A aposta é estrondosa! A Indian Super League demorou três anos a passar da mente de quem a concebeu para o papel e do papel para a prática. Finda a sua definição, está montada para um campeonato de dez semanas, com oito equipas (formadas para o efeito) e com direito a playoff e final.
Nada foi feito ao acaso. O campeonato local continua a existir, sendo que esta Indian Super League foi criada de raiz e vai para a sua primeira edição, numa espécie de torneio de elite do país. O investimento é enorme e são muitos os que estão envolvidos. Por exemplo, o site oficial da competição referencia a Premier League como parceira estratégica, o que diz muito sobre a atenção dada à prova.
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— Alessandro Del Piero (@delpieroale) 23 setembro 2014
Com o campeonato do mundo de sub-17 a realizar-se no país indiano, que tem mais de mil milhões de habitantes, mas poucos a praticar futebol, a criação da ISL é vista também como um estímulo para a modalidade, quer no que toca à visibilidade, quer na criação de melhores infraestruturas.
«A coisa mais importante será também o lado técnico, a criação de uma equipa competitiva que motivará as crianças e os jovens da Índia a querer jogar futebol», disse Kushal Das, secretário-geral da federação indiana, à BBC, acrescentando ainda palavras aos investidores e ao que podem esperar.
«Eles sabem que não podem lucrar nos próximos cinco anos, mas percebem que o potencial é tão grande que não se pode fazer balanço nenhum por agora, apenas concentrarem-se no desenvolvimento do desporto para, mais tarde, tirarem dividendos», acrescentou, antes de finalizar: «Acredito que o futebol na Índia é um gigante que vai finalmente acordar».
Estrelas
Mais que falar de investimento e apostas, exemplo claro da atenção mediática prende-se com os nomes que estão a pisar solo indiano para jogar futebol, isto para equipas que podem ter vários jogadores estrangeiros, mas também alguns locais, no sentido de conseguirem potenciar os locais.
Alguns chegam aí em fase terminal da carreira. Nomes como Alessandro Del Piero, Joan Capdevilla, Elano, David Trezeguet ou Anelka são exemplos de que a Índia parece ser um bom porto para encostar depois de carreiras repletas de êxitos.
Outros regressam à competição para darem rosto ao campeonato. São os casos do espanhol Luis Garcia, que tinha pendurado as botas no Pumas (México) no ano passado, de David James, que vai ser jogador/treinador, tal como Marco Materazzi. Além destes, existem também os casos de Robert Pirès e de Fredrik Ljungberg, que já não jogavam há três anos e que voltam ao ativo.
EXCLUSIVE: "Wenger encouraged me to come to India" - @piresrobert7. Full story here - https://t.co/J286OqhUpd #HeroISL pic.twitter.com/2NVIyu0lWC
— Indian Super League (@IndSuperLeague) 24 setembro 2014
E não convém deixar de falar de Michael Chopra. O inglês, de 30 anos, evidenciou-se ao serviço de clubes como Newcastle ou Sunderland e tem ascendência indiana, pela família paterna. É o rosto mais visível do futebol do país e vai, também ele, fazer parte do novo desafio, pelo Kerala Blasters.
«Quero fazer parte da criação deste legado futebolístico no país. A minha intenção por ir jogar para a Índia é ter um novo desafio e também demonstrar o meu apoio para a implementação deste desporto no país», disse, numa conferência em Manchester.
Legião portuguesa
No meio de tanta estrela, estão também vários jogadores portugueses. Os nomes mais conhecidos são os de Miguel García e também o de Edgar Marcelino, mas há mais, muitos mais, e não necessariamente em fim de carreira. Miguel Herlein, André Preto, Tiago Ribeiro são ainda muito jovens e estão à procura de um brilho para a sua carreira com começo na Índia.
«Esta vai ser a aventura da minha vida, vai-me testar ao limite. Estou aqui há uma semana e ainda não me consegui adaptar à humidade. Poder jogar contra jogadores como Del Piero ou Trezeguet... Vai ser uma experiência engraçada e de certeza que, quando chegar a Portugal vou dar muito mais valor ao que tenho», garantiu, numa declaração que suscitou interesse.
É que Bruno Pinheiro nem é propriamente um resistente à emigração. Já esteve no Chipre, na Polónia, em Israel e na Grécia. Afinal, que realidade encontra um jogador com tanto traquejo de viajante?
«É um impacto bastante grande. Tentei informar-me com pessoas que estiveram aqui anteriormente e informaram-me de algumas coisas, mas de facto assistir às coisas é diferente. Vê-se muita pobreza nas ruas, condições sanitárias bastante precárias, a água das torneiras ser um dos maiores perigos... Claro que eles têm a sua cultura, mas às vezes choca. E aqui veem-se muito os dois polos, pois quem é pobre, é realmente pobre, mas quem é rico, é muito rico. Estou aqui há uma semana, num hotel de cinco estrelas e com treinos bidiários. O conhecimento que tenho é só na deslocação entre hotel e centro de treinos, mas isso chegou para chocar. Apanhámos alguns dias de chuva e deu para ver pessoas a viverem em tendas nas ruas, em pântanos, com crianças e idosos a apanhar chuva... choca um bocado», revelou o defesa, de 27 anos.
Need we say more? pic.twitter.com/sfYiYf5OWQ
— Chennaiyin FC (@ChennaiyinFC) 23 setembro 2014
Acabado de chegar ao país, e ainda numa fase de adaptação, Bruno Pinheiro conta ao zerozero.pt o porquê de ter escolhido este desafio e garantiu que nem tudo são rosas.
«É óbvio que as condições financeiras que me foram propostas pesaram bastante. Mas não foi só isso. Acredito que isto vá ser o início de um projeto muito, muito grande. E fazer parte dele enquanto está na fase inicial pode dar-me condições futuras. Mas não é bem como já tenho visto. Por exemplo, o Diário de Notícias escreveu que quem quer ser milionário, que vá para a Índia, e não é bem assim. Há os mais renomados que, de facto, estarão a ganhar muito bem, mas, relativamente à maioria, não é isso tudo. Claro que compensa, por três meses, até porque em janeiro podemos ir para outro sítio, mas, no meu caso, não são três meses que me compensam por um ano. Estou aqui mesmo porque acho que isto pode ter continuidade e por poder ser um dos primeiros rostos», definiu.
E continuou, explicando o que tem visto: «Quando me apresentaram o projeto, vi que estava a ser feita uma aposta muito grande e já pude comprovar isso ao chegar aqui. Ao nível de publicicidade, de patrocínios, ao nível de mediatização, está a ser uma coisa abismal. Passa o spot do campeonato em todos os intervalos na televisão. Existem equipas franchisadas, como o Atlético de Kolkata (que pertence ao Atlético de Madrid) foram fazer a apresentação da equipa no Vicente Calderón, no intervalo do jogo contra o Celta de Vigo. Estão a trabalhar muito bem».
A substituição do críquete e jogar ao lado de estrelas
Bruno Pinheiro continuou a conversa à volta de revelações. O desporto que é rei naquele país estará a aborrecer os adeptos.
With my bro @younessb5 15 years after!! We started together! @FCGoaOfficial @IndSuperLeague We are ready 🐮 😜👍👌👏💪⚽️🔝 pic.twitter.com/ZuYTgR73jm
— gregory arnolin (@GregoryArn15) 23 setembro 2014
«Estão a juntar também várias personalidades famosas do país, como atores ou jogadores de Críquete. Inclusivamente, na minha equipa, um ator e um jogador de críquete são alguns dos donos do clube. Acredito que pessoas como essas, se estão dispostas a apostar tanto dinheiro neste projeto, é sinal de que existe credibilidade, ainda que isto seja numa fase inicial. A Índia é quase como um continente e há espaço para o futebol, porque, do que tenho falado com as pessoas aqui, os indianos estão a ficar um bocado fartos de críquete, por ser um jogo muito parado, ao passo que o futebol é mais dinâmico. Se derem esse espaço, acredito que daqui a 20 ou 30 anos existam grandes talentos de jogadores daqui», continuou, ele que vai poder estar na mesma equipa de Robert Pirès e jogar contra grandes nomes do futebol mundial.
«Nem acredito que vou jogar com estes jogadores e ainda nem acredito que sou treinado por alguém como o Zico. Chegaram a dizer-me que era um passo atrás ou um trambolhão na carreira, mas a verdade é que isto está a dar-me uma oportunidade única de trabalhar com figuras do futebol mundial», prosseguiu, antes de terminar com elogios ao técnico.
«O Zico tem uma experiência incrível, métodos de trabalho muito bons e uma mentalidade extremamente ganhadora, já pude comprovar isso. Para além de ser uma experiência a nível cultural muito interessante, acredito que possa ser também muito enriquecedor no panorama futebolístico», rematou.