Jovens Talentos com... Wesley Reinaldo

Wesley Reinaldo Santos de França. Sem vírgula, porque este é um Jovem Talento brasileiro que vai dando nas vistas no nosso campeonato, ao serviço do Leões, por empréstimo dos leões. Parece confuso, mas na verdade é bem simples: o Sporting viu o potencial do ‘miúdo’, e trouxe-o para Portugal, para terminar a formação em Alvalade, em 2018/2019.

De lá para cá, o atleta tem evoluído ao serviço da formação de Porto Salvo, «não só como jogador mas como pessoa», e mostra-se tranquilo ao longo de toda a entrevista, o tipo de tranquilidade que demonstram aqueles que estão convictos do seu caminho. E o de Wesley é no futsal.

De trás para a frente, este caso não tem nada de estranho

Pelo contrário, este era o destino de Wesley. Pelo menos, o que ele traçou para si próprio.

Hoje, olhamos para Wesley e vemos um dos jogadores de destaque da Liga Placard 2020/2021, e o desempenho do jovem jogador não aconteceu por acaso.

©Zé Paulo Silva

Wesley é oriundo da região de São Paulo, e tem uma história tantas vezes contada pela voz de outros atletas, desta feita no futsal. Wesley não escolheu propriamente. Foi como que ao contrário, com a intervenção do pai.

O nosso entrevistado começou a jogar futsal em 2007, tinha 7 anos. «Na verdade, foi o meu pai que me levou para jogar. Para fazer essas equipas de bairro, sabe? E era futsal», começa por contar-nos Wesley. A vida foi-se desenrolando, como a de qualquer criança, que só pensa no que quer ser quando for grande quando algum adulto lhe pergunta. «Fiquei jogando, jogando, jogando… nunca pensei assim em jogar futebol. Nunca pedi para o meu pai me levar para fazer testes no futebol. Tive uma paixão pelo futsal que nem eu sei [risos] mas gostei muito de ter continuado no futsal e não me arrependo, não.»

Descoberta a sua paixão, chegou o dia em que Wesley percebeu que o futsal poderia ser a sua carreira, e o passo seguinte foi chegar a um clube de referência no Brasil, o Corinthians. «Desde os meus 14 anos que eu sempre pensei em fazer vida do futsal. Acho que nunca fui só por diversão. Eu sempre tive o objetivo, e graças a Deus estou seguindo isso até hoje.»

Foi quando jogava pela Associação Banco do Brasil que Wesley decidiu que o futsal era o presente e o futuro, e, em 2016, «rolou o convite para ir para Corinthians, e fiquei lá 3 anos», de onde sairia rumo à Europa, mais concretamente ao Sporting Clube de Portugal.

Atravessar o Atlântico à procura de um sonho

E como surgiu esse convite do Sporting? «Bom, acho eu – eu não sei bem porque foi pelo lado dos empresários – que foi depois das Olimpíadas na Argentina [Jogos Olímpicos da Juventude].»

Também não era muito importante saber o como. O importante é que a oportunidade tinha surgido. «Eu nem pensei duas vezes! [risos] Era o Sporting, não é? Hoje em dia quase ninguém recusa o Sporting!»

O clube já era familiar, Wesley já ia acompanhando o nosso futsal. Mas entre ver, literalmente à distância, e jogar – e vingar – há uma fase de adaptação que não foi tão curta assim. A língua ajudou, e suavizou a troca, «por ser um país em que a gente se entende». Mas, para alguém tão jovem, sair do seio familiar e rumar ao outro lado do Atlântico exigiu coragem, e muito querer. «Assim que eu cheguei eu fiquei na casa do Deo um mês», conta-nos o atleta, explicando que «eu era – era não, ainda sou – muito apegado à minha família. Saí jovem também, e eu acho que a dificuldade maior é a distância.»

A vinda, sozinho, foi desafiante, e Wesley precisou de tempo para se sentir mais em casa. «Acho que no começo eu estava meio que preso, ainda. Eu não estava adaptado, mas acho que nas partes finais dos sub20 do Sporting já estava me acostumando. E quando vim para os Leões foi aí que fiquei mais solto, comecei a me adaptar melhor, comecei a jogar melhor, comecei a ter mais confiança, e está dando resultado.»

E não foi só a mudança de país que um desafio. Há que fatorizar que o futsal praticado nos dois países é diferente, e Wesley sentiu isso na pele. «Tem muita diferença. A intensidade daqui é muito diferente da do Brasil. Aqui é mais intenso.»

É ala, é fixo, é Falcão, é Merlim… e João Matos

Wesley esteve algumas vezes no 5 da jornada do zerozero, como o melhor fixo. Ele que, inicialmente, até jogava na ala. Como foi esta transição? «Para mim é natural. Eu nunca fui aquele ala mesmo escritor, sabe? Eu era mais um ala de contenção, de passe. Quando eu jogava no Brasil também jogava muitas vezes a fixo. A gente rodava e eu tinha que jogar de fixo. E eu sempre me adaptei, desde pequeno, e não vi problema quando me colocaram de fixo.»

©Sporting CP

Wesley quer é jogar, e ajudar o clube que representa, tendo como exemplos máximos nomes que dispensam apresentações. «Quando eu era mais novo, quando eu jogava no Brasil, meu ídolo era o Falcão, como o de todos [risos]. Mas depois, agora que eu vim para a Europa, o meu ídolo mesmo é o [Alex] Merlim. E o [João] Matos também. Como estou jogando muito de fixo, procuro seguir as coisas que ele faz, analisar bem.»

Jogar ao lado dos dois leões é um objetivo do jovem Wesley. O atleta esteve emprestado pelo Sporting ao Leões de Porto Salvo nas últimas duas épocas, e é em Oeiras que deverá continuar, na próxima época. Mas, olhando para o futuro – exercício que Wesley nem é grande fã – o caminho ideal seria este: «o meu objetivo agora é os Leões, e se Deus quiser voltar para o Sporting, e o resto eu não pensei ainda.»

«Eu não penso muito no futuro, sabe? Eu prefiro viver um momento de cada vez.» Compreendemos. Mas, imaginando uma hipotética entrevista daqui a uns 20 anos, como seria a carreira de Wesley? «Daqui a 20 anos… eu queria ter ganhado uma Champions… acho que queria ter feito mais sucesso no futsal.» Maioritariamente na Europa? «Isso, gostaria de ficar aqui na Europa mais tempo.»

A conversa leva-nos para as naturalizações, processo relativamente comum em alguns países europeus. Mas aí Wesley tem resposta pronta: «não penso em representar outra seleção não, prefiro a brasileira, o meu país.» Portanto, a seleção A do Brasil é um objetivo. «É objetivo. Todos os jogadores sonham em jogar pela seleção. Mas eu também… eu prefiro, igual eu disse [anteriormente], um momento de cada vez. Eu não gosto muito de ficar pensando assim muito… eu prefiro deixar as coisas acontecer.»

Pés no chão, e bola nos pés

No Brasil, ainda não há o mesmo grau de competição a nível de seleções jovens, como há em Portugal. Wesley tem apenas uma internacionalização pelas camadas jovens do Brasil: «na verdade no Brasil não há muitas convocações na base», explicou.

Isso não belisca o sonho da seleção A, como já falamos, e o que Wesley já provou – a si mesmo e aos outros – é que a determinação, o foco, e o trabalho, compensam. «No Brasil, pelas dificuldades que a gente passa, acho que há uma motivação maior. Nós, do bairro, sempre temos um foco, e acho que isso também serve como motivação.»

Motivação que se alimenta de resultados, e os de Wesley, na época que já findou [para todas as equipas que não Sporting e Benfica], são excelentes indicadores para o tal futuro de que ele não gosta muito de falar. Mas falamos no presente, e ele concorda: esta foi a sua época de afirmação. «Concordo plenamente! Acho que em termos coletivos fizemos uma época boa. Cumprimos alguns dos objetivos do clube, por mais que fosse o Sporting, mas a gente via como mais um jogo que poderia ter a vitória, e o nosso objetivo era ir à final. Mas, agora pelo lado pessoal, eu acho que foi positivo. Cresci muito, e para a próxima época espero também continuar na mesma pegada.»

O sonho comanda a vida

Wesley costuma voltar ao Brasil no intervalo entre épocas. Infelizmente, a família do jovem não tem oportunidade de vir a Portugal no decorrer da época, e as férias são a grande oportunidade de mitigar a distância. «A minha mãe tem o trabalho dela, e ela também cuida da minha avó que já de idade. Esse também é um dos fatores que ela não veio para cá ainda.»

©FPF

De volta a casa, e ao seu bairro, Wesley é sempre bem recebido por quem o viu crescer. «As pessoas pedem fotos [risos]. Dizem que eu cresci bastante, que eu segui o meu sonho, que nunca desisti, e que ficam felizes por me ver onde estou hoje.»

Seguir os sonhos e acreditar que é possível é precisamente o conselho que Wesley deixa a todos os (ainda mais) jovens (que ele).

«Se tem um sonho siga em busca dele. Assim como eu quando era mais novo também passei dificuldades com transportes - às vezes não tinha como ir treinar - que siga em frente, com humildade. É o princípio de tudo, a humildade, tem que lutar bastante, isso é facto, mas que com humildade e luta é possível.»