Catar e Irão estão apenas separados pelo Golfo Pérsico. A distância entre Doha e Teerão, respetivamente capitais do Catar e do Irão, é de cerca de 2100 km. Apesar da proximidade, as diferenças que Helena Costa encontrou ao chegar ao Irão e à cidade próxima do Mar Cáspio, Teerão, onde vive e trabalha, são enormes.
«São duas realidades completamente diferentes, quer em relação ao que encontrei no futebol, quer à cultura. No Catar comecei um projeto do zero, criei seleções nacionais, campeonato nacional, competição escolar e até uma escola de futebol feminino a nível nacional, aqui encontrei uma grande aposta no futebol feminino, ao contrário do que se pensa e até do que esperava».
«Está totalmente desenvolvido, o país é enorme, e há ainda campeonatos de escalões jovens, Sub-19 e Sub-16, sendo este último feito em consonância com as escolas», explica a selecionadora nacional.
O facto de primeiro a federação do Catar e depois a do Irão terem acreditado na sua competência e qualidades, levam a que lhe perguntemos se tem alguma explicação sobre o facto de a Federação Portuguesa de Futebol, numa altura em que reformulou em larga medida o futebol feminino, não a ter escolhido para assumir algum tipo de função na estrutura.
Sem querer alimentar polémicas nem abrir as portas à especulação, Helena Costa responde de forma sintética: «Porque me haveriam de escolher? Estava e estou a cumprir contrato com outra federação», sublinha, não se alongando mais no tema.
Cultura igualmente diferente
Uma coisa leva à outra: cinco anos de desenvolvimento do futebol aumentam a permeabilidade da sociedade em relação ao futebol feminino e à própria prática da bola pelas mulheres. O cabelo tapado mantém-se, mas as diferenças são gigantes, diz Helena Costa.
«Até para andar na rua, e isso é uma imposição do Governo, tem que se cobrir o cabelo. Eu própria, enquanto estrangeira, e portanto elas, enquanto jogam também têm que o fazer. E não é só o cabelo, é cobrir o pescoço, braços e pernas».
Contudo, se no Catar, um projeto de base, foi até difícil recrutar jogadoras para a seleção nacional, no Irão tudo é mais fácil: «Aqui as pessoas apoiam o futebol feminino. Tenho até mulheres casadas na seleção A, miúdas muito novas também que fui agora convocando...»
Outra das coisas que a surpreendeu muito pela positiva prende-se com as estruturas e o nível económico dos clubes no futebol feminino. «No caso específico da Superliga todas as jogadoras têm um salário. O país é enorme e as deslocações são de avião e há suporte financeiro para isso, através de um patrocinador. Esta é uma enorme diferença, até mesmo ao nível de Portugal, que mesmo antes da crise tinha o futebol feminino como um sacrificado».
Histórias de uma portuguesa a viver no Irão
Apesar de estar no Irão há pouco tempo, Helena Costa diz que já se sente em casa, considerando a língua o principal problema da sua adaptação. Morena e de cabelos escuros, a nossa entrevistada chega, aliás, a ser considerada iraniana ou jordana, algo que lhe chegou a acontecer, também, enquanto viveu no Catar.
«Caótico em termos de trânsito é. Quase toda a gente tem um carro e são imensos habitantes, é uma confusão». Tanto que, se o Governo considerar que há muita poluição, «decreta dois dias de feriado colados ao fim de semana para que os carros não circulem», algo que já ocorreu à nossa entrevistada por «duas vezes».
Helena Costa sublinha, aliás, que o Irão é muito diferente da ideia generalizada que existe na Europa: «Não é árido, é muito verde, não é um deserto, é muito frio e tem neve. Teerão é uma cidade absolutamente normal, com prédios, com lojas, com centros comerciais, cinemas. Não tem nada a ver com o que a generalidade das pessoas acha. As pessoas são extremamente afáveis, fui muito bem recebida, continuo a ser, aliás», usando, como forma de comprovar isto mesmo, uma história que ocorreu passado pouco tempo de estar em Teerão.