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    Praiense atinge 'play-off' de subida à Liga 3

    Depois da tempestade chegou a bonança: «Até me provarem o contrário, eu vou acreditar sempre»

    «Eu adoro os meus meninos». É desta forma carinhosa que Pedro Lomba, treinador do Praiense, fala sobre o seu grupo de trabalho. Um plantel que passou por muito ao longo da temporada, muito mesmo, mas que chegou ao fim da fase de regular em posição de acesso ao 'play-off' de subida à Liga 3. Na última jornada. «Estava escrito».

    Pedro Lomba
    Campeonato de Portugal Série G 20/21

    22 Jogos
    8 Vitórias
    8 Empates
    6 Derrotas

    25 Golos
    23 Golos sofridos

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    Aos 40 anos, Pedro aceitou o desafio lançado por Hélder Oliveira, com quem se tinha cruzado no Valenciano, na distrital da AF Viana do Castelo, de onde é natural, para abraçar o primeiro projeto no Campeonato de Portugal. Um desafio aliciante que o colocou à prova.

    Os novos investidores no emblema açoriano confiaram na escolha de Pedro Lomba para dirigir a equipa, mas todas promessas não passaram disso mesmo. Esses tais investidores desaparecerem ao fim de dois jogos e deixaram um conjunto de problemas para trás. Do planeamento da época à alimentação e alojamento dos próprios jogadores e equipa técnica.

    Perante a adversidade, Pedro Lomba decidiu não virar a cara à luta e olhar para o problema como uma oportunidade. Com a ajuda do presidente do clube e de muita força de vontade de toda a gente o barco seguiu firme até bom porto. Ou seja, chegou ao play-off de subida à Liga 3.

    ©Sport Clube Praiense, Futebol SAD

    «Os investidores desaparecem e o clube percebe que estamos abandonados»

    zerozero (ZZ): Como é que um homem de Viana do Castelo vai parar à Praia da Vitória para abraçar o primeiro desafio no Campeonato de Portugal?

    Pedro Lomba (PL): É uma história muito engraçada. Eu começo a treinar na distrital de Viana e no meu segundo ano apanho um jogador, que já tinha passado por bons clubes, com formação no Rio Ave, que me disse que eu era um treinador com muito potencial e que se um dia andasse por outras funções, se me pudesse ajudar, ia ajudar-me. O que é certo é que passados uns anos esse jogador integrou o projeto do Praiense e formalizou o convite. E a verdade é que eu também queria uma oportunidade para mostrar o meu valor.

    ZZ: Que realidade é que o Pedro encontra no Praiense? E como é que correu a preparação da temporada?

    PL: Bem, podemos chamar tudo menos de preparação… Há uma mudança de presidente e quando entram os novos investidores eles aceitam ficar comigo. A ideia passa pela promoção de jogadores que um desses investidores tinha em carteira e começamos a trabalhar. Percebeu-se que havia condições para trabalhar e de organização, mas de um momento para o outro tudo muda. O caminho delineado não é o caminho que está a ser seguido e começa a falhar a parte logística, o alojamento, as refeições, o nível dos jogadores… No fundo, não ia ser nada como planeado. Eu sou o primeiro a dar oportunidades, mas chegou a uma altura em que isto era quase uma casa de caridade. Tu eras amigo de x e trazias três jogadores. Nunca conseguimos ter um núcleo duro. Foi muito complicado. E chegou a um determinado momento em que esses dois investidores desapareceram completamente.

    ZZ: Isso a quanto tempo de iniciar a época?

    PL: Mesmo com toda essa confusão, eles ainda estiveram connosco no primeiro jogo. Para termos 11 jogadores foi um problema… No limite conseguimos ter 11 inscritos, mais alguns juniores, e fomos naturalmente eliminados frente ao Pêro Pinheiro na Taça de Portugal. Não vale a pena acrescentar mais adjetivos… Depois vamos ao Sporting B, num período em que já há ali uma separação e uma confusão tremenda entre clube e SAD, eles vão connosco, mas já não voltam… Passam 2-3 semanas e o clube percebe que estamos abandonados. Começa a faltar a comida, os senhorios começam a vir atrás de nós… 

    ZZ: Inacreditável.

    PL: Depois o presidente da direção do clube, juntamente com mais dois elementos que estavam responsáveis pela formação do Praiense, como gostam do grupo e da nossa forma de estar, entraram em cena para ajudar-nos. Primeiro com o dinheiro do clube de depois conseguiram sensibilizar a Câmara e alguns patrocinadores. Acabaram por ir dando algumas condições e aguentaram o barco, e assim continua. Ao todo são cinco pessoas que têm sido o nosso suporte. Vão conseguindo pôr a comida na mesa, tratar da parte do alojamento e vão pagando como podem. Existe dificuldade para pagar no dia certo, mas entendemos o esforço e estamos gratos por tudo o que têm feito. No fundo, as condições não eram perfeitas, nem mínimas, mas tínhamos de olhar para o copo meio-cheio. Ou seja, temos jogadores desconhecidos, um treinador que vinha de um campeonato inferior e uma oportunidade para nos promovermos.

    ZZ: O mais fácil talvez fosse ter ido embora, mas não virou a cara a luta. Isso valoriza ainda mais a conquista de um lugar no ‘play-off’ de acesso à Liga 3?

    PL: Em conversa com os meus capitães… Às vezes nem valorizamos. Acho que só daqui a uns anos é que vamos perceber a real dimensão daquilo que conseguimos alcançar. Não gosto de falar na palavra milagre, pois isso é algo divino. Mas vamos perceber que fizemos uma coisa diferente. No entanto, não gostava que isto fosse valorizado por tudo aquilo que passámos de mau antes de chegarmos até aqui. Gostava que olhassem para isto como um exemplo. Às vezes, se formos resilientes e tivermos qualidade no trabalho, a gestão não tem de ser tão danosa. O que quero dizer com isto é que vemos clubes com grandes investimentos, com plantéis fabulosos, mas que depois… E há tanta gente a precisar de uma oportunidade. 

    ZZ: Como é que o Pedro conseguiu unir esses miúdos todos em volta da sua ideia?

    PL: É uma simbiose entre vários fatores. Eu não conhecia a parte humana dos meus jogadores, naturalmente, nem tive essa hipótese antes, mas tive a felicidade de todos eles serem bons meninos. Como se costuma dizer na gíria futebolística, não há aquela cobra ou vaca sagrada de balneário. Depois a ideia de jogo que tu apresentas. Se trouxe desconfiança? Trouxe. Alguns jogadores tinham dúvidas. Mesmo a proposta de jogo sendo interessante, um futebol que privilegia a posse de bola, que todos os jogadores gostam, eles achavam difícil e diziam: ‘Nós vamos sofrer um ou dois golos e o mister vai querer é bater na frente’. Não… Eu acredito muito na minha ideia e tenho de ser honesto com eles e fazer com que olhem sempre para o lado positivo das coisas. Se querem fazer profissão do futebol, se hoje resistem a isto, amanhã estarão mais preparados para os desafios que tiverem pela frente.

    ZZ: …

    PL: Criámos aqui uma família, não tenho dúvidas. Às vezes pode ser prejudicial, mas neste contexto tenho essa dificuldade na separação entre jogador e treinador. Almoço e janto com eles. Sou mais um no grupo. Ao domingo sou eu que os vou liderar, mas sou mais um. Sem eles eu não vou ser treinador. Em suma, coerência, honestidade e frontalidade. Merecemos este final por tudo o que passámos. Mas se fossem outros também devíamos estar orgulhosos.

    Praiense vai discutir fase de subida à Liga 3 ©Sport Clube Praiense, Futebol SAD

    «Nunca tinha passado por uma adversidade deste tamanho»

    ZZ: Como foi esse domingo? Essas emoções?

    PL: Sabíamos que havia seis combinações possíveis e só numa é que ficávamos de fora: o Real ganhar ao Sporting B e o Fontinhas ganhar. Aí não havia hipótese. E mesmo aí, ainda tínhamos o fator dos golos… Mas era preciso ganharmos o nosso jogo por 7x0. E podia ter dado para isso [risos]. Cada bola que tínhamos era olhos na baliza. Os meus jogadores foram fantásticos. Estávamos a fazer o nosso e a acompanhar naturalmente os outros jogos e quando acaba o Real SC x Sporting B sabíamos que estávamos dentro [do play-off]. Quando o árbitro apita festejamos, mas depois é muito engraçado…

    ZZ: Pois, correu a informação de que era o Fontinhas a passar…

    PL: Verdade. Tenho os meus diretores a dizer: “Não mister, no Canal 11 estão a dizer que não passámos” [risos]. Os adeptos também tristes e nós a festejar feitos tolos. Houve ali um momento em que tive de dizer aos meus jogadores para acreditarem que tínhamos passado. Foi chorar, cantar, aquela dúvida… Duas-três horas. Estava escrito. Por tudo o que passámos.

    ZZ: Ainda não terminou a época para o Praiense, mas que ensinamentos é que já absorveu?

    PL: Naquilo que são os valores como a honestidade, frontalidade e resiliência, acho que eles se reafirmaram ainda mais. “Um homem revela-se na adversidade”. Eu percebi isso agora. Hoje sou um homem muito mais orgulhoso de mim enquanto pessoa. Orgulhoso porque nunca tinha passado uma adversidade deste tamanho, e ter de liderar tanta gente. Não sabia como ia responder e por vezes questiono-me como é que consegui… Mas consegui. Enquanto treinador, cresci muito naquilo que é a liderança e gestão de conflito. O crescimento foi grande. A minha cabeça muitas vezes não esteve na melhor forma, como é obvio. Muitas vezes preocupado em resolver conflitos. Tenho de agradecer muito à minha equipa técnica que confiou muito na minha ideia, como se fosse a deles. Ajudaram-me muito naqueles momentos em que eu não estava aquele Pedro tão dinâmico e tão apaixonado. Houve dias difíceis, mas cresci muito.

    ZZ: …

    PL:  Perante as dificuldades que nos foram colocadas a cada jogo, isso fez também com que o meu conhecimento sobre o jogo aumentasse. Um Sporting B com uma qualidade tremenda, um Estrela, equipas muito verticais, umas a colocarem 4/6 homens por dentro, outras por fora… Depois ou trabalhas mediante o adversário ou ensinas os teus jogadores a interpretar aquilo que é o jogo. E foi aí o meu maior crescimento. Se te aparecem mais homens por dentro, tens de jogar por fora. Se te aparecem por fora, tens de condicionar para jogar por dentro. Este é que foi o maior crescimento nesta equipa. Eu não preparo os meus jogadores para determinada equipa, mas sim para aquilo que podem encontrar. Imagina: trabalhas a semana toda em função de determinado comportamento do adversário e ele chega ao jogo e muda tudo. Ficamos perdidos. (…) No primeiro jogo que perco com o Sporting andei louco e disse que na próxima vez que jogasse contra o Sporting não íamos levar aquele chocolate. A malta acha que não, mas eu acho que levámos chocolate [risos]. Fiquei fascinado e adorei, mas andei duas semanas louco. O que nos caracteriza muito é que temos uma ideia muito própria e nos conseguimos adaptar muito bem ao que o jogo pede. Sinto orgulho nisso. 

    Pedro Lomba cumpre a primeira época no Campeonato de Portugal ©Arquivo Pessoal

    «Com os melhores é que nós podemos provar que somos bons»

    ZZ: Segue-se a fase de play-off de subida à Liga 3. Os adversários são o Amora, o Olhanense e o Real SC. Como perspetiva esta fase?

    PL: Há uma coisa que nunca vai acontecer. Nunca vou usar a desculpa de que esta não era a nossa luta. A nível de estrutura e investimento sabemos que estamos a léguas deles. Mas também sabíamos que estávamos assim na nossa série e conseguimos cá chegar. E já que aqui estamos só temos duas formas de encarar isto: desfrutar de uma forma irresponsável ou de uma forma responsável. E vamos desfrutar de forma responsável. Sabemos aquilo que queremos. Vamos encarar o Amora, o Olhanense e o Real SC para ganhar. O Real já nos conhece, mas os outros vão conhecer. Vamos lá para cima deles como se fôssemos um Benfica, um FC Porto, uma Juventus, um City... Se vamos conseguir ou ganhar é outra coisa. Agora esta atitude ninguém nos tira. Se queremos subir à Liga 3? Nós queremos, claro. Se o vamos conseguir? Isso é outra coisa. Temos noção do que temos, mas a nossa ambição é ganhar cada jogo. Quero estar com os melhores. Com os melhores é que nós podemos provar que somos bons.

    ZZ: Independentemente do que aconteça até ao final, o que gostaria que dissessem da sua equipa?

    PL: Que reconhecessem que têm qualidade para jogar em boas equipas e para outros voos. Que melhor forma tens de promover um treinador? Se promoves os teus jogadores tu és bom treinador. Depois, quando estiverem a ver uma equipa jogar, quero que digam que aquela equipa é do Pedro Lomba. Não há prémio melhor. Claro que quero chegar ao profissional, claro que quero chegar o mais longe possível, obviamente, mas a maior vitória que posso ter é que em todo o lado por onde tenho passado as equipas do Pedro Lomba tinham a sua identidade. Até hoje tenho conseguido isso. Ninguém dizia que eu ia conseguir isto no Praiense, diziam que eu era tolo e que ia descer e eu consegui. Até me provarem o contrário, eu vou acreditar sempre na minha ideia.

    ZZ: O que gostaria de me contar se falássemos daqui a um ano?

    PL: Sinceramente, no Praiense ou noutro clube gostava de te contar que não tive estes problemas [risos]. Agora a sério, gostava de falar contigo por estar a ser reconhecido como sendo um treinador com uma ideia positiva e que promove jogadores, independentemente do clube. Se gostava de estar mais acima? Tanto posso crescer aqui como mais acima. Quero é projetos e desafios.

    Comentários

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    motivo:
    Será difícil
    2021-04-23 18h59m por emanuel92
    Sendo Açoriano e gostava de ter o Praiense na Liga 3, será muito complicado, pois os adversários tem outros argumentos principalmente Amora e Olhanense que são os favoritos pelas épocas que fizeram.
    Mas o que conta é dentro de campo e acredito que o Praiense lutará em todos os campos pela vitória.
    PO
    Praiense
    2021-04-15 08h15m por Power
    Mas qual a admiração de terem passado? O Praiense é sempe um candidato crónico á luta pela subida nunca sobe mas luta sempre e está sempre lá.

    As Sad´s é quase sempre a mesma brincadeira só servem para estragar o que estava bom temos muitos exemplos destes pelos país fora.

    Contiunação do bom trabalho aos mister´s que se calhar tem nivel para outros vôos!
    TI
    México
    2021-04-14 18h19m por ti_maria_69
    Força México!!!

    Sonhar não tem limites!!!
    jogos históricos
    U Domingo, 11 Abril 2021 - 14:30
    Estádio Municipal da Praia da Vitória
    João Bernardo
    4-0
    Leonel Aubán 31'
    Manu Ribeiro 39'
    Erik 43' (g.p.)
    Jailson 52'

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