinos, iniciando um dos mais importantes capítulos da sua extensa carreira.

    À semelhança de todas as suas experiências profissionais (à exceção do Tottenham, evidentemente), as coisas não começaram bem. Mesmo com o segundo melhor ataque da J-League, tinha também uma das piores defesas e por isso terminou em 12º lugar. Só pela diferença de golos evitou o play-off de despromoção!

    Ange e Erik partilham abraço @Getty /
    O treinador colocou as mãos à obra, aperfeiçoou o estilo e começou a colher os frutos. Em agosto de 2019, jogadas 22 das 34 jornadas, era quarto classificado a nove pontos do líder. Uma notável evolução, mas, ainda assim, insuficiente para o ambicioso australiano. A equipa parecia precisar de algo, ou, como se veio a comprovar, alguém...

    «Precisavam de alguém com as minhas características, depois conquistámos aquela competição e o Ange foi o protagonista. Tenho memórias fantásticas de futebol ofensivo, bonito, em que jogávamos sempre para a frente», recordou Erik, à conversa com o zerozero.

    «Tive grandes treinadores na carreira, mas o Ange é diferente. A firmeza, a forma como não sentia obstáculos de idioma com brasileiros e japoneses... Ele fazia-me evoluir a cada dia de trabalho e tenho muita pena que tenha sido apenas um ano e meio. Foi uma história especial, porque além de treinador ele foi um pai para mim. Deu-me muita confiança e devo a ele todos os golos que fiz».

    Golos não faltaram. Erik, campeão brasileiro pelo Palmeiras (2016) e revelação dessa mesma prova dois anos antes, então no Goiás, levou a pontaria afinada para a ua primeira experiência no estrangeiro.

    @Getty / Eurasia Sport Images
    Não se esquece do «pontapé de bicicleta contra o Nagoya Grampus» e fala-nos desse momento. O primeiro dos 24 golos (e nove assistências) que registou em 48 jogos sob o comando de Postecoglou, num 1-5 que marcou o início de uma impressionante série em que o Yokohama Marinos conquistou 31 pontos em 33 possíveis e sagrou-se campeão japonês, 15 anos depois.

    De «jeito durão», mas gentil e... vitorioso

    Em 2020, ano da pandemia, Ange e Erik não conseguiram revalidar o título. Foi a única temporada completa que partilharam e o brasileiro, que hoje atua no segundo escalão nipónico, foi até o artilheiro da equipa antes do adeus...

    qFoi uma história especial, porque além de treinador ele foi como um pai para mim
    «Ao Ange eu agradeço, já tive a oportunidade de o fazer quando eu fui para a China. Nunca vou esquecer do abraço que ele me deu, disse-me para ficar. Eu estava a estudar inglês e ele comigo falava de uma forma muito pausada, o que era simples mas também especial. Ele tinha aquele jeito durão, mas fez de mim melhor a cada dia», atirou, antes de recordar uma das memórias mais felizes:

    «A minha filha, Laura, nasceu em 2020 e ele deu-me toda a autonomia e tranquilidade para desfrutar desse momento. Mais tarde, estava eu de fato vestido a celebrar com os meus companheiros quando ele começou a falar para o estádio inteiro, "Uma linda garota acaba de chegar à família Marinos". Deixou-me muito emocionado».

    «Vou lembrar-me para sempre da forma como ele me deixou viver intensamente esse momento importante. Pessoas boas, como ele, merecem todo o sucesso», disse-nos Erik, garantindo, sem qualquer dúvida, que o seu antigo treinador fará história no Tottenham.

    Cinco títulos em dois anos no Celtic @Getty /
    A passagem pelo Japão define a carreira de Ange Postecoglou. Mais do que o título conquistado, ou os rasgados elogios de Guardiola num amigável com o Manchester City, foi a prova de que o australiano podia ter sucesso em qualquer lugar. Uma barreira ultrapassada.

    Seguiu-se a Europa e mais especificamente a Escócia, onde Big Ange calou os críticos e fez do Celtic campeão em 2022, depois do Rangers ter conquistado o título anterior com 25 pontos de vantagem, e bicampeão este ano, fora uma Taça e duas Taças da Liga. Essa equipa dos hoops tinha entre as principais figuras vários jogadores japoneses, o que não foi coincidência.

    De repente, Postecoglou passou a ser um nome de relevo no contexto europeu. O interesse dos gigantes chegou e o australiano conseguiu, aos 58 anos, uma das cadeiras de sonho do futebol inglês e europeu. Resta agora saber se conseguirá quebrar a malapata dos spurs...

    Brasil
    Gui Finkler
    NomeGuilherme Ozelame Finkler
    Nascimento/Idade1985-09-24(38 anos)
    Nacionalidade
    Brasil
    Brasil
    PosiçãoMédio (Médio Ofensivo) / Médio (Médio Centro)

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