Jaime Pacheco: «FC Porto não vai perder o campeonato»

Jaime Pacheco, actual treinador dos chinenses do Beijing Guoan, foi o convidado desta quinta-feira no programa Pontapé de Saída, da RTPN, e falou das equipas da sua vida. O Sporting e o FC Porto, que representou como jogador, o Paços de Ferreira, onde começou a treinar, e o Boavista, onde se sagrou campeão nacional.

A entrevista começou naturalmente pelo dérbi de ontem, que terminou com nova vitória encarnada sobre os leões. Para Jaime Pacheco o resultado não foi surpreendente mas a atitude do Sporting merecia mais sorte, ainda que «não haja milagres no futebol».

«O Sporting, como o Benfica, fez um bom jogo. Teve uma grande atitude e, para quem passa o que está a passar, merecia um pouco mais sorte. O problema é que o Sporting não tem um plantel tão forte como o FC Porto e o Benfica. Eu já tinha dito aqui que o 4º lugar na liga era bom para o Sporting desta época. O Sporting está a fazer a pior série de toda a sua história. Não há milagres no futebol. Os bons jogadores fazem sempre a diferença, assim como as estruturas. O Sporting tem um bom plantel mas comparativamente com os outros grandes está muito abaixo. Isso nota-se no campo. Naturalmente, mudar de treinador, de presidente, de cenários, não ajuda nada», avaliou o ex-jogador leonino.

«Admiradíssimo e felicíssimo pela época do Paços, um clube-exemplo»

Sobre o Paços de Ferreira, clube onde Pacheco iniciou carreira e que hoje alcançou a final da Taça da Liga, palavras emocionadas. «Estou admiradíssimo e felicíssimo pela época do Paços. Eu próprio, no início da temporada, tinha dúvidas se iriam fazer uma boa ou má época. Quero felicitar o Rui Vitória que é o treinador sensação da temporada, não só pelos resultados mas pelo futebol que a equipa está a fazer. São muito equipa. O Paços tem realizado um trabalho excepcional», afirmou Jaime Pacheco, antes de acrescentar elogios a toda a estrutura pacense.

«O Paços é um exemplo. O clube dá muita estabilidade e trabalha muito para o sucesso. Deixa as pessoas trabalhar de forma tranquila, dá toda a confiança e apoio. Isso é fundamental. Se repararmos, quase todos os treinadores do Paços de Ferreira tem sucesso. Eu não diria que o Paços ia estar na final da Taça da Liga e atingir este 4º lugar no campeonato. Técnicos, jogadores, directores estão todos de parabéns. Foram eles que me deram a oportunidade de começar a carreira de treinador e tenho de lhes agradecer, e felicitar pelo percurso deste ano», salientou.

«Situação do Boavista deixa-me uma tristeza demasiado grande»

Quanto ao Boavista, que em Maio celebra dez anos após o título de campeão, motiva de Pacheco palavras saudosas. «Quem eu sirvo, sirvo sempre com a máxima lealdade. Posso dizer que treinei o Boavista de graça, com muito prazer e muito orgulho. Voltaria a fazê-lo. O Boavista foi mesmo campeão? Ouço falar tão pouco disso que pensei que tinha sonhado... Infelizmente esse título não foi valorizado o suficiente. Enquanto lá estive vi o clube com incapacidades e a conquistar um campeonato. Pude ir treinar o Sporting e estava tão bem no Boavista que rejeitei. Essa conquista foi uma felicidade enorme. Agora sinto uma tristeza demasiado grande porque, acima de tudo, o Boavista e os boavisteiros não mereciam esta situação», apontou.

«O que fizeram ao Boavista foi demasiado mau... As pessoas deviam ter mais honestidade, fizeram muito mal a um clube centenário e que fez muito pelo futebol português. Além das culpas próprias e das responsabilidades de quem lá estava é uma pena que não tenha havido apoios ao Boavista como houve a outros clubes. Para mim é um orgulho ter sido treinador do Boavista», acabou por comentar, já com a voz a falhar.

«Benfiquista até aos 20 anos» diz que FC Porto «não deve perder o título» desta época

Virando o discurso novamente para a actualidade, falou-se do FC Porto. Jaime Pacheco admitiu publicamente o que poucos sabiam - «até aos 20 anos fui benfiquista e, no primeiro ano no FC Porto, fiquei divido. Mas depois foram muitos anos no FC Porto e sempre a lutar contra o Benfica, que fiquei muito ligado aos dragões» -, e defendeu que a festa final deste ano deve ser pintada a azul e branco.

«Muito honestamente acho que o FC Porto está muito forte a todos os níveis e com uma estabilidade emocional muito grande. Pela forma como está a jogar não vai perder o campeonato. Mesmo no seu período menos bom, quando não jogou tão bem, foi ganhando. Portanto, já passou o «Cabo das Tormentas» que aparece a todas as equipas e está muito bem lançado para o título. Não me acredito que percam os jogos necessários para o Benfica recuperar da diferença pontual», analisou o antigo médio do FC Porto.

Treinador-atleta satisfeito com a «nova saga» chinesa não pensa regressar a Portugal a breve prazo

A «nova saga» na China, como o próprio Pacheco apelidou o seu momento actual, está a correr tão bem que o treinador não pensa regressar a Portugal a curto prazo. A forma como surgiu o convite é que foi, no mínimo, diferente.

«Estava a jogar futebol num torneio na Foz e a meio de um jogo ligaram-me a perguntar se queria trabalhar na China. Passados dois dias tinha o bilhete para viajar e conhecer a equipa, ver os DVDs, etc. Pedi três dias para pensar e decidi ir. Em boa hora. É mais uma saga», contou, entre risos.

«A verdade é que quando jogava no FC Porto fui convidado para jogar lá fora, na Holanda, em Itália, e nunca quis. Agora sou um bom emigrante. Em Portugal, para mim, tem havido sempre oportunidades de trabalho mas não são tão aliciantes como as propostas lá de fora. Trabalhar por trabalhar não quero, estou a gostar muito de trabalhar na China e estou motivado por lá. Tenho um intérprete a ajudar na comunicação e quando a mensagem não chega eu movimento-me, executo e os jogadores ficam a perceber. O futebol é fácil», concluiu, entre risadas, o técnico campeão pelo Boavista.