«Se Trincão desbloquear, será imparável».
A frase é de Rúben Amorim, quase ao jeito do seu famoso «e se corre bem?», e cinco dias depois o atacante registou a sua melhor exibição de leão ao peito. Um hat-trick inesquecível num palco histórico, para contrariar os pontos perdidos a meio da semana com uma vitória por 3-4 sobre o Casa Pia.
Em plena Páscoa, os adeptos que foram à bola foram presenteados com um cesto cheio de golos. Não se pode dizer que tenha existido chocolate, já que os verde e brancos tiveram algumas dificuldades (o resultado indica isso mesmo), mas houve, ainda assim, momentos de futebol muito satisfatório neste santo domingo de Liga Bwin.
O leão entrou em campo no Estádio Nacional do Jamor sem tempo a perder, como quem queria desmoer um almoço de exageros. Velocidade e verticalidade, antes de uma trinca à marca dos 20 segundos de jogo: passe de Pedro Gonçalves e golo de Francisco Trincão, com o pé direito. Não se podia exigir melhor início.
O Sporting tentou e quase sempre conseguiu assumir o jogo, mas cometeu alguns erros que permitiram ao Casa Pia assustar. Diomande falhou alguns passes e outros, como Chermiti e Matheus Reis, falharam lances que podiam ter facilmente dado golo. Foi só ao 39º minuto que se deu novo suspiro de alívio verde e branco.
Esgaio fez um passe inteligente entre dois defesas e Francisco Trincão, confiante, puxou a bola para o pé esquerdo e fez um golaço de levantar as zonas mais preenchidas do Jamor. Bis, imparável.
Não foi, no entanto, o fim dos problemas do Sporting, que voltou a colocar-se em sarilhos. No lance que encerrou a primeira parte, erros foram cometidos e Adán foi forçado a fazer uma defesa de média dificuldade, mas nada pôde fazer em relação à recarga de Yuki Soma.
Amorim viu-se forçado a mexer. Principalmente na defesa, onde renovou dois terços do trio de centrais, mas também tirou Chermiti e colocou Morita, de forma a adiantar Pote para o setor mais ofensivo.
Filipe Martins quis provar esse doce sabor de mexidas certeiras, e por isso lançou Felippe Cardoso, goleador que, à semelhança de Soma, chegou em janeiro. Seis minutos depois, Leonardo Lelo aproveitou um lance em que o leão adormeceu e serviu o dianteiro brasileiro para o 3-3. O Sporting, que não sofria há cinco jornadas, já começava a acumular números infelizes.
Aos 3-3, a história ainda estava longe da sua conclusão, já que foi uma tarde de intermináveis twists no enredo: Felippe Cardoso, herói minutos antes, viu o segundo amarelo por uma cotovelada na face de Pedro Gonçalves.
Isso gerou protestos nas bancadas, mas também um ascendente do leão que se sentiu cada vez mais na obrigação de sair desta partida com os três pontos. No fim (85ª minuto) foram os protagonistas do jogo que voltaram a combinar para o resolver. Pedro Gonçalves bateu um livre e Trincão finalizou, de primeira, o primeiro hat-trick da sua carreira. Imparável, diria Amorim.
Curiosamente, os minutos entre o 3-4 e o apito final foram os melhores do Sporting em toda a partida. Bom futebol, caracterizado por qualidade técnica, e muitas oportunidades criadas. Não houve mais golos porque não calhou, nesse curto período em que o leão pareceu uma equipa capaz de bater a Juventus já esta quinta-feira.
O Sporting vence e há justiça nesse triunfo, mas não foi propriamente o maior esforço coletivo dos leões, que tanto pecaram na defesa e foram salvos pela inspiração individual de dois elementos. Francisco Trincão e Pedro Gonçalves foram, do início ao fim, os melhores. O camisola 17 foi herói, com a sua melhor prestação pelos leões, mas o que Pote fez este domingo é de um jogador de enorme categoria.
Felippe Cardoso marcou o terceiro golo do Casa Pia, dando continuidade à sua veia goleadora desde que aterrou em Portugal e também alguma esperança aos gansos que, pela terceira vez, empatavam o jogo. Ainda assim, não se pode dizer que tenha tido um bom impacto no jogo, já que foi expulso minutos depois e condenou a turma de Filipe Martins a meia hora em inferioridade numérica.