Para este Benfica não há Pochettino que aguente. A viagem à Madeira foi feita sob brasas, com Bruno Lage perto de dizer adeus, mas ninguém esperaria aquilo que aconteceu nos Barreiros. Um Marítimo completamente inofensivo, com dois contra-ataques, venceu o Benfica por 2x0 e ganhou um fôlego importantíssimo na luta pela manutenção. Já Bruno Lage, que estava ligado às máquinas, depois deste jogo pode mesmo dizer adeus (e alguns jogadores deviam assumir alguma responsabilidade).
Entrar bem, criar muito perigo, ameaçar um Marítimo completamente perdido e... desaparecer. O momento do Benfica está longe de ser bom, os jogadores estão sob brasas, o treinador está bem mais fora do que dentro, mas pouco pode explicar o que aconteceu na Madeira, até porque a entrada foi mesmo muito positiva e a equipa de José Gomes entregou-se completamente ao jogo. Nem foi uma entrega com uma solidez defensiva daquelas que aparecem nos livros. Não. Foram cinco homens na defesa, mais dois a ajudar e espaços abertos nas laterais à mercê de quem por lá aparecesse. Só que o Benfica está mesmo muito mal.
Os primeiros minutos, no entanto, não faziam prever o cenário que se verificou no final do encontro. Chiquinho, um dos regressados ao onze encarnado, entrou muito bem no jogo e só Amir impediu o golo do médio em duas ocasiões, ambas isolado, com duas manchas de enorme qualidade. Pizzi também esteve perto do golo, mas também perdeu o duelo com o guarda-redes iraniano. No entanto, a exibição de Chiquinho e a melhoria de Pizzi eram boas notas para Bruno Lage. Só que a vida não é apenas feita de boas notícias.
Sem oposição no momento de atacar a baliza de um Marítimo com sérios problemas a defender o seu lado esquerdo, o Benfica tinha meio-campo alugado para atacar, mas não sabia como o fazer, mesmo com as tais facilidades. Depois desses 20 minutos, o Benfica desapareceu. A passo, num verdadeiro ritmo de treino, a bola ia rolando, mas sem qualquer perigo, sem qualquer ideia, sem qualquer intenção. O Marítimo estava confortável com isso. A ideia nem era atacar, era só evitar que a bola beijasse as redes de Amir. Se foi bonito? Não. Se foi eficaz? Acabou por ser, mas muito mais por demérito encarnado do que por mérito insular.
Apesar da clara superioridade encarnada, a equipa de Bruno Lage voltou para o balneário com tantos golos como o adversário (se contarmos o golo fora de jogo de Rodrigo Pinho, apesar de claro, até podemos falar num 0,5 x 0) e isso deixava José Gomes com um sorriso de orelha a orelha. Afinal de contas, a intenção era essa. Quanto a Lage, apesar de parecer tão fácil marcar um golo a este Marítimo quase suicida nos seus posicionamentos defensivos, podia estar prestes a dar a última palestra a meio de um jogo como treinador do Benfica. E tanto haveria a dizer, certamente. É que um Benfica a nível médio tinha condições para vencer este Marítimo de forma confortável, mas conforto é uma palavra que há muito saiu do dicionário vermelho e branco.
Se a primeira parte começou bem e foi decaindo, a segunda parte nem teve aquele começo entusiasmante. Parecia que aqueles 20 minutos iniciais pertenciam a um Benfica do passado, um Benfica capaz de fazer alguma coisa de entusiasmante, nem que fosse por mero rasgo individual. Sem ver tal brilhantismo no relvado, Bruno Lage mexeu. E como tem acontecido, mexeu mal.
Seferovic juntou-se a Carlos Vinícius e Samaris saltou para o banco. O que até podia parecer uma boa notícia tendo em conta a péssima exibição do grego, acabou por ir dar ao mesmo. André Almeida até tentou oferecer um golo ao suíço com um cruzamento perfeito, daqueles só de encostar, mas Seferovic limitou-se a pentear e ficou a ver a bola percorrer a linha de fundo. Tão pouco Benfica para... nenhum Marítimo.
Não exageramos, acredite. Se viu o jogo sabe do que falamos, se não viu vai já ficar a perceber. O Marítimo tinha feito pouca coisa no ataque na primeira parte e tinha sido errático na defesa, mas na segunda parte a equipa de José Gomes decidiu mesmo abdicar do ataque, nem que fosse a contra-ataque. Ir para a baliza de Vlachodimos? Só se o Benfica deixasse.
E o Benfica deixou mesmo. A entrada de Zivkovic foi ainda pior do que a de Seferovic. O sérvio estava fresquinho, Nanú estava em campo há 74 minutos. Quem é que correu meio-campo com bola, em sprint e drible até à área oposta? O lateral do Marítimo. Foi uma arrancada impressionante, sem dúvidas, mas ainda mais impressionante foi o facilitismo encarnado. O Marítimo nem queria assim tanto, mas quando se abre uma autoestrada sem portagens quem é que quer viajar por uma nacional cheia de buracos? Ninguém. Correa aproveitou a arrancada do colega e as facilidades do Benfica e encostou para um incrível 1x0.
Pena duríssima para o Benfica? Talvez não, tendo em conta o péssimo aproveitamento da equipa (é mesmo uma equipa?) de Bruno Lage. Bem, se depois disto acha que a pena nem foi assim tão dura pode ficar já a saber que Rodrigo Pinho aproveitou mais uma arrancada de Nanú (e mais uma oferta benfiquista) para fazer o 2x0. O 3x0? Ainda apareceu com contributo de Vlachodimos, mas aí o VAR interviu e impediu um descalabro ainda maior. O que dizer depois disto? José Gomes, apesar da estratégia que montou, ganhou pontos importantes na luta pela manutenção e confirmou a descida de divisão do Desportivo das Aves, já Bruno Lage ter-se-á despedido de uma forma humilhante. Não há mesmo outra palavra. Aliás, não há palavras para este Benfica, tirando um provável «obrigado» por parte dos adeptos portistas.
Já na primeira parte tinha sido dos poucos a tentar fazer algo ofensivamente, no segundo tempo Nanú resguardou-se mais um pouco, mas estava só a ganhar forças para o que aí vinha. Duas arrancadas incríveis, com mérito, apesar dos erros encarnados e duas ofertas que podem ser decisivas para a manutenção.
O Marítimo esteve bem longe de ser irrepreensível, o Benfica entrou bem, não marcou e depois deixou-se morrer por culpa própria. A equipa de Bruno Lage está cada vez mais irreconhecível e esta tarde é incrível a forma como os encarnados não aproveitaram um Marítimo tão limitado ofensivamente e mal organizado defensivamente.