Cerca de seis anos e meio depois, o leme do Al-Ahly vai voltar a ser dirigido por um timoneiro português. Ao longo das últimas semanas, o desejo de ter um treinador luso pareceu ser forte e acabou por materializar-se em Ricardo Soares.
O técnico de 47 anos saiu de Portugal com um grande crédito, em grande parte construído ao serviço do Gil Vicente, que culminou num histórico quinto lugar na Liga Portugal bwin. Agora segue-se aquele que será, muito provavelmente, o maior desafio da sua carreira, ou não estivéssemos a falar do maior clube do continente africano.
Ricardo Soares 2 títulos oficiais |
Para perceber melhor o que levou o Al-Ahly a apostar em Ricardo Soares e os desafios que o esperam, o zerozero falou com Ahmed Sayed, jornalista egípcio do portal El-Ahly.com (o nome diz tudo), que nos explicou a decisão, que teve dedo português.
Esta história começa a 30 de maio, dia em que o Al-Ahly perdeu a African Champions League para o WAC, derrota que levou Pitso Mosimane a solicitar a saída do comando técnico, apesar de ter mais dois anos de contrato. Então, o gigante egípcio decidiu traçar um perfil de treinador, com os olhos postos no futuro, que fez com que a busca recaísse em Portugal.
zerozero (ZZ): Rui Vitória foi o primeiro a ser apontado, depois Paulo Sousa. Porquê um treinador português e porquê estes nomes?
Ahmed Sayed (AS): O Al-Ahly começou a procura por um treinador de futuro, capaz de desenvolver a performance, qualidade técnica e física dos jogadores, mas que também soubesse lidar com eles psicologicamente. Isso foi encontrado em alguns técnicos portugueses e talvez a passagem lendária do Manuel José tenha inclinado a escolha para aí. (...) Rui Vitória foi opção, mas as exigências financeiras fizeram cair o negócio. No caso do Paulo Sousa, foram os poucos troféus conquistados que pesaram.
ZZ: De facto, em Portugal, quando falamos do Al-Ahly, automaticamente, pensamos em Manuel José. Que importância é que ele teve na história do clube?
AS: Manuel José significa muito para o Al-Ahly e para os seus adeptos. É o melhor treinador que alguma vez liderou a equipa. Foi o criador de uma nova história no clube e mudou muitas coisas, desde aspetos técnicos de jogo à mentalidade dos jogadores, adeptos e Direção, sempre em busca de mais vitórias e títulos. Agora, devido à idade, já é difícil ele poder treinar, mas ainda ajuda em alguns assuntos, o último deles, muito recentemente.
AS: Após ter sido elaborada uma lista final de potenciais treinadores do Al-Ahly, o Manuel José foi contactado no sentido de dar a sua opinião sobre os técnicos portugueses. O Ricardo Soares foi um dos nomes apresentados e ele deu o seu aval. (...) O Manuel José confirmou aos dirigentes do Al-Ahly que o Ricardo Soares era o melhor e mais qualificado para assumir a equipa, justificando com a qualidade técnica que o Gil Vicente apresentou na Liga Portuguesa, algo que lhe valeu dois prémios de treinador do mês.
ZZ: Ricardo Soares saiu do Gil Vicente, um clube médio de Portugal, para o Al-Ahly, o clube mais titulado do Egipto e de África. Como é que esta escolha está a ser vista pelos adeptos e imprensa egípcia?
AS: Há opiniões divergentes. Alguns acreditam que ele vai materializar o projeto que o Al-Ahly idealizou e que vai ser semelhante a René Weiler, um treinador suíço que causou grande indignação devido ao currículo pobre que trazia, mas que ao fim de pouco tempo tinha os adeptos a pedir a sua continuidade. Outros olham para o seu currículo fraco, talvez o mais fraco da história dos treinadores do clube, e acham que não vai aguentar a pressão que vai encontrar no Al-Ahly. No final de contas, a maioria das opiniões acha que é necessário dar-lhe tempo e apoio, antes de o julgar.
Depois de Manuel José, Toni, Nelo Vingada e José Peseiro, Ricardo Soares tornou-se no quinto timoneiro português da história do Al-Ahly. Ao contrário do que é ideal para a maioria dos treinadores, o técnico de 47 anos não vai ter muito tempo para implementar as suas ideias e tem já grandes desafios no horizonte.
Neste momento, o conjunto do Cairo segue no terceiro lugar da Premier League, com menos três jogos e sete pontos que o líder Zamalek SC, orientado por Jesualdo Ferreira. Além do Campeonato, o Al-Ahly pode igualmente conquistar duas Taças do Egipto: está nas meias-finais da edição de 2020/21 (adiada por causa da COVID-19) e nos oitavos de final de 2021/22.
ZZ: O sucesso do Ricardo Soares nestas competições pode ditar o seu futuro próximo no Al-Ahly?
AS: Claro, isso é 100% verdade. Se o Ricardo Soares conseguir levar o Al-Ahly à conquista desses dois títulos, vai ganhar a confiança e o amor dos adeptos e vai ser uma grande motivação para abordar a próxima época.
ZZ: Olhando para a equipa, para as expetativas e para o contexto, o que podemos esperar deste novo Al-Ahly?
AS: O Al-Ahly é sempre candidato a vencer qualquer competição em que participa, sob o comando de qualquer treinador. As expetativas são de que o Al-Ahly seja o herói. Do Ricardo Soares é esperado um grande trabalho, a nível técnico e físico. Se ele resolver a equação, perceber como jogar no Campeonato e como defrontar as equipas egípcias, as coisas não vão ser difíceis para ele e vai ter um grande sucesso no clube.