A Académica abriu as portas do seu centro de treinos, em Coimbra, ao zerozero.pt e deu a conhecer Ricardo, esse mesmo, o guarda-redes português que está constantemente pré-convocado por Paulo Bento mas nunca foi chamado em definitivo à seleção.
À conversa, entre balanços de carreira e sonhos para o futuro de um verdadeiro Doutor das balizas em cidade de estudantes, vieram "à baila" a Académica, a seleção, o Varzim e o Benfica. Ah, Ricardo não desvendou os segredos para se travar Ibrahimovic mas confessou estar confiante nas potencialidades de Rui Patrício.
«Confio que vamos estar no Mundial»
Dono e senhor das redes da Briosa nos últimos anos, o guardião - que nasceu na Póvoa de Varzim há 31 anos - está convicto de que a seleção nacional vai garantir a qualificação para o Mundial.
«Acredito sinceramente que Portugal vai estar no Mundial e acho que todos os portugueses devem acreditar. Os nossos jogadores já têm muita experiencia em playoff. Nestes momentos a nossa equipa costuma agigantar-se», analisou.
Pela frente, a equipa das quinas terá a Suécia de Ibrahimovic. Ricardo confia nas capacidades de Rui Patrício e explicou, nesta conversa com o zerozero.pt, o que sente um guarda-redes - nos dias que antecedem e mesmo durante o jogo - quando tem de travar um avançado como Zlatan Ibrahimovic.«O Rui Patrício não precisa de dicas. É o dono da baliza de um clube que luta por títulos e não é por acaso que é titular da nossa seleção, apesar da idade. Ele já está habituado e também acredito que as pessoas que trabalham na seleção o vão avisar nestes dias para os pontos fortes do Ibrahimovic. Depois, durante o jogo a adrenalina sobe mas a confiança também», destacou.
O dia em que o pai de Bruno Alves tirou Ricardo do ataque e o colocou na baliza
Se hoje Ricardo é um dos guarda-redes mais renomados da Liga portuguesa, a verdade é que o poveiro nem sempre esteve na baliza. No passado, Ricardo tinha como missão atacar as redes. Tinha... até ao dia em que Washington Alves, pai de Bruno Alves, teve outras ideias.
«Comecei como avançado mas foi, curiosamente, o pai do Bruno Alves que viu que eu tinha capacidades para ir à baliza e achava que eu podia ser um bom guarda-redes. Fiz a formação toda no Varzim, clube do qual muito me orgulho, mas nas camadas jovens nunca tive uma carreira regular», explicou, apontando o dedo ao seu pai que o colocava de castigo face às traquinices da idade.«Eu faltava à escola e o meu pai, como forma de me castigar, não me deixava ir aos treinos [risos]», recordou ao zerozero.pt, acrescentando: «Depois fui para o Fradelos, que era uma equipa onde alinhavam vários jogadores que não tinham lugar no Varzim. No fundo, também gostava de jogar na frente mas ainda bem que o Washington Alves se lembrou que eu podia ser guarda-redes.»
No retomar da história, na conversa com o zerozero.pt vieram à rede os tempos vividos no Varzim e, pois claro, uma célebre noite em que o Benfica "bateu com as canastras na água" da Póvoa... numa exibição de luxo de Ricardo.
«A conquista da Taça de Portugal pela Académica foi, até agora, o ponto alto da minha carreira. Mas já tive outros momentos. Lembro-me de um jogo contra o Benfica, na Póvoa de Varzim, onde conseguimos travar uma equipa que tinha Simão Sabrosa, Rui Costa, Mantorras, e outro grandes jogadores», recordou: «Mas antes ainda me lembro de um jogo em que marquei um golo de baliza a baliza ao Palatsi, quando jogava no Varzim. Esse foi o primeiro grande momento da minha carreira. Ainda era jovem e estava a aparecer», lembrou, não esquecendo a subida de divisão pela União de Leiria, a defesa de cinco grandes penalidades frente ao Sporting da Covilhã para a Taça da Liga, além da participação na Liga Europa.
Briosa quer chegar longe na Taça de Portugal
Após mais uma ronda da Taça de Portugal onde foi decisivo ao travar duas grandes penalidades, Ricardo explicou que a ambição da Briosa passa por pensar «eliminatória a eliminatória».
«A nossa ambição passa por pensar eliminatória a eliminatória. Na Taça de Portugal sabemos que nem sempre é fácil pois é um jogo onde todos querem dar tudo», assumiu, recordando que o facto de Sporting e Vitória de Guimarães já não estarem na prova acaba por «ser positivo», mas... «no nosso percurso creio que vamos ter de apanhar um candidato a vencer a Taça de Portugal mas devemos pensar jogo a jogo.»
No campeonato, e numa altura em que a Académica soma oito pontos, Ricardo diz que a «manutenção» é «o objetivo» mas tudo pode acontecer.
«Os objetivos da Académica passam pela manutenção. A época não começou como estava previsto mas acho que agora a equipa está no bom caminho», afirmou, destacando que a vitória em Braga permite ao conjunto de Sérgio Conceição perceber que «tem qualidade».Se no campo Ricardo faz das defesas a sua "arma", na conversa com o zerozero.pt o guardião não deixou de projetar um "ataque" ambicioso mas sempre com cautelas.
«Claro que gostaríamos de ir à Liga Europa mas ainda é cedo. Temos que pensar jogo a jogo, sobretudo numa equipa que todos os anos luta pela manutenção. É preciso dar um passo de cada vez. Se a manutenção for alcançada rapidamente creio que, logicamente, depois podemos pensar noutras metas», salientou.
Académica merecia mais gente no estádio e deve pensar em grande
Em Coimbra desde a temporada 2007/2008, Ricardo considera a Académica um clube «especial» mas não nega que a Briosa «merece e deve pensar em grande face à mística e às infraestruturas que o clube tem à sua disposição».
«Já estou aqui há muitos anos. A Académica é um clube especial pelo facto de ter uma cidade que tem o seu simbolismo para Portugal, apesar de não estar tão próxima do clube como todos gostaríamos. Em termos de infraestruturas, parece-me que tirando os três grandes é a Académica que tem melhores condições de trabalho e, por isso, devemos pensar sempre em grande. Agora, claro, entendo que a nível financeiro isto não está fácil para ninguém. O nosso orçamento não é dos mais altos mas a vontade e o querer são sempre elevados», referiu na entrevista ao zerozero.pt.
«Sinto um orgulho enorme na minha carreira. Apesar de não ter muitos títulos, tudo o que consegui deveu-se ao meu trabalho e ao meu esforço. Nunca dei um passo maior que a perna. Quando tive que dar um atrás para dar dois à frente também o fiz», afirmou, lembrando a passagem pela União de Leiria por empréstimo da Académica.
«Tive momentos em que joguei mais, outros em que joguei menos mas, no fundo, futebol é isso. Hoje estou pronto para tudo. Devo muito à Académica», observou.
O guardião entende não saber ainda o que lhe reserva o futuro mas assume que estar no emblema de Coimbra «é especial».«Acabo contrato com a Académica e gostava de ficar mais tempo por cá. Sinto-me bem, sinto-me em casa. Logicamente, espero continuar a ser regular e tentar ajudar o meu clube», referiu, não escondendo que pode chegar a outros patamares. «O futuro a Deus pertence. Vamos ver o que vai acontecer. Estou mais maduro, competente e na plenitude das minhas capacidades físicas e mentais mas não posso negar que o aspeto financeiro também conta. Se existirem propostas sedutoras, logicamente, tenho de analisar. Mas primeiro quero corresponder dentro de campo. Mas vamos ver. Ainda tenho alguns sonhos», afirmou no fim da entrevista. Obrigado e felicidade para o futuro, Ricardo!