Se é daqueles que ainda está agarrado a um passado recente, lembramos-lhe que esta já não é a Espanha de Xavi e Iniesta. De Villa e Fernando Torres. De Casillas e Piqué. As memórias ainda estão frescas e o domínio espanhol entre os Europeus e o Mundial da África do Sul faz com que La Roja entre no lote de favoritos em todas as competições que participa, só que na prática não é bem isso que acontece.
Com Luís Enrique, a seleção espanhola assumiu novamente a identidade de uma equipa que privilegia a posse de bola, independentemente do adversário. No entanto, o domínio das partidas é quase sempre mais teórico do que prático.
Com um 4x3x3 bem clássico no futebol espanhol, não raras vezes vemos a bola passar mais vezes pelos pés dos espanhóis do que dos adversários, só que as dificuldades para criar ocasiões claras de golo e para as finalizar são evidentes. Por isso, Espanha teve de ir até ao último jogo da qualificação para ultrapassar um grupo relativamente acessível e, mesmo que tenha conseguido terminar no primeiro lugar do seu grupo na Liga das Nações, os indicadores não foram totalmente positivos.
Luis Enrique aproveitou para testar vários jogadores, já a pensar no Mundial, isto porque falta qualidade de topo na seleção espanhola. Atualmente, Pedri, um jovem de 19 anos, é a principal referência. O médio tem tudo para ser um jogador de classe mundial, mas o facto de a seleção espanhola depositar tantas esperanças no jogador do Barcelona mostra que há problemas em La Roja.
Desde o último Europeu, a seleção espanhola atua com um ataque móvel, constituído por Sarabia, Ferran Torres e Morata. Embora a decisão de Luis Enrique não agrade de todo aos espanhóis, a verdade é que faltam opções ofensivas que deem garantias no imediato. Nico Williams e Yeremi Pino são projetos interessantes, Ansu Fati viu a sua afirmação atrasada pelos problemas físicos e não há uma alternativa direta a Morata (Borja e Iago Aspas ficaram fora dos convocados).
Como é habitual, o meio-campo é o setor mais forte da equipa espanhola, não só pela qualidade, mas pela versatilidade de jogadores como Koke. No entanto, também aí residem algumas dúvidas sobre preparar o futuro a breve prazo (Rodri) ou pensar no imediato (Busquets).
Apesar da qualidade técnica e capacidade individual dos seus jogadores, as expectativas sobre a seleção espanhola não são as mesmas de outros anos. O grupo pode causar dificuldades - Alemanha, Japão e Costa Rica -, especialmente para uma seleção que não consegue marcar muitos golos e tem algumas questões por resolver no seu setor mais recuado - Jordi Alba tem sido algo irregular e ainda não há uma dupla de centrais totalmente cimentada, apesar da qualidade de Pau Torres e Laporte.
A tradição espanhola no Mundial é uma realidade (Espanha vai para o seu 12.º Mundial consecutivo), mas, excetuando 2010, o sucesso não tem sido assim tanto - três presenças nos quartos de final. Em Espanha, não se espera muito mais do que isto.
Aos 19 anos, talvez seja arriscado colocar Pedri já como a grande estrela da seleção espanhola, mas o facto é que o jogador do Barcelona já conseguiu assumir-se como fundamental também em La Roja. O Golden Boy de 2021 é uma das grandes esperanças dos espanhóis para o futuro, mas também para o imediato. A exigência é altíssima, até porque pisa os mesmos terrenos que um tal de Xavi Hernández, mas há talento para confirmar o estatuto de promessa.
Depois de experimentar várias opções na Liga das Nações, Luis Enrique chega ao Mundial com a certeza dos jogadores que funcionam no modelo espanhol. Apesar de não ser, por vezes, a equipa mais interessante, a seleção espanhola tem uma identidade própria que é imposta em todas as partidas e Luis Enrique tem mérito no trabalho que tem vindo a realizar. A aposta na juventude tem dado frutos e apesar de não ser uma Espanha com nomes fortes como no passado, o coletivo, sob o comando de Luis Enrique, pode fazer a diferença nesta competição.