Quando tudo parecia terminar a preto e branco... Terminou em vermelho vivo. O Braga venceu o dérbi minhoto por 3-2 e qualificou-se para os quartos de final da Taça de Portugal numa partida com um final absolutamente épico. Em cinco minutos, o conjunto de Artur Jorge virou a partida a seu favor e o Municipal entrou em autêntica erupção. O Vitória, que parecia confortável na pele de underdog, acusou muito o primeiro golo e acabou por não conseguir lidar com a avalanche final. Daqueles que ficam eternizados na memória.
Os momentos dos eternos rivais chocavam à entrada desta partida histórica. O descontentamento em Guimarães havia subido de tom com os cinco jogos consecutivos sem vitórias e, sobretudo, com a pesada derrota em Vizela (3-0). Pelo contrário, o Braga, tirando o desaire desapontante em Alvalade (5-0), vivia tempos de maior fulgor, com sete vitórias em oito partidas. Uma, em particular, deixou os gverreiros bastante satisfeitos: o 3-0 na receção ao Benfica.
Curiosamente, essa discrepância verificou-se enganadora sobretudo nos primeiros 20 minutos. Muito mais Vitória, muito mais alma, muito mais raça. A defender num 5-4-1, a formação de Moreno desenhava-se num modelo quase perfeito em termos de posicionamento, relegando a posse bracarense para um vazio de ideias.
O baixinho extremo ganhou uma dimensão superlativa nos primeiros instantes, vagueando pelo campo e desviando-se, com uma força notável, dos marcadores. Depois de uma primeira ameaça que evidenciara as dificuldades da dupla Paulo Oliveira-Bruno Rodrigues, o camisola 11 não vacilou na cara de Matheus quando assistido magistralmente por André Silva.
Um balde de água fria tremenda na Pedreira que castigou a apatia dos anfitriões. A vantagem deixou os vitorianos mais cautelosos e o Braga assumiu, declaradamente, o controlo. As dificuldades continuaram evidentes e o trio Amaro-Bamba-Mikel passou a assumir protagonismo.
As chegadas à área de Celton Biai - desastroso nos pontapés longos - intensificaram-se, embora só um livre de Iuri Medeiros e um cabeceamento de Abel Ruiz tenham sido notas de destaque. Antes do intervalo, quando mais se perspetivava o empate, André Silva descobriu o compatriota Anderson na profundidade: a velocidade deixou os centrais contrários para trás e a finalização, com classe, estabeleceu um 0-2 confortável no marcador.
A resposta era urgente pela corrida contra o tempo. Resultado desfavorável, moral afetada e emoções aos trambolhões. Artur Jorge colocou Vitinha, deu mais poder de fogo ao ataque e o Braga deixou de ameaçar para efetivar.
A solidariedade coletiva não tirou o discernimento e as saídas rápidas com critério até aconteceram - sem efeitos práticos - como pequenos raides no meio das investidas arsenalistas.
As sensações de poucos lances não aproveitados acabaram por ferver com o golo de Abel Ruiz em cima do minuto 80. O Braga galvanizou-se e não demorou a empatar por intermédio de Vitinha, com um golaço que abrilhantou o espetáculo também nas bancadas.
Ora, 80', 82'... 85'! Abel Ruiz subiu ao Olimpo e, aproveitando facilitismo na área contrária, fez o 3-2 e selou um triunfo absolutamente memorável e carregado de loucura. Épico, senhoras e senhores!
Que reta final, que emoção, que festa! O Braga, em desvantagem por dois golos, virou o jogo dentro do minuto 80 e deu, num ápice, a volta a um cenário que não era nada favorável.
E tudo o primeiro golo levou... O Vitória parecia confortável no jogo, mas o 1-2 deixou a turma de Guimarães abalada e desconcentrada. A partir daí deu-se um descalabro... E daqueles que custam a engolir.
Num jogo de emoções à flor da pele, Artur Soares Dias manteve o critério de início ao fim e manteve a ordem.