Tudo empatado no primeiro Clássico da época. Um Clássico energético, marcado pelos 12 cartões amarelos e um vermelho e definido pelo talento de Luis Díaz, que, quase sozinho, foi suficiente para empatar um jogo no qual o Sporting foi claro dominador.
Muitas vezes mal jogado, mas muito disputado, o Clássico entre Sporting e FC Porto parecia escrever-se em tons de verde e branco, mas do nada um lance de génio de Luis Díaz arrancou um empate (1x1) que jogadores como o colombiano e Diogo Costa tinham feito por merecer. Muito verde, muito amarelo, mas no final das contas quem ficou mais satisfeito... veste vermelho.
Sempre muito aguardados, raros são, pelo menos nos últimos anos, os Clássicos espetaculares do ponto de vista técnico e este jogo não foi exceção. O sinal começou logo a ser dado nos primeiros minutos e foi-se mantendo, umas vezes justamente, outras nem por isso.
Com o amarelo a ser um dos protagonistas da partida (só na primeira parte foram 7), a conversa do desgaste passou para segundo plano. Sem Pedro Gonçalves e Inácio, Amorim chamou Nuno Santos e Neto, mas as maiores surpresas até partiram de Sérgio Conceição, que não só chamou ao onze os sul-americanos, como também apostou em Corona, que ainda não tinha sido titular esta época, e relegou Toni Martínez para o banco de suplentes.
Nos primeiros minutos - do pouco que se jogou, porque o início teve algumas faltas e demasiados amarelos para tão pouco tempo de jogo -, o FC Porto até deu sinais de que conseguia criar perigo. A equipa de Sérgio Conceição rondava a área contrária de mais perto, mas sem criar situações de finalização. Aos poucos, a tendência mudou (não a dos cartões amarelos, claro, embora a frequência fosse forçosamente menor).
Com o meio-campo leonino a começar a ganhar bolas e Paulinho importante para canalizar jogo para os flancos, os alas leoninos começaram a ganhar mais importância e a deixar evidentes algumas das fragilidades dos azuis e brancos - Marcano foi quem mais sofreu perante a capacidade de Porro - e o Sporting começou a dominar o jogo a partir desse momento. Foi precisamente através de um passe de Porro que Nuno Santos se isolou para o desvio que acabou por dar o 1x0. Uma vantagem que levou a uma superioridade ainda maior por parte da equipa de Rúben Amorim.
Para além das dificuldades coletivas evidentes no FC Porto a partir dos 15 minutos, as individualidades não ajudaram. Corona falhou uma excelente oportunidade logo após o golo de Nuno Santos, num lance que podia ter mudado o jogo e deixar os dragões mais tranquilos. Tranquilidade que faltou aqui e ali às duas equipas, muitas vezes envolvidas em situações que em nada beneficiavam o espetáculo, com o árbitro a sentir dificuldades para controlar alguns jogadores nesses momentos.
Ainda assim, houve muita primeira parte para além do golo de Nuno Santos, que teve mais duas ocasiões claras para dilatar a vantagem, uma delas totalmente oferecida por Mbemba, mas aí esbarrou no único elemento do FC Porto que manteve sangue frio nos primeiros 45 minutos. Diogo Costa foi enorme ao travar o esquerdino e fundamental para o FC Porto levar uma desvantagem mínima para o primeiro tempo, tal a superioridade leonina a partir do golo.
Conceição nem esperou pelo intervalo para mexer - Sérgio Oliveira e Manafá foram os escolhidos -, mas as mudanças de pouco resultaram, até porque os últimos minutos trouxeram mais umas quezílias, mas sempre com o Sporting a ser superior quando a bola rodava pelo relvado de Alvalade.
Se na primeira parte destacamos a pouca produtividade individual dos jogadores do FC Porto numa noite em que o coletivo estava bem distante do que já mostrou, a segunda parte foi bem diferente nesse aspeto. Luis Díaz e Pepe foram os grandes responsáveis pelo resultado que os dragões roubaram em Alvalade.
Sempre superior, o Sporting foi desperdiçando contra-ataques que um FC Porto cada vez mais exposto ia permitindo, mas nem é caso para dizer que os dragões iam acreditando perante as chances desperdiçadas pela equipa de Rúben Amorim. Pelo menos não todos os dragões.
Enquanto a equipa continuava a realizar uma exibição cinzenta, Luis Díaz, num lance genial, fez o empate e gelou Alvalade, que vinha desfrutando de um jogo bem conseguido e da estreia de Sarabia, que havia entrado momentos antes. A Porro faltaram algumas pernas e ao colombiano, que há poucas horas estava a marcar ao serviço da Colômbia, sobrou talento para um empate que o FC Porto fez pouco para justificar, mas que Pepe fez tudo para manter.
O central português tirou dois golos cantados aos avançados leoninos, com Paulinho já a preparar-se para festejar depois de um excelente passe de Sarabia. Aos 38 anos, uma segunda parte (mais uma) para recordar. Do alto da sua experiência, o defesa gritava com os colegas, que iam expondo em demasia uma equipa que tentava, de forma pouco organizada, conseguir a reviravolta.
No final, jogou-se pouco, mas os amarelos que há muito prometiam uma expulsão continuaram a cair. Para Toni Martínez, que nem estava há muito tempo em jogo, caíram dois praticamente seguidos e a partir desse momento houve pouco ou nenhum futebol. No fim das contas, o talento de Luis Díaz (muito bem acompanhado por Diogo Costa e Pepe) foi suficiente para travar um Sporting dominador, que não matou o jogo e acabou por perder a oportunidade de ultrapassar os dragões na tabela.
Apitar Clássicos é sempre difícil e muitas vezes depende da forma como o árbitro principal procura gerir o jogo. Nuno Almeida começou por mostrar amarelos que dificilmente iam permitir uma gestão adequada da partida, acabando por não surpreender que uma das equipas tivesse ficado reduzida a 10, algo que até aconteceu mais tarde do que o esperado. Pepe e Porro, que até viram amarelo no mesmo lance, arriscaram demasiado.
O campeão em título teve alguns jogos menos conseguidos nos encontros contra o FC Porto na época passada, mas este ano assumiu a responsabilidade da partida e partiu para um jogo dominador quase do início ao fim. Faltou a finalização, mas a vontade de defender o título esteve lá.
Alguns dos problemas habituais. Nuno Almeida abusou do apito e do amarelo nos minutos inicias e os jogadores foram procurando esses momentos para motivar faltas e cartões para os adversários. Muitas vezes o espetáculo perdeu-se pelo meio e pouco a pouco acabou mesmo por desaparecer. Merecíamos melhor, até porque, como ficou demonstrado, há talento para tal.