Fábio Faria foi obrigado a deixar o futebol em 2012, devido a problemas cardíacos, para salvar a sua vida. Hoje com 24 anos, o central que começou a médio esquerdo e somou passagens por FC Porto, Rio Ave, Benfica, Valladolid e Paços de Ferreira contou ao Record como tem experienciado esta mudança de rumo.
Numa extensa entrevista concedida ao referido jornal, o antigo defesa confessa sentimentos e mágoas, mas deixa também agradecimentos a todos que o têm ajudado a suportar o afastamento dos relvados. No entanto, é a descrição, na primeira pessoa, dos acontecimentos de 4 de fevereiro de 2012, dos instantes finais do Moreirense x Rio Ave referente à Taça da Liga, que constitui a base da conversa.«Foi o pior dia da minha vida. Fazia o primeiro jogo pelo Rio Ave, depois de vir do Paços de Ferreira no último dia do mercado de inverno. Lembro-me que a 1.ª parte foi espetacular e na 2.ª também corria tudo bem. A dois minutos do fim, fiz uma falta sobre o avançado do Moreirense, o Cícero (…) e ao levantar-me comecei a ver tudo nublado, tudo branco», começou por recordar Fábio Faria.
Depois de levado para o balneário, apoiado, devido à falta de forças, Fábio caiu mesmo, mas «todos pensavam tratar-se de uma quebra de tensão»... até que os sintomas se agravaram e foi necessário chamar o INEM.
«Comecei a ficar em pânico. Não me conseguia mexer e estava a ficar com muito sono. Lembro-me que os médicos me estavam sempre a dizer para não adormecer [mas] perdi mesmo os sentidos. Só me lembro de acordar com o desfibrilhador», relatou.
Entretanto, após uns dias de internamento no hospital, Fábio recebeu a pior notícia que poderia ouvir. «O médico disse-me que em princípio teria de deixar de jogar. Fiquei destroçado».Mesmo assim, o futebolista não quis «desistir do sonho» e agarrou-se à esperança. Após largas avaliações e um sem número de exames, Fábio Faria teve autorização para treinar sob vigilância. Fê-lo, até um dia em que, correndo com o pai ao lado, voltou a ir ao chão e só acordou «com um soco no coração». «Foi aí que decidi e disse logo: 'Vou deixar o futebol. Não quero arriscar mais a minha vida. Não quero 'ficar' em campo'», contou o defesa nesta entrevista ao Record.
«[O mais difícil] foi aceitar que teria de deixar de jogar futebol. Tinha o objetivo de representar um grande. Consegui entrar no Benfica aos 20 anos e tinha o sonho de chegar à seleção A. Sonhava jogar em grandes clubes... Foi muito doloroso ver, de um momento para o outro, a vida andar para trás», admitiu Fábio, que aproveitou a ocasião para agradecer a todos os que têm contribuído para lhe amenizar a dor.
«O Benfica esteve sempre do meu lado. O presidente tem sido excecional. Continua a pagar-me o salário até final do meu contrato, julho de 2015. Tem cumprido sem falhas. (…) No dia do meu aniversário recebi uma carta registada do presidente do Benfica; desejava-me os parabéns e as melhoras. Escreveu que eu não deveria baixar os braços e que estaria disponível para me ajudar se precisasse de alguma coisa. Mexeu muito comigo. (…) Na altura da minha despedida, disse-me [também] que se eu quisesse trabalhar no clube poderia apresentar-me no dia seguinte. Foi muito importante ouvir estas palavras», vincou o ex-atleta, quando questionado quanto ao tratamento dado por Luís Filipe Vieira na altura da sua despedida do futebol.Além do presidente do Benfica, também os líderes do «Rio Ave, do Paços de Ferreira e do Sindicato de Jogadores» têm sido «grandes apoios» para o agora ex-futebolista, confessa o próprio.