moumu 26-04-2024, 03:12
Faz hoje três anos que Miklos Féher caiu inanimado no estádio D. Afonso Henriques em Guimarães. Uma marca profunda que ainda não sarou, e sobre a qual os capitães Nuno Gomes e Simão Sabrosa falaram.
Depoimento de Nuno Gomes:
«Eu não estava presente porque estava lesionado e não tinha sido convocado para o jogo. Estava em casa a ver o jogo e foi uma agonia muito grande. Senti o mesmo que a maior parte dos portugueses que estavam a assistir ao jogo: não queria acreditar que aquilo estava a acontecer e queria que aquela imagem não fosse real. Queria tentar perceber o que se passou, mas quando vi o Miki a cair percebi logo que algo de grave estava a acontecer. Fiquei nervoso. Ali diante da televisão senti-me impotente para poder fazer alguma coisa. Foi muito triste. Foram momentos em que sofri muito, pois estava em frente à televisão, apetecia-me e queria fazer alguma coisa e não conseguia.
Entrei logo em contacto com pessoas do Benfica. Infelizmente veio a confirmar-se a morte e depois esperei pela equipa no estádio pois não podia ir para Guimarães. Ia falando muitas vezes com o Hélder, que na altura estava na equipa, com o Simão e com o próprio médico. Toda a gente chorava. Eu próprio chorava e não conseguíamos perceber o porquê. Aqueles momentos de espera no hospital foram agoniantes até se confirmar a morte do Fehér.
O mais difícil naquela altura foi termos de continuar o nosso dia-a-dia sem a presença do Miki, pelos motivos que foram. Continuar a viver sabendo que já não íamos mais ter o Miki por perto. Nos dias depois foram todas as questões que pairaram sobre nós. Se ele estava em condições de jogar futebol porque é que aquilo tinha acontecido? S aconteceu a ele pode acontecer a qualquer um de nós? Ficou ali aquele trauma de que podia acontecer a qualquer um. Aquela situação foi difícil de ultrapassar».
O sub-capitão do Benfica admite que a ferida jamais será sarada na totalidade:
«Esse trauma acho que vai viver connosco toda a vida porque continuas sem perceber muito bem o porquê daquilo ter acontecido. Mas, aconteceu ao Miki, como infelizmente também aconteceram a mais casos. Eu como católico quis acreditar que foi uma escolha de Deus.»
Depoimento de Simão Sabrosa:
«A alegria dele. O sorriso. Ele era introvertido, mas tinha as suas brincadeiras. Aquele sorriso é marcante e era o sorriso que ele tinha diariamente em algumas brincadeiras. Também me lembro da maneira como ele festejava os golos, mas aquele sorriso é marcante.
Nós como profissionais temos de fazer todos os exames possíveis e sempre os fizemos. Desde a minha chegada aqui ao Benfica, e até hoje, sempre foram feitos todos os exames possíveis e o Miki também os fez. Depois de ter acontecido aquilo continuámos a fazer os mesmos porque eram os mais importantes. Não houve alteração nenhuma.
Naquela altura lembrei-me que me poderia ter acontecido a mim, pelo facto de sermos da mesma idade e de termos a mesma profissão, mas esse medo vai passando. No início foi complicado. Tínhamos medo, mas depois tudo acaba por passar, mas não nos conseguimos esquecer do Fehér».
A exemplo do que já aconteceu nos anos anteriores, o Benfica vai mandar rezar uma missa pela alma de Fehér. A eucaristia deste terceiro aniversário da morte do jogador húngaro será celebrada às 18h00 na Igreja da Luz.