Ricardo Quaresma mexeu numa «ferida» que há muito se discute entre a nação portista: a da cada vez menos presente mística, aquele sentimento tão próprio de algo que não se explica, mas se sente. É a pertença a um ideal, a valores e a uma história escrita por nomes individuais mas imortalizada pelo clube enquanto um todo.
O internacional português, ele mesmo um dos últimos bastiões da mística portista, não gosta do que vê quando observa o atual balneário. Confessou isso em entrevista ao Expresso, o desconforto pela ausência de símbolos que transportem o FC Porto ao peito, mas, e acima de tudo, o carreguem no coração.
Perante este desabafo, o zerozero.pt procurou quem ainda sentisse esse futebol de outros tempos, quando jogar por um clube era mais do que um ordenado ao fim do mês ou uma mola gigante de um trampolim para outras bandas. A conversa foi com Jorge Andrade, um rosto que não precisou de uma eternidade para se tornar um homem da casa.
Na conversa com o nosso portal, o antigo defesa central do FC Porto e da seleção portuguesa repetiu várias vezes um tópico: «valores humanos e culturais», tão presentes outrora e cada vez menos frequentes no futebol do novo século. «O futebol é um negócio e uma aldeia global que se sobrepõe aos valores culturais», diz, depois de confrontado com as declarações de Quaresma.
Por isso, repete Jorge Andrade, «é normal que as coisas aconteçam dessa maneira e acaba por se perder um pouco a identidade.» A identidade, sempre ela, cada vez menos própria, como quando o defesa passou pelas Antas, onde partilhou o clube com Vítor Baia, Jorge Costa, Aloísio ou Paulinho Santos, bandeiras quase tão azuis como a do próprio Porto.
«Cheguei a um clube e havia grandes campeões e todos os que chegavam queriam ser melhores do que eles para poderem jogar», recorda o antigo internacional português. «Só isso já era motivação extra», sublinha, antes de reforçar aquilo que mais destacou.
«Era uma equipa com valores humanos diferentes e quem conseguisse entrar nesse grupo sabia à partida que iria ter uma carreira promissora», atirou Jorge Andrade.