Eram já cinco pontos de vantagem, agora, à condição, são oito. O FC Porto resistiu aos ares gélidos de Trás-os-Montes e fez-se servir do predador do costume para lá do Marão: Soares, que já somava quatro golos nos últimos três jogos contra o Chaves, somou mais três à conta pessoal e fez cair um Chaves que chegou a fazer boa figura - bem melhor do que o lugar na tabela indica - mas voltou a cair em casa contra os portistas, à imagem das três receções anteriores para a Liga. No fim, um 1x4 esclarecedor.
Os termómetros rondavam os cinco graus, os gorros e luvas faziam parte do traje recomendado, e ao longo de um inesperado atraso no apito inicial por razões técnicas era obrigatório manter o corpo em movimento enquanto se aguardava o arranque. Trocavam-se bolas no relvado até que, alguns minutos depois da hora prevista, arrancou um jogo que começou dividido e até teve boas ameaças dos flavienses na etapa inicial.
Sem Maxi Pereira, já se sabia que seria necessário que Sérgio Conceição trouxesse uma novidade para a lateral-direita, e a linha defensiva começou como havia terminado a partida em Matosinhos: com Militão à direita, com Pepe e Felipe no centro e com Telles a juntar mais umas largas dezenas de minutos à conta da temporada.
Desde cedo se viu que Militão poderia bem ser o elemento mais atarefado, no duelo individual com um Luther Singh que não precisou de muito tempo para mostrar o acrescento de qualidade que dá à equipa de Tiago Fernandes. O brasileiro portista tentava impor-se, via-se forçado a recorrer à falta de quando em vez e por vezes o sul-africano lá conseguia escapar. Aos 13 minutos foi a partir da faixa central que atirou para defesa incompleta de Casillas, com Felipe a dar o corpo às balas para impedir que William fizesse a recarga.
Só de longe o FC Porto conseguia nesta fase apontar à baliza adversária, em particular por Corona, que nos movimentos para o interior se via forçado a rematar com o pé esquerdo e não levava a bola com a melhor direção. Lá na frente estavam Marega e Soares e a bola começou a chegar-lhes com mais frequência a partir dos 20 minutos: o maliano atirou para defesa de António Filipe, o brasileiro viu num pontapé de canto de Alex Telles que Marega desviou ao primeiro poste a solução para desbloquear o nulo.
O Chaves não se deixava abater. Via neste encontro uma ocasião para mostrar que não merece estar onde está na tabela classificativa, e se o estreante Costinha se mostrava algo apagado descaído para a direita, Luther Singh voltaria a deslumbrar aos 38', com um remate inesperado e potente que fez aparecer a mais brilhante versão de Iker Casillas.
Lá na frente, os avançados portistas agradeceram a inspiração do guardião e retribuíram com mais um golo. Óliver com mais um de vários passes de classe para Corona, entrega para Marega, entrega para Soares e bis do brasileiro, numa jogada com apatia da defesa flaviense mas, também, com movimentações eficazes dos portistas.
Confortável no resultado, o dragão ficou também mais confortável no jogo no arranque da segunda parte. Mesmo sem criar ocasiões claras, conseguia manter a bola controlada e só num livre Luther Singh voltou a ameaçar antes de chegar o terceiro golo portista... e o terceiro do mesmo homem.
O único hat-trick de Soares em Portugal tinha sido com a camisola do Nacional, mas o brasileiro quis igualar o feito vestido de azul-e-branco. Tal como no segundo golo, jogada bem construída pelos dragões, defesa flavienses com dificuldades a acompanhar e Corona a assistir Tiquinho para o 3x0 que acabava com as dúvidas.
Para o Chaves haveria, pelo menos, um Gallo de honra numa noite em que, embora bem derrotado, não foi envergonhado. Foi de grande penalidade, num lance entre Pepe e William que, no mínimo, suscita dúvidas, que Bruno Gallo converteu com calma perante Casillas e evitou que os flavienses fossem para casa a seco. O ligeiro alívio, porém, durou pouco: Nuno André Coelho foi ainda infeliz num corte e colocou na própria baliza, com o FC Porto a deixar Trás-os-Montes com três golos de vantagem e mais três pontos na bagagem. Tal como a primeira (contra este mesmo adversário), a segunda volta começou da melhor forma para o fortíssimo candidato a um bicampeonato.