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    Jogador falou ao zerozero

    Rony Lopes: Estrela precoce no City, menosprezado por Lopetegui e a renascer no Nice

    Rony Lopes voltou ao campeonato francês pela mão do Nice. A vida do extremo português foi sempre uma verdadeira montanha-russa e que se resume assim: veio do Brasil para Portugal com 4 anos, aos 10 foi para o Benfica e aos 15 chegou ao Manchester City. Tem o nome escrito na história dos Citizens, mas a vida nem sempre foi um mar de rosas. Entre empréstimos, dispensas e servir de moeda de troca, Rony Lopes tornou-se internacional A por Portugal e voltou a sentir a felicidade em jogar esta época.

    O jogador esteve à conversa com o zerozero e falou sobre como trabalha nos dias de hoje para que as lesões nos adutores sejam cada vez menos frequentes, da relação com Julen Lopetegui, que diz ter sido o primeiro treinador a dizer-lhe que apesar de estar «melhor que os colegas» de equipa não ia jogar, mas também da seleção nacional e das ambições futuras.

    ©Getty /

    zerozero: Rony, obrigado por estares à conversa connosco e por falarmos sobre a tua carreira e este momento que estás a viver no Nice. Começaste bem e com um treinador que te dizia muito, o Patrick Vieira, e agora estás a voltar a ganhar o teu espaço. Como está a ser esta temporada?

    Rony Lopes: Esta época está a ser difícil para mim, em todos os aspetos. A primeira parte da época foi complicada, pois estava à espera de uma coisa e sofri um revés a nível familiar e essa parte da época foi muito complicada, até porque a equipa não estava bem, o treinador que me trouxe para cá, o Patrick Vieira, foi despedido, na Europa não estávamos bem, mas a partir de janeiro as coisas começaram a melhorar. Quando voltei do Natal tive uma lesão e parei umas semanas, depois disso foi quando as coisas começaram a correr melhor, fiz vários jogos e golos, mas infelizmente voltei a ter outra lesão e neste momento estou a regressar. Há ainda vários jogos no campeonato e apesar de termos começado mal a época ainda temos oportunidade de chegar aos lugares europeus.

    Rony Lopes
    2020/2021
    27 Jogos  1686 Minutos
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    ZZ: A questão das lesões é algo crónico para ti. Já conseguiste perceber o que tens de fazer mais para evitar esses problemas?

    RL: É aquilo que me assombra na minha carreira, são as lesões, e são sempre lesões musculares e quase sempre nos posteriores. É claro que depois as pessoas começam a achar que eu não tenho cuidado, que não faço as coisas bem e tentam saber o porquê de eu ter tantas lesões, mas eu também vou à procura dessas respostas, pois no meu estilo de jogo eu solicito muito os meus posteriores, então eles precisam de estar bem para estar num bom nível e às vezes não chego a entender. Por exemplo, nesta última lesão estava a fazer tudo bem: alimentação, descanso, treino, fizemos quatro jogos, mas estava bem, estive sempre em contacto com o fisioterapeuta, mas com o Covid-19 fez com que ele não tivesse tido hipótese de vir mais cedo. Depois lesionei-me e fiquei sem entender: 'mas porquê?'. Trabalho há dois anos com um novo fisioterapeuta, o Tiago Silva, e a cada mês ele está comigo e tenho a certeza que com isso vou reduzir bastante as lesões.

    ZZ: Esse é um tema primordial para ti, para continuares na elite? Teres esse tipo de acompanhamento?

    RL: Claro que sim, até porque qualquer treinador gosta de ter a certeza de poder colocar qualquer jogador e saber que ele vai dar 100% e é um jogador que não tem quase lesões. Hoje em dia quando vais para qualquer clube veem o teu histórico de lesões e o que aconteceu e um jogador quando tem menos lesões é melhor. Acho que esse trabalho de prevenção, de tentar entender o porquê das lesões e de ser profissional, é importante.

    ZZ: Como foi este regresso a França, depois de teres estado no Sevilha? Essa zona do globo é uma zona que te deixa feliz...

    RL: É uma zona onde me sinto bem, aqui na Côte d'Azur, felizmente as coisas correram-me bem no Mónaco e agora estou aqui de volta, estou a viver mais para a zona de Cannes, mas é uma zona de que eu gosto, onde está sol quase todos os dias, e estou num campeonato que conheço bem. Neste momento eu precisava de jogar, de voltar a ter aquela alegria de voltar a jogar. Apesar de a época estar a ser difícil para mim estou a voltar a ter essa alegria de jogar e as coisas estão a correr melhor, agora neste final de temporada.

    Lopetegui disse-me: «Estás melhor que alguns da tua posição, mas vou meter outros a jogar»

    ZZ: O que é que no teu entender não correu tão bem em Espanha? Até é um campeonato que exige muito dos jogadores com as tuas características...

    RL: Eu admito que quando cheguei ao Sevilha não estava preparado, era um ritmo muito diferente daquele que eu estava habituado no Mónaco. A pré-época que fiz no Mónaco não tinha sido puxada e quando cheguei treinei à parte, para ganhar o ritmo, mas depois dessas três semanas fiquei bem, tanto que nos jogos da Liga Europa joguei sempre e pensei: 'Agora vou ganhar ritmo e as coisas vão correr melhor'. As coisas estavam a correr bem, mas depois acontecia que jogava na Liga Europa a titular e chegava ao fim-de-semana e nem era convocado. Ficava sem entender.

    ZZ: Isso baralha a cabeça de um jogador?

    RL: Completamente, porque sabia que o plantel tinha muita qualidade, mas disse ao mister: 'Mister, uma coisa é meter-me a jogar e eu não corresponder em campo'. Eu estava a progredir, mas chegava ao fim-de-semana e não me convocava. Fui falar várias vezes com ele e a conversa dele era sempre a mesma, que ia ser muito importante para a equipa, que não tínhamos nenhum jogador como eu no plantel, que tinha de continuar a trabalhar e ia ter a minha oportunidade. Na primeira quarentena fiz um trabalho muito forte, com bi-diários e tudo, preparei-me mesmo bem e dava para ver que estava bem, os treinadores falaram comigo e o Lopetegui disse-me: 'Voltaste mesmo em forma, até estás melhor do que alguns jogadores da tua posição, mas eu vou meter outros jogadores a jogar, pois preciso que todos estejam no mesmo nível'. Isso foi das piores que eu treinador me disse, normalmente quem está melhor joga. A cereja no topo do bolo foi jogar 15 minutos no Santiago Bernabeu e na semana a seguir ficar na bancada num jogo contra uma equipa da 3ª divisão. Não tem explicação.

    ZZ: Foi uma frontalidade estranha?

    RL: Normalmente estou habituado a que o treinador diga outras coisas, do tipo: 'Estás bem, mas não conto contigo, não estás nos meus planos', mas é difícil quando o treinador te diz que estás bem, vais ser importante para a equipa, mas não jogas. É ser contraditório. Claro que o jogador tem sempre que fazer o seu trabalho e foi o que tentei fazer, mas é complicado quando jogas apenas um jogo a cada mês.

    ©Getty /

    ZZ: Daí que quando surgiu o Nice nem hesitaste?

    RL: Sim, falei com os meus pais, o Vieira falou comigo, o projeto do Nice era muito interessante, estava a formar uma boa equipa, a lutar pelos lugares cimeiros e foi um projeto que me interessou bastante.

    ZZ: Que projeto é este do Nice?

    RL: É um projeto para lutar pelos lugares de cima da liga francesa, é um clube que nos últimos anos não tem estado no topo, mas na minha opinião tem crescido a cada ano, já teve jogadores importantes como o Sneijder, o Balotelli, ou seja, jogadores de nome. Este ano o projeto passava por formar uma equipa boa e jovem. Vim para cá eu, já tem o Dolberg, o Gouiri, o Schneiderlin, formaram uma equipa para ficar nos lugares europeus.

    ZZ: O que mais te surpreendeu no Nice?

    RL: Duas coisas: o presidente, que é uma pessoa muito acessível, está sempre disponível, e as condições da Academia do Nice. É uma academia nova, com pouco tempo, é uma academia com quartos, os campos têm muita qualidade, trouxeram um inglês para tratar da relva e tudo. Essas coisas todas deixaram-me surpreendido.

    ZZ: Fala-nos um pouco desta montanha-russa que é a vida. Como foi sair bastante novo e ter estas vivências todas?

    RL: Do Brasil lembro-me pouco das coisas, quando tive idade para jogar comecei a jogar no Poiares, aos 10 anos fui para o Benfica e aos 15 saí de Portugal. Fui para Inglaterra, estive três anos no City e depois fui emprestado ao Lille, era o meu primeiro ano de profissional e precisava de um desafio diferente...

    «A minha mãe, que não gostava de conduzir, passou a levar-me ao Seixal para treinar e jogar»

    ZZ: Como foi levar com esta fama tão cedo?

    RL: Foi tudo natural, os meus pais nunca colocaram pressão em mim. Sabiam que eu gostava de jogar futebol e sempre fizeram os possíveis para que eu conseguisse jogar futebol. Quando fui para o Benfica ainda não havia a Academia do Seixal pronta e tinha de ir uma vez por semana treinar e ao fim-de-semana jogar. Aí a minha mãe, que não gostava de conduzir, passou a levar ao Seixal para treinar e jogar. O meu pai mudou de trabalho para passar a ganhar mais dinheiro e faziam sacrifícios para eu jogar. Nunca fizeram isso com o objetivo de que eu ia dar jogador de futebol, foi por eu gostar de jogar futebol e as coisas estavam a acontecer. Foi tudo naturalmente. Passados dois anos assim fui viver para o Seixal, fui morar sozinho e a conviver com outros jogadores. Foi difícil, mas depois as coisas correram bem e passados três anos houve a proposta do Manchester City...

    ZZ: É numa altura em que a prospeção dos jovens tem um grande boom e tu foste quase uma figura de cartaz...

    RL: Fiquei muito orgulhoso, pois para mim a Premier League é a melhor liga do mundo e eu ia jogar no país onde tinha a maior liga do mundo. E quando via o plantel do Manchester City ficava de boca aberta, não ia jogar com eles, mas ia estar perto deles. Quando falaram com os meus pais percebemos que me conheciam bem, sabiam a minha vida toda. Não falávamos inglês, mas arranjámos um senhor que nos fazia a tradução. Na altura a minha transferência foi bastante complicada por causa disso, o empresário que eu tinha não falava inglês e houve coisas que não foram bem feitas. As pessoas começaram a pensar que eu aos 15 anos já estava bem da vida e ia ganhar muito dinheiro, mas não foi nada assim. O primeiro ano foi bastante complicado, o meu pai deixou o emprego dele em Portugal, fomos os dois apenas para Inglaterra. Foi uma aventura, pois era uma cultura diferente, não falávamos inglês, jantar às seis da tarde, mas tivemos que nos desenrascar.

    ©Getty / Quinn Rooney

    ZZ: E chegas apenas como um jovem da formação e não como uma super-estrela...

    RL: Sim, eu estava na academia para a formação e não na academia da primeira equipa. Quando cheguei não havia campeonatos para a minha idade e foi tudo um pouco estranho, pois estava à espera de outra coisa. A certa altura o meu pai sentiu que eu não estava feliz a jogar futebol, porque preocupava-me com as questões extra campo e com o facto de não conseguir dar estabilidade financeira à minha família, e ele disse-me: 'Se queres jogar aqui só tens que te preocupar em jogar futebol e o resto eu trato'. A partir daí tudo melhorou, na segunda época já fui chamado para fazer a pré-época com a equipa principal.

    ZZ: Como foi?

    RL: Estava no sofá de casa e recebi uma chamada a dizer para ficar pronto, pois ia fazer a pré-época e tinha que viajar com a equipa no dia a seguir. Estava com o meu pai e fiquei sem reação. Mas fui, fui para a Áustria e passei a conviver com jogadores que estava habituada a ver na TV: Yaya Touré, Aguero, David Silva, Kompany... e nos primeiros dias fiquei a ver como tinha de agir, mas os jogadores foram todos top e muito humildes e colocaram-me à vontade desde o primeiro dia.

    ZZ: Há algum amargo de boca por não teres singrado ou esperança por voltar?

    RL: Há esperança por voltar à Premier League, pois é a minha liga preferida e vou trabalhar para isso. Apesar de não ter tido o meu lugar na equipa principal, pois não era um City como agora em que vês o Guardiola a apostar em jovens, na altura eu era o jovem em que apostava mais, mas mesmo assim só era titular na taça, pois era uma equipa com grandes nomes e mesmo com esses nomes todos eu consegui meter o meu nome na história do City. Quando tive a oportunidade de jogar as coisas correram bem e para ser titular ou ficar naquela equipa tinha de fazer coisas extraordinárias. Fiz coisas boas, mas não foram extraordinárias.

    ZZ: Ter o nome na história do clube é algo que te deixa orgulhoso...

    RL: O mais novo de sempre a marcar ainda é um registo meu e isso é um orgulho ter o meu nome ali, pois é aquele sonho de criança a ser tornado realidade.

    ZZ: Nunca esteve em hipótese regressar a Portugal?

    RL: Até hoje ainda não, não na minha cabeça, pois na minha cabeça não há nenhum problema de regressar a Portugal, mas ainda não surgiu a oportunidade. Mas estou de portas abertas, claro.

    Seleção nacional: «Acredito que eu também estou nesse leque de opções»

    ZZ: Já te estreaste por Portugal, mas as lesões fizeram com que a seleção nacional não seja uma constante nesta altura. Quando ouves o Fernando Santos dizer que tem muitos jogadores para escolher achas que o teu nome ainda está na lista?

    RL: Sem dúvida que o que me afetou mais para não estar na seleção foram as lesões, na última vez que lá estive lesionei-me, mas acredito que fazendo as coisas bem, destacando-me aqui, o Fernando Santos está sempre atento e como já me conhece há possibilidades de ir à seleção. É para isso que trabalho todos os dias.

    ZZ: Como vês muitos jogadores da tua geração a serem presença assídua nas escolhas?

    RL: Fico contente por eles, pois alguns jogaram comigo desde sempre e merecem estar lá. Acredito que eu também estou nesse leque de opções e apenas tenho que demonstrar isso dentro de campo.

    ©Global Imagens / PEDRO_ROCHA

    ZZ: Na tua posição especificamente há muita gente...

    RL: Isso é bom, aumenta a competitividade e isso só me faz querer ser melhor do que a pessoa que lá está. Eu gosto disso, faz com que eu seja melhor a cada dia.

    ZZ: Brasil ou Portugal? Nunca houve dúvida para ti?

    RL: Houve uma questão de orgulho de ser procurado pela seleção brasileira, mas sempre joguei pelas camadas jovens por Portugal e o mais normal era jogar por Portugal.

    ZZ: Porque é que o Patrick Vieira é um treinador tão especial na tua carreira?

    RL: Primeiro é o Patrick Vieira e toda a gente conhece e tem muito respeito por ele, depois conheci-o como treinador no City, vivemos um ano muito bom juntos, fui o capitão da equipa dele e aí ganhou ainda mais o nosso respeito, pois tratava os jogadores com amizade e respeito, e o que me ensinou nesse ano fez com que seja um treinador muito importante para mim.

    ZZ: Quem é que foi o jogador durante a formação que tu achaste que não ia dar grande jogador e deu grande jogador?

    RL: Boa pergunta... Para dizer a verdade, daqueles que vêm à cabeça, é o André Silva. Sempre gostei de jogar com ele, pois entendíamo-nos bem, corre muito e batalha muito, mas tecnicamente eu via e dizia: 'Não dá'... A bola batia na canela... Mas depois fez aquela época no FC Porto, deu nas vistas e deu o salto. Surpreendeu-me, pois não é aquele jogador que eu via e dizia que tinha muita técnica e era um fora-de-série, mas é um jogador que se destacou e está a fazer uma grande época no Frankfurt e fico muito feliz por ele e por aquilo que está a conquistar. Não é que não achasse que ele fosse dar jogador, mas não ao nível em que está e fico muito feliz por ele.

    ZZ: Olhamos para o futuro e pergunto: Daqui a cinco anos estamos a conversar. O que me vais dizer que não disseste hoje?

    RL: Espero dizer que tenho mais títulos e que estou no topo do futebol mundial.

    Portugal
    Rony Lopes
    NomeMarcos Paulo Mesquita Lopes
    Nascimento/Idade1995-12-28(28 anos)
    Nacionalidade
    Portugal
    Portugal
    Dupla Nacionalidade
    Brasil
    Brasil
    PosiçãoAvançado (Extremo Direito) / Avançado (2.º avançado)

    Fotografias(54)

    Liga Portugal Betclic: SC Braga x Vizela
    Liga Portugal Betclic: GD Estoril Praia x SC Braga

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