Que diferença! Três dias depois da terrível eliminação europeia, o Benfica curou as feridas com uma goleada em Famalicão. Contra uma equipa cheia de caras novas, os encarnados mostraram um futebol mais pujante e empolgante, desta vez acompanhado com golos e, por consequência, por uma confiança crescente que fez com que tudo fluísse de outra forma. Muito longe está o fracasso europeu de ser apagado, mas melhor não podia pedir o adepto benfiquista para o começo do campeonato.
Com destaque para Waldschmidt, que se estreou com dois golos e muito futebol, a equipa de Jorge Jesus foi dominadora de todo o jogo e mostrou clara fome de golo. Foram cinco, mas podiam ter sido mais...
Era pouca a distância temporal, muita a distância geográfica e enorme a distância qualitativa que o Benfica queria ter em relação a Salónica. Podia não dar para tudo, mas que desse para ganhar seria, na ótica de Jorge Jesus, o melhor remédio para curar uma ferida ainda bastante exposta. Deixar a Champions sem chegar à fase de grupos foi um desastre, um enorme revés, embora muito longe de ser motivo para braços baixos. Até porque o campeonato estava a começar. O treinador percebeu que tinha de mexer: não o fez na defesa, onde ainda procura alinhar o quarteto, mas fê-lo à frente, onde nem Weigl, nem mesmo Pizzi escaparam.
Ora, foi mesmo assim, nessa nova parceria, que o golo apareceu. Antes, um e outro desperdiçaram bons lances, nos quais ficou visível a grande qualidade técnica de Waldschmidt, que depois a utilizou para picar com classe sobre o guarda-redes. Se os reforços se destacavam, Everton não quis ficar atrás e apanhou uma sobra para fazer o segundo, frente a um Famalicão facilmente desmontado na retaguarda (já lá vamos). Tudo com o forte patrocínio de dois laterais constantemente aptos a chegar à área, Grimaldo por dentro, Almeida por fora.
A tudo isto ia assistindo um Famalicão que, apesar de manter as premissas da época passada, com futebol apoiado e bem desenhado na construção e com forte sentido de ataque (ou contra-ataque, pois não dava para mais do que isso), mostrou dois problemas capitais: não conseguiu, no seu 4x3x3, criar surpresa e dúvida ao adversário; e demonstrou um claro decréscimo de qualidade individual, pelo que João Pedro Sousa vai ter muito trabalho pela frente.
O treinador do Famalicão avaliou os laterais como os principais pecadores. Pelo menos foi assim que se interpretou a dupla substituição ao intervalo. Só que o desnível já era muito grande no marcador e, se um golo para os famalicenses era vital o mais rápido possível, o que se viu foi precisamente o oposto. Sem muito esforço (pelo menos deu essa sensação), o Benfica alargou ainda mais a vantagem.
Rafa fez o quarto antes de dar vez a Pizzi, Waldschmidt fez o quinto para depois também ser um dos que puderam descansar. Jorge Jesus foi mudando peças, tal como o adversário, o Benfica continuou intenso e pressionante, com mais oportunidades criadas, mas com a atenuante a sair do outro lado - Guga, como na época passada, voltou a marcar à antiga equipa, embora com um simbolismo bem diferente.
Para já, há um Benfica a restabelecer-se. E novamente a prometer. Veremos a consistência.
Foram outras caras as que apareceram para atacar a baliza do Famalicão e houve diferença. Desde logo, o facto de Gabriel aparecer no meio-campo (convém lembrar que era a dupla que fazia com Taarabt a que surgiu na melhor fase da época passada, sem Weigl). E é isso mesmo que destacamos: com o brasileiro a acompanhar o marroquino, o Benfica ganha mais soluções no passe, sobretudo no longo, que permite muito mais rapidamente circular a bola e encontrar espaços.
Foi, de facto, uma noite para esquecer na defesa famalicense. Riccieli, o mais batido de um setor renovado, não conseguiu ser a garantia de segurança, até porque os homens do meio-campo também pareceram sempre curtos para fechar os espaços à dinâmica do Benfica. Conclusão? Ficaram os laterais e o guarda-redes como face mais visível de um desastre coletivo, que precisa rapidamente ser corrigido.