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    Helena Costa em entrevista

    Histórias de uma portuguesa no Irão: «Aqui as pessoas apoiam o futebol feminino»

    2013/02/12 18:46
    E2

    Catar e Irão estão apenas separados pelo Golfo Pérsico. A distância entre Doha e Teerão, respetivamente capitais do Catar e do Irão, é de cerca de 2100 km. Apesar da proximidade, as diferenças que Helena Costa encontrou ao chegar ao Irão e à cidade próxima do Mar Cáspio, Teerão, onde vive e trabalha, são enormes.

    «São duas realidades completamente diferentes, quer em relação ao que encontrei no futebol, quer à cultura. No Catar comecei um projeto do zero, criei seleções nacionais, campeonato nacional, competição escolar e até uma escola de futebol feminino a nível nacional, aqui encontrei uma grande aposta no futebol feminino, ao contrário do que se pensa e até do que esperava».

    Seleção Sub-16 feminina do Irão ©Arquivo pessoal da treinadora
    Para compreendermos melhor o que nos diz a nossa entrevistada temos que eliminar da nossa mente todas as imagens e ideias pré-concebidas que temos do Irão. «Tinham já desenvolvida uma seleção de Sub-13, Sub-14, que são as primeiras seleções da Confederação Asiática de Futebol em termos de futebol feminino, Sub-16, Sub-19 e até seleção A».

    Jogo da Superliga Estelglal x Boosher ©Arquivo pessoal da treinadora
    O projeto encabeçado pela Federação Iraniana de Futebol que visa desenvolver o futebol feminino no país tem cerca de cinco anos. Apesar de curto foi um período rico e de grande crescimento, não só no que diz respeito às próprias seleções nacionais mas também em termos de competição interna, que possui três divisões de campeonato nacional, uma Superliga com 12 equipas, uma Segunda Liga com duas séries de dez equipas e uma Terceira Liga com três séries de oito equipas.

    «Está totalmente desenvolvido, o país é enorme, e há ainda campeonatos de escalões jovens, Sub-19 e Sub-16, sendo este último feito em consonância com as escolas», explica a selecionadora nacional.

    O facto de primeiro a federação do Catar e depois a do Irão terem acreditado na sua competência e qualidades, levam a que lhe perguntemos se tem alguma explicação sobre o facto de a Federação Portuguesa de Futebol, numa altura em que reformulou em larga medida o futebol feminino, não a ter escolhido para assumir algum tipo de função na estrutura.

    Sem querer alimentar polémicas nem abrir as portas à especulação, Helena Costa responde de forma sintética: «Porque me haveriam de escolher? Estava e estou a cumprir contrato com outra federação», sublinha, não se alongando mais no tema.

    Cultura igualmente diferente

    Uma coisa leva à outra: cinco anos de desenvolvimento do futebol aumentam a permeabilidade da sociedade em relação ao futebol feminino e à própria prática da bola pelas mulheres. O cabelo tapado mantém-se, mas as diferenças são gigantes, diz Helena Costa.

    «Até para andar na rua, e isso é uma imposição do Governo, tem que se cobrir o cabelo. Eu própria, enquanto estrangeira, e portanto elas, enquanto jogam também têm que o fazer. E não é só o cabelo, é cobrir o pescoço, braços e pernas».

    Contudo, se no Catar, um projeto de base, foi até difícil recrutar jogadoras para a seleção nacional, no Irão tudo é mais fácil: «Aqui as pessoas apoiam o futebol feminino. Tenho até mulheres casadas na seleção A, miúdas muito novas também que fui agora convocando...»

    A Academia onde Helena Costa trabalha diariamente ©Arquivo pessoal da treinadora
    Os exemplos são vários e provam a «aceitação por parte da cultura» de haver mulheres a jogar futebol mas, «sempre separadamente dos homens. No Catar era dificílimo ter mulheres em competições oficiais porque elas não podiam ser fotografadas ou filmadas, as famílias chegaram a pensar que elas não estavam em jogo, quando estavam. Aqui não. A Academia, que é utilizada pela seleção masculina [orientada por Carlos Queiroz], é a mesma usada por todas as seleções femininas, masculinas, de praia ou de futsal, chegando a haver treinos praticamente ao lado uns dos outros».

    Outra das coisas que a surpreendeu muito pela positiva prende-se com as estruturas e o nível económico dos clubes no futebol feminino. «No caso específico da Superliga todas as jogadoras têm um salário. O país é enorme e as deslocações são de avião e há suporte financeiro para isso, através de um patrocinador. Esta é uma enorme diferença, até mesmo ao nível de Portugal, que mesmo antes da crise tinha o futebol feminino como um sacrificado».

    Histórias de uma portuguesa a viver no Irão

    Apesar de estar no Irão há pouco tempo, Helena Costa diz que já se sente em casa, considerando a língua o principal problema da sua adaptação. Morena e de cabelos escuros, a nossa entrevistada chega, aliás, a ser considerada iraniana ou jordana, algo que lhe chegou a acontecer, também, enquanto viveu no Catar.

    ©Arquivo pessoal da treinadora
    «Quando eu já sabia dizer e perceber algo de árabe, chego aqui e fala-se o persa e ao contrário do Catar, as pessoas pouco falam inglês, inclusive as jogadoras, e por isso, quando não tenho alguém comigo que saiba traduzir, neste caso a minha manager, tenho que me desenrascar, seja numa ida às compras, a chamar um táxi... Lembro-me perfeitamente de ter conversas de malucos com algumas pessoas», recorda entre sorrisos, explicando situações que, numa cidade como Teerão, desde logo pela sua dimensão, não serão fáceis de viver.

    «Caótico em termos de trânsito é. Quase toda a gente tem um carro e são imensos habitantes, é uma confusão». Tanto que, se o Governo considerar que há muita poluição, «decreta dois dias de feriado colados ao fim de semana para que os carros não circulem», algo que já ocorreu à nossa entrevistada por «duas vezes».

    Helena Costa sublinha, aliás, que o Irão é muito diferente da ideia generalizada que existe na Europa: «Não é árido, é muito verde, não é um deserto, é muito frio e tem neve. Teerão é uma cidade absolutamente normal, com prédios, com lojas, com centros comerciais, cinemas. Não tem nada a ver com o que a generalidade das pessoas acha. As pessoas são extremamente afáveis, fui muito bem recebida, continuo a ser, aliás», usando, como forma de comprovar isto mesmo, uma história que ocorreu passado pouco tempo de estar em Teerão.

    Seleção A feminina do Irão ©Arquivo pessoal da treinadora
    «Um vizinho iraniano tocou à campainha e deixou uma caixa com o jantar. Eram 23h00. Explicaram-me entretanto que durante dez dias iam fazer isso porque era uma altura em que havia comemorações religiosas e em que era suposto fazer-se algo de diferente e bom. E o vizinho lá fez o jantar, para mim e todo o prédio, durante esses dias. Depois a minha manager explicou-me que nas ruas havia famílias inteiras a fazer isso a desconhecidos», conta.

    Veja o restante da entrevista de Helena Costa ao zerozero.pt.

    Portugal
    Helena Costa
    NomeHelena Margarida dos Santos e Costa
    Nascimento/Idade1978-04-15(46 anos)
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    FunçãoCoordenador de Scouting

    Fotografias(5)

    Comentários

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    motivo:
    KA
    ?
    2013-02-12 21h11m por katrina
    comentarios ridiculos. ha mulheres a praticar futebol melhor que homens. . mas em portugal os homens tem a mania q sao melhores em tudo lol. crescam
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