Quatro anos de Paulo Bento
Os quatro anos de Paulo Bento
O cenário que começou a pairar no ar ainda durante o Campeonato do Mundo e que ganhou força após o regresso da comitiva portuguesa do Brasil tornou-se real esta quinta-feira. Paulo Bento deixou o cargo de selecionador nacional após a derrota com a Albânia em Aveiro, no início da fase de qualificação para o Campeonato da Europa de 2016.
| Paulo Bento Portugal Total
|
45 Jogos25 Vitórias11 Empates9 Derrotas86 Golos48 Golos sofridosver mais » O mau resultado diante dos albaneses aumentou e de que maneira a contestação a Paulo Bento, depois da prestação no Mundial ter ficado aquém das expectativas e da fase de apuramento para a prova que se disputou também não ter sido brilhante, pois Portugal precisou de recorrer mais uma vez ao play-off para estar presente na fase final de uma grande competição.
A Federação Portuguesa de Futebol e Paulo Bento chegaram a acordo para a renovação do contrato até 2016 ainda antes do Mundial, mostrando publicamente que ambas as partes remavam para o mesmo lado, mas a verdade é que o mesmo acabou por ser quebrado após a primeira jornada da fase de qualificação para o Europeu.
Assim, quase quatro anos depois de ter ingressado na estrutura federativa, Paulo Bento deixa o cargo de selecionador como o terceiro com mais jogos disputados (46), apenas ultrapassado por Luiz Felipe Scolari (74) e Carlos Queiroz (49), e aquele que teve maior percentagem de derrotas na seleção desde a década 90 (19,57 por cento).
Dois apuramentos para fases finais e um grande Europeu
Paulo Bento entrou na estrutura da Federação Portuguesa de Futebol em 2010. Contratado por Gilberto Madail, o agora ex-selecionador nacional foi o escolhido para substituir Agostinho Oliveira (que tinha ocupado o lugar de Carlos Queiroz após a suspensão aplicada a este) para colocar Portugal no trilho da qualificação para o Campeonato da Europa de 2012.
A derrota com a Albânia colocou um ponto final na ligação de Paulo Bento com a FPF ©Catarina Morais
A turma das quinas tinha arrancado mal a fase de qualificação, com um empate a quatro bolas com o Chipre e uma derrota diante da Noruega. Assim, o ex-treinador do Sporting estreou-se a 8 de outubro, na terceira jornada, com uma vitória por 3x1 sobre a Dinamarca e dias depois Portugal venceu na Islândia pelo mesmo resultado. A seleção portuguesa entrou nos eixos e conseguiu cinco vitórias consecutivas na fase de apuramento, tendo ainda pelo meio goleado a Espanha, campeã do mundo de então, por 4x0.
A primeira derrota surgiu na Dinamarca e Portugal perdeu a hipótese de se apurar diretamente para o Campeonato da Europa que se iria disputar na Polónia e Ucrânia. No play-off teve como adversário a Bósnia-Herzegovina e depois de um empate sem golos fora, Paulo Bento comandou a seleção a uma vitória por 6x2 no Estádio da Luz, garantindo o passaporte para o Euro 2012.
Foram momentos de festa vividos por Paulo Bento à frente da seleção e a sensação de dever cumprido após ter entrado num cenário complicado. Semanas depois, Portugal ficou a conhecer os adversários no Campeonato da Europa e calhou em sorte a Alemanha, Dinamarca e Holanda. A missão não se avizinhava fácil a turma das quinas até começou por perder com os germânicos, mas nos dois jogos seguintes apurou-se para os quartos-de-final, vencendo a Dinamarca e a Holanda.
Paulo Bento orientou Portugal num Europeu e num Mundial ©Catarina Morais
Nos quartos-de-final, Portugal eliminou a República Checa e só caiu nas meias-finais frente à Espanha após a marcação das grandes penalidades. Na verdade, a turma portuguesa deixou uma excelente imagem no Europeu e discutiu até à última a presença na final da competição, que viria a ser ganha pelos espanhóis que na final golearam a Itália.
Perante o sucesso conseguido no leste da Europa, pareciam estar reunidas as condições para Portugal realizar uma fase de qualificação tranquila para o Campeonato do Mundo. Mas tal não aconteceu e a contestação começou a fazer-se ouvir. A seleção lusa perdeu o primeiro lugar para a Rússia e teve que ir novamente ao play-off para conseguir o apuramento. Aí levou a melhor sobre a Suécia (1x0 em Lisboa e 2x3 na Suécia) mas foi também aí que ficou mais que evidente a dependência em relação a Cristiano Ronaldo, pois foi o capitão que apontou os quatro golos diante dos suecos.
Um mau Mundial e duas derrotas que traçaram o destino: Alemanha e Albânia
Portugal chegou ao Campeonato do Mundo com muitos jogadores a deixarem a desejar fisicamente e fora de forma. Prova disso é que nos primeiros dois jogos no Mundial, diante da Alemanha e dos Estados Unidos, as primeiras cinco substituições operadas por Paulo Bento foram devido a lesão. Fábio Coentrão até foi embora mais cedo após ter contraído uma lesão muscular diante da Alemanha e Cristiano Ronaldo, embora tenha atuado o tempo todo nos três jogos que Portugal realizou, estava claramente limitado.
Com Paulo Bento, Cristiano Ronaldo conseguiu exibir-se em grande nível pela seleção ©Catarina Morais
Aliada aos problemas físicos e à desconfiança que já vinha desde a fase de qualificação em relação à seleção, a derrota na jornada inaugural com a Alemanha foi fatal. No Euro 2012 Portugal também começou a prova a perder com os alemães mas o cenário foi bem diferente do do Brasil. Em solo brasileiro, os portugueses foram cilindrados por 4x0 e jogaram com menos um devido à expulsão de Pepe ainda na primeira parte, perdendo-o para a segunda partida com os Estados Unidos.
Diante dos norte-americanos registou-se um empate a dois golos, conseguido na última jogada do encontro depois dos portugueses terem estado a ganhar por 1x0 e permitido a reviravolta. O cenário era desolador e a confiança no apuramento para os quartos-de-final, aquele que era o objetivo mínimo, era quase nenhuma, pois era preciso ganhar por muitos golos ao Gana e ainda esperar pelo resultado do Alemanha x Estados Unidos. Portugal venceu os ganeses mas por 2x1, insuficiente para evitar o adeus prematuro.
A chegada a Portugal fez-se em clima de contestação e muitas vozes pediam a saída de Paulo Bento. A Federação Portuguesa de Futebol, assim como o selecionador, entendiam que estavam reunidas as condições para continuarem juntos, mas tudo terminou ao fim de pouco tempo, com a derrota frente à Albânia no último domingo.
Afastamentos, o regresso do melhor Ronaldo e 23 estreias
Foram 23 os jogadores que Paulo Bento estreou na seleção ©Catarina Morais
Durante os quatro anos de Paulo Bento houve três jogadores habitualmente chamados à seleção nacional que o deixaram de ser por indicação de Paulo Bento. Ricardo Carvalho, Bosingwa e Danny foram os visados e se os dois primeiros foram afastados por atos que o selecionador entendeu serem de indisciplina, o caso de Danny ainda hoje não está totalmente esclarecido.
Noutro ponto, regista-se também o regresso do melhor Cristiano Ronaldo ao serviço da seleção. Para se ter noção, durante os dois anos em que Carlos Queiroz esteve no cargo de selecionador nacional, o capitão de Portugal apontou apenas dois golos em 18 jogos. Já durante os quatro anos de Paulo Bento os números são bem diferentes e para melhor. Cristiano Ronaldo foi utilizado em 37 jogos e marcou 27 golos.
Ainda noutro plano, Paulo Bento estreou 23 novos jogadores na turma das quinas mas durante o tempo em que esteve à frente da seleção apenas dois conseguiram garantir o estatuto de titulares indiscutíveis: Rui Patrício e João Pereira. Além destes, foram chamados por si Paulo Machado, Rúben Micael, André Santos, Nélson Oliveira, Miguel Lopes, Custódio, Éder, Hélder Barbosa, Pizzi, Vieirinha, Luís Neto, Sereno, André Martins, Licá, André Almeida, Josué, William Carvalho, Rafa, Ivan Cavaleiro, André Gomes e Ricardo Horta.
|
| |
NomePaulo Jorge Gomes Bento Nascimento/Idade1969-06-20(54 anos) FunçãoTreinador | |
|