Não vamos debitar versos de Rui Veloso. Podíamos falar de uma cidade, de uma rivalidade, de um orgulho tripeiro de quem marca presença neste jogo, em campo ou na bancada. Tudo forte, tudo intenso, tudo apaixonante. Mas é sobre futebol, superioridades e sustos, classificações intactas e bancos que fazem a diferença, mesmo antes do apito inicial, que se tratam estas próximas linhas. O FC Porto passou no Bessa, num jogo que teve adversidades iniciais e finais para o líder do campeonato, mas que foi resolvido lá pelo meio. Com muito Fábio Vieira.
O português marcou, a passe de Evanilson, ganhou um penálti que o brasileiro desperdiçou e ainda o viu atirar uma bola ao poste. Já se percebeu quem foram os destaques do jogo e também assim se percebe que um foi mais decisivo do que outro na dupla do impreviso, mas que tem muito pouco de desconhecida.
Este foi um jogo onde os bancos tiveram de funcionar bem cedo. Javi García sentiu problemas a meio da primeira parte e deu vez a Nathan, numa altura em que Pepê já estava no chão depois de choque com adversário: também não recuperaria e foi Galeno para o campo. Estava fértil, sem dúvidas, mas a mais frutífera das mudanças tinha acontecido bem antes. Taremi acusou positivo à covid-19, Fábio Vieira foi recurso de emergência e rapidamente mostrou a Sérgio Conceição que continua a ser candidato ao onze.
Num posicionamento de 4x3x3, em que muitas vezes foi o homem do meio e Evanilson o da direita, seria pela esquerda, qual demonstração de dinamismo, que o brasileiro furaria para dar ao português o golo da vantagem, após 32 minutos de ascendência comedida.
Assim, podia estar reunido o contexto ideal para o Boavista. A equipa de Petit conseguia ter regra ao lançar os ataques, normalmente com bolas esticadas para Musa, impressionante a segurar e a dar para quem vinha a seguir - Sauer e Makouta melhor que os restantes. Porém, a capacidade de entrar na área portista era muito curta.
No Bessa, já é quase uma inevitabilidade: as primeiras partes da equipa costumam ser mais fracas e a reação vem nas segundas. Petit já foi questionado pelo zerozero sobre isso, não soube responder, mas certamente soube escolher as palavras ao intervalo. O que não quer dizer que os atos lhes tenham correspondido...
Sérgio Conceição também terá trabalhado a questão "perigo do resultado + perigo do desgaste" e ordenado uma subida de intensidade para resolver cedo. Podia ter acontecido, que Fábio Vieira ganhou um penálti a Abascal (ingénuo), só que aí já faltou Taremi... Evanilson até colocou bem, mas Bracali agigantou-se para manter a equipa viva no jogo na última meia hora.
Mesmo assim, era um FC Porto superior, já que Sauer ia perdendo frescura e discernimento e não havia quem desfocasse a equipa dessa referência para o contra-ataque e lhe desse outra luz. Do banco veio Gorré, que até dispôs de grande oportunidade numa bola parada, embora estivesse em posição irregular.
Quando Vitinha saiu, ainda com 0x1 no marcador, a equipa deixou de mandar no jogo. O Boavista cresceu e, naturalmente, o encolher do relógio desinibiu a equipa de Petit. Tinha de ir à procura de melhor, e foi. Sauer baixou para trinco, Gorré deu-se mais ao jogo e, ao ritmo da chuva miudinha que se começava a sentir, pareceu tudo mais incerto.
Custou. Custou mais do que a certa altura se podia pensar. Mas deu. O FC Porto vai para abril com mais seis pontos. A liderança permanece intocável.
Arbitragem com uma mancha clara: Mbemba devia ter sido expulso. Soares Dias foi alertado pelo VAR, foi ver e mandou seguir. Parece-nos ter sido um equívoco. No resto, bem. Aceita-se que não tenha dado segundo amarelo a Vitinha, apesar de este ter arriscado num lance ainda na primeira parte, e não há dúvidas no penálti. Muito bem na condução do jogo.
Grande jogo de Fábio Vieira, que foi chamado no começo do aquecimento para um jogo onde não contava ser titular. Os grandes jogadores também se veem assim e o português foi excelente na forma como se notabilizou no encontro. Decidiu-o, no fundo.
Petit mexeu tarde na equipa. No caso da saída de Seba Pérez, era algo que há muito se percebia, mas o técnico só o tirou quando este se estendeu no relvado. Claro que o Boavista cresceu quando o FC Porto baixou (saída de Vitinha explica isso), mas a equipa já mostrou ser capaz de melhor, mesmo em jogos grandes.