Em Sevilha o FC Porto terá sempre 2003... e uma acrobacia de Taremi para recordar. A dupla visita de 2021 a esta cidade espanhola acabou por não ser feliz, apesar de ter terminado com um momento que será visto e revisto por esse mundo fora. Depois da derrota por 0x2 que contou como se tivesse acontecido em casa, os dragões sabiam que era preciso algo de épico para virar os quartos-de-final contra o Chelsea e esse sonho não se concretizou, apesar do espetacular golo no final do encontro que ainda deu aos portistas a vitória neste segundo jogo.
Num jogo em que o primeiro remate enquadrado com a baliza de qualquer das equipas aconteceu apenas aos 65 minutos, o FC Porto voltou a ter muita iniciativa diante de um Chelsea que se foi mantendo confortável com os momentos em que foi mais sobrecarregado e que criou de novo muito perigo nos contra-ataques. Mehdi Taremi ainda foi a tempo de abrilhantar o relvado do Ramón Sánchez Pizjuán, mas já foi tarde.
Olhando a ambos os jogos, foi uma eliminatória decidida nos detalhes e que dita o fim de uma excelente campanha do FC Porto nesta Liga dos Campeões. O Chelsea vai em busca da final de Istambul.
O FC Porto teve dois reforços importantes para esta segunda mão, com os regressos de Sérgio Oliveira e Mehdi Taremi, mas só o médio português, melhor marcador da equipa na prova, teve direito a titularidade. Marega surgia sozinho no centro do ataque, a ideia passaria por controlar o meio-campo sem atacar de forma demasiado sôfrega. Essa teoria ia passando à prática.
Mais uma vez, a enorme diferença de orçamentos e valor dos plantéis não se via na tendência da partida. Na primeira mão tinha-se visto apenas nos detalhes e mais uma vez os portistas mostravam poder jogar olhos nos olhos com os blues. A entrada foi forte e a defesa do Chelsea foi recuando, com o conforto do resultado a estar do lado londrino.
Conceição tinha alertado para a necessidade de não ir com muita sede ao pote e o FC Porto atacava sem entrar em loucuras. Tuchel tinha garantido um Chelsea confortável com os altos e baixos da partida e os blues não demonstravam demasiada preocupação com o que se ia vendo: a defesa mantinha-se sólida e no primeiro tempo só fraquejou em momentos específicos com Corona como protagonista: depois de uma oferta de Mendy (valeria Jorginho) e num grande passe de Otávio, com o mexicano a mostrar classe no domínio mas nao na finalização.
As despesas do jogo eram do FC Porto nessa primeira fase, o Chelsea procurava aproveitar ataques rápidos, como num remate de Mason Mount nos primeiros minutos, desviado por Mbemba, ou numa arrancada de Kanté (rendeu o lesionado Kovacic) em que Reece James atirou ao lado. Os centrais Pepe e Mbemba voltavam a ser determinantes no controlo dessas investidas, os laterais portistas mostravam mais dificuldades, ainda que sem erros crassos como os vistos na primeira partida.
Certo é que esse primeiro tempo não tinha trazido qualquer golo, fosse para quem fosse, e admitia-se que o FC Porto pudesse assumir mais riscos para lá do intervalo.
Só que esses (relativos) riscos foram guardados para mais tarde. Conceição manteve tudo igual, também a tendência do jogo se foi prolongando, com os dragões a terem nova entrada com mais iniciativa e, um pouco depois, o Chelsea a criar perigo com pouca, mais uma vez com Mason Mount a aproximar-se de novo golo frente aos dragões.
Estava guardada para os 63 minutos a primeira alteração no FC Porto, com Sérgio Conceição a lançar Taremi por troca com Grujic, e rapidamente se viu que os dragões aumentavam o poder de fogo: foi do iraniano o tal primeiro remate enquadrado, com um cabeceamento em grande posição que não teve força suficiente para bater Mendy. Passaram cerca de dez minutos, entraram três de uma vez - Nanú, Díaz e Evanilson -, aos 84' entrou Fábio Vieira e Tuchel ainda não tinha lançado ninguém.
O FC Porto balanceava-se mais para a frente no último quarto de hora, tentava no mínimo despedir-se da prova com uma vitória e apesar de repetidas as ameaças do Chelsea em ataques esporádicos ainda foi a tempo de o conseguir, com um pontapé acrobático de Taremi a cruzamento de Nanú em cima da despedida no relvado do Ramón Sánchez Pizjuán. Um momento de espetáculo na despedida de uma campanha de enorme qualidade dos portistas.
Acabou por servir apenas para dar outro brilho à despedida, mas o momento de Mehdi Taremi nos descontos do encontro é mesmo para ver e rever. Vai correr mundo, até pela dimensão do contexto.
Voltou a haver atitude e qualidade na construção dos portistas, voltaram a faltar as melhores decisões na última zona do terreno, também com muito mérito do Chelsea pela forma concentrada como defendeu nestes dois jogos.