Entrevista a João Traquina
Um ressurgimento em Fafe que já deu em golo ao Benfica e elogios de Rui Costa
João é Traquina de nome, mas calmo e ponderado no uso das palavras. É o exemplo de que as expectativas criadas aos jovens nem sempre se confirmam. Formou-se e surgiu na Académica, ainda com passagem pelo Benfica, só que tombou para os escalões inferiores. Aos 26 anos, não olha para a idade e luta contra o tempo, na Covilhã, para chegar ao principal escalão português.
Só esta época está a jogar de forma consolidada na Segunda Liga. Na Covilhã, não é apenas escolha habitual. A seguir ao guarda-redes Taborda, é quem tem mais jogos e mais minutos no conjunto de Francisco Chaló: «Está a ser uma época de estreia bastante positiva, sinto-me bastante feliz e acredito que estou no clube certo».
Tenho plena convicção que posso ser um caso semelhante ao de Pedro Tiba ou de João Afonso
Num clube com «excelentes condições», só com nível «semelhante à Académica e ao Estoril» (dos que representou), o jogador vive dias bons. Chegou do Sertanense e percebe que «as diferenças de intensidade» se notam, mas não é isso entrave para a sua afirmação, que foi potenciada com a exibição e o golo frente ao Benfica, na Taça de Portugal (2x3), no qual Jonas marcou os três das águias.
| João Traquina 2014/2015
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24 Jogos 2036 Minutosver mais » «Sem dúvida que o golo ao Benfica foi o momento mais alto da minha carreira. Foi a primeira vez que joguei com um grande e que estive num jogo com aquela envolvência. Pois, faltou parar o Jonas [risos]. Mas também o facto de o Benfica ter outro tipo de intensidade e resistência fez com que o nosso cansaço acabasse por vir ao de cima na segunda parte», relembrou.
O resultado foi negativo, é um facto, mas João Traquina levou uma história para contar, daquelas que elevam o ego de qualquer jogador. O elogio.
«Mandaram-me à flash interview e, enquanto aguardava que o Jonas saísse, o Rui Costa dirigiu-se a mim e deu-me os parabéns pela exibição. Senti-me logicamente muito feliz. Não é um elogio comum. No futebol, lutamos por coisas assim», considerou.
Chaló tem contado com o extremo ©Vítor Parente
Desistir foi hipótese, mas deram-lhe a mão
Natural de Alcobaça, começou no clube da terra, chegou a estar nos iniciados do Benfica, rumou a Coimbra e, na Académica, fez a transição para sénior. Os empréstimos ao Tourizense eram vistos como preparação para o degrau seguinte, só que o empréstimo seguinte, ao Estoril, não foi sequencial no trajeto ascendente, por causa de uma «lesão de três meses», e o seu regresso ao terceiro escalão acabou por ser muito duro de lidar, na visão de um entre muitos jovens que vêem o sonho do futebol de alto nível ficar comprometido.
«Essa altura foi muito complicada. Fiquei bastante triste e a pensar que teria que procurar outras saídas, fazer outras coisas. Acomodei-me», disse, por entre alusões à questão psicológica, que não terá conseguido gerir da melhor forma. Esteve quase, mas não se perdeu.
«As coisas mudaram em Fafe, quando conheci o meu atual empresário. As coisas até nem correram muito bem nessa época, mas, em termos psicológicos, foi a viragem para mim, foi o clique. Fizeram-me ver que ainda era possível. O meu empresário deu-me a mão quando eu mais precisava, acreditou em mim e sempre me apoiou. Aliás, obrigou-me a não desistir [risos]», contou, sobre Nuno Correia, o representante.
O agradecimentos prolongam-se, posteriormente, a mais duas pessoas: «Agradeço ao presidente do Covilhã e ao mister Chaló por me terem dado a possibilidade de regressar aos campeonatos profissionais», juntou, pedindo mais atenção a casos como os que viveu.
«O CNS é fértil em casos como o meu, onde ficamos por não termos oportunidades nos clubes que nos formam. Existe muita qualidade nesse escalão. Exemplo maior é o Vitória de Guimarães, que tem uma equipa com muitos jogadores que recentemente jogavam no CNS».
Marcou o segundo ao SC Braga, no último jogo em casa
A propósito desse pormenor, existem os recentes casos de Pedro Tiba (que até já foi chamado à seleção) e de João Afonso, diretos do terceiro escalão para a ribalta. João Traquina, a ambicionar mais para a carreira, vê-se com condições para estar nesse alinhamento.
«Tenho plena convicção que posso ser um caso semelhante ao de Pedro Tiba ou de João Afonso. 26 anos? A idade não é entrave a nada, pelo menos não penso assim. Sei do que ou capaz e sei como me sinto. Tenho tanto para dar... Basta que apareça a oportunidade», afirmou.
Sonho negro e encarnado
O desejo é, ficou bem explícito, chegar à Primeira Liga. Sem restrições a qualquer clube, existem dois em especial que colhem um interesse particular do extremo, por razões afetivas.
«Sempre fui benfiquista, é o meu clube do coração. Por lá ter estado tantos anos na formação, aprendi a gostar e gosto da Académica da mesma forma. Gostaria de um dia poder representar um desses», terminou, sem complexos. |
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NomeJoão Miguel Traquina André Nascimento/Idade1988-08-29(35 anos) PosiçãoAvançado (Extremo Esquerdo) / Avançado (Extremo Direito) | |
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