Pela voz todos facilmente o identificam, é radialista e actualmente locutor da RDP. António Macedo, um «histórico» confesso adepto leonino analisa, em entrevista exclusiva ao zerozero.pt, o Sporting 2010/11. O «senhor da rádio» confessa ter «expectativas baixíssimas» relativamente ao técnico Paulo Sérgio, não se «conforma» com as saídas de Moutinho e Veloso «a preço de saldo» e vaticina para os leões uma época «ainda mais desastrosa e desastrada» que a anterior. Importante, para António Macedo, é colocar um «travão ao desnorte que vai pela SAD» dos leões.
Este Sporting 2010/2011 fica marcado, desde logo, com a presença de um novo treinador. Que expectativas tem relativamente a Paulo Sérgio e à sua equipa?
Relativamente ao treinador Paulo Sérgio as minhas expectativas são, infelizmente, baixíssimas. Dele se diz, com razoável frequência, «ter táctica a mais e jogadores a menos», isto nas equipas por onde passou e, designadamente, no Paços de Ferreira e no Vitória de Guimarães. Qualquer que seja o ângulo pelo qual eu pegue na expressão, o meu desconforto é total. Um bom treinador nunca tem «táctica a mais», tem a táctica mais adequada aos jogadores de que dispõe, devendo concentrar-se em extrair deles o melhor de cada um, disfarçando, ao máximo, as respectivas insuficiências. Se ele, afinal, nunca conseguiu concretizar este tão simples objectivo nas equipas por onde passou – então, adeus minhas encomendas. Por outro lado, receio bem que em termos de «jogadores a menos» esse seja mesmo o caso do Sporting – e isto começa a responder à segunda parte da questão. Ou seja: a meu ver, as saídas do João Moutinho e do Miguel Veloso são irreparáveis também por aquilo que significam do princípio do fim da «prioridade à formação», do princípio do fim da «geração de Alcochete» e do princípio do fim de uma simbologia clubística de que a equipa de futebol do Sporting era distintiva e, mesmo, única na Liga Portuguesa. Portanto, as minhas expectativas quanto à equipa do meu clube são razoavelmente baixas. Penso mesmo que, caso não sejam tomadas medidas a tempo, a equipa do Sporting arrisca-se a nem sequer alcançar o último dos lugares ditos «europeus». Mas faço votos sinceros para que esteja redonda e rotundamente enganado!
Neste defeso o Sporting foi mais notícia pela saídas do que propriamente pelas entradas. Como viu as saídas de João Moutinho e de Miguel Veloso, de menor impacto, mas ainda assim simbólica para o clube?
Creio que a resposta já está dada. Não me conformo. E não me conformo também pelo facto dos passes dos jogadores terem sido vendidos a preço de saldo – no fundo, foram ambos escorraçados do Clube! – e ainda por cima a Clubes como o FC do Porto e o Génova. O FC do Porto por ser um dos nossos rivais; o Génova por ser uma equipa de reduzida expressão no futebol italiano e sem qualquer expressão europeia. Entendo que o Miguel Veloso tem valor para actuar em equipas mais poderosas e com outras ambições.
Torsiglieri, Maniche, Evaldo, Nuno André Coelho, Jaime Valdés ou Zapater? Qual o melhor reforço do Sporting?
O Maniche, apesar de tudo – da idade e da eventual falta de ambição. Do Nuno André Coelho existem as melhores referências (eu próprio fiquei impressionado com ele em dois ou três jogos que lhe vi fazer pelo Estrela da Amadora), mas o treinador parece não apostar nele para defesa central que é, claramente, a posição em que mais rende e na qual pode afirmar-se. Do Evaldo, ainda ele estava no Marítimo, dizia eu «à boca pequena» ser o melhor lateral-esquerdo do futebol português e continuo a pensar o mesmo, mas estou muito céptico quanto à possibilidade de o confirmar no Sporting. Pelo que vi a equipa jogar esta temporada, tenho muitas dúvidas quanto ao facto do treinador saber – de facto – quem é o Evaldo. Quanto aos outros – prefiro falar apenas na presença do meu advogado....
Na sua opinião, há algum sector ainda a necessitar de reforços?
Todos. E, ao contrário daquilo que tenho ouvido e tenho visto escrito, na baliza não é preciso mexer. Ainda na quarta-feira isto ficou provado no jogo dos sub-21, diante da Selecção da Lituânia. O Rui Patrício é um guarda-redes que dá todas as garantias. Mas, claro, como é da casa já lhe «andam a fazer a cama». Tal como está a acontecer com o Yannick. E como aconteceu com o Adrien, que foi emprestado quase clandestinamente para Israel.
A Liga Europa está a um play-off de distância, frente ao Brondby. Depois das duas vitórias sobre o Nordsjælland, na terceira pré-eliminatória, que expectativas tem para este Sporting na Europa?
As mesmas que tenho para as restantes competições: baixíssimas. Depois de ver o que a equipa jogou diante dos outros dinamarqueses (claramente mais fracos!), receio até o pior. Com todo o respeito, quando o João Pereira é o jogador de melhor rendimento da equipa do Sporting o que é que acham que eu posso esperar?...
A primeira jornada traz a visita do Sporting à Mata Real para defrontar o Paços de Ferreira, num terreno que coloca sempre dificuldades aos grandes e frente a uma equipa que fez uma pré-época interessante, culminando com a conquista de um troféu em Vigo. Na época passada, os leões empataram a zero, em Paços. Que expectativas tem para o arranque oficial do campeonato para os verdes e brancos?
Palpitei, de caras, a vitória do Sporting. Mas apenas porque é isso que eu quero que aconteça. Agora, acreditar verdadeiramente que isso vai acontecer, não acredito!
Acredita que o Sporting fará uma época mais «tranquila» que a passada, com menos «casos», melhor futebol e que lute pelo título?
Não, de modo nenhum. Tal como já disse acima, receio mesmo que a época seja ainda mais desastrosa e desastrada do que a anterior. A menos que se ponha um travão ao desnorte – para empregar um termo suave – que vai pela SAD.
Como analisa os três «adversários» (Benfica, Braga e Porto) dos leões na luta pelo título?
O Braga pode voltar a ser uma surpresa idêntica à da temporada passada – o que, afinal de contas, já não seria uma surpresa. O Benfica – se nos abstrairmos do «desastre» de Aveiro (e apesar da «qualidade» do guarda-redes) – está, a meu ver, ainda mais forte. Quanto ao FC do Porto, com um reforço do calibre do João Moutinho (que é muito capaz de ser um dos três ou quatro melhores «jogadores de equipa» à escala planetária – é inteiramente confiável no desempenho de qualquer tarefa, sacrifica-se e sofre e, ainda por cima, tem rasgos geniais) não me admiraria nada que viesse a conseguir superar tanto o Benfica como o Braga. Terá treinador para isso? A ver vamos!