Deu para evitar o título do grande rival, pelo menos, mas não deu para deixar uma imagem de força, outra vez. O Benfica voltou a ser demasiado inconstante em Famalicão, empatando a uma bola e ficando mais longe, por isso, do primeiro lugar e do campeão mais do que anunciado.
Numa partida emocionante, sobressaíram os bons momentos de um Benfica que continua a ter talento e uma ou outra ideia do passado e a reação final de um Famalicão que teria muitas hipóteses de consumar a reviravolta caso se jogassem mais uma dezena de minutos ou coisa parecida. Assim ficou cada um com um ponto.
As duas equipas já sabiam ao que vinham, mas a tarde de quinta-feira tratou de dar uma importância redobrada ao Famalicão x Benfica. Porque os encarnados entraram já cientes do triunfo do FC Porto em Tondela e da consequente proibição em não pontuar; porque os famalicenses já tinham visto o Rio Ave, umas horas antes, avançar de forma provisória para o tal lugar europeu.
Ainda assim, por todas as razões e mais algumas, eram os encarnados o conjunto mais pressionado. E entraram com esse fardo e essa responsabilidade. Foi um Benfica, essencialmente, de muita bola na primeira dezena de minutos, já a mostrar que a intenção passava por baixar sempre Weigl para a linha dos centrais e fazer avançar Nuno Tavares na faixa esquerda.
Como tantas vezes aconteceu ao longo da época, foi Pedro Gonçalves, perante o cenário inicial, o impulsionador da mudança, para melhor, entenda-se, do Famalicão. Foi a partir de uma arrancada incrível, logo ao 11º minuto, que acabou com uma das muitas hesitações de Nuno Tavares, que a equipa de João Pedro Sousa passou a ser mais igual a si própria.
É verdade, o Benfica foi a equipa mais perigosa se traçarmos um olhar mais abrangente, mas aquela fase da primeira parte trouxe-nos um Famalicão mais organizado, mais confortável, mais consistente e, sobretudo, mais racional do que o seu adversário, mais preso à inspiração individual e aos rasgos momentâneos de entendimento. E Vlachodimos teve de voar para evitar o golo nesse período de fulgor.
Aos poucos, com Weigl competente na primeira fase e Gabriel de boa mira no passe, como ficou bem à vista naquela abertura que só Roderick evitou que terminasse em golo, a Águia voou um pouco mais. Cervi, que acabou por compensar a menor inspiração do companheiro de faixa Nuno Tavares, soube arrancar no timing certo e também acertar no momento do cruzamento que só Pizzi conseguiu transformar da melhor forma, depois de mais uma bela estirada de Defendi, um daqueles que não merecia ir com aquele score para os balneários.
E que bem fez o golo ao Benfica. Entretanto apareceu o intervalo para que o Fama reagrupasse, a nível tático e mental, mas foi uma Águia ainda mais afirmativa e confiante na entrada dos segundos 45 minutos. Faltou «só»,e aqui é mesmo entre aspas, a finalização às combinações entre Chiquinho, Pizzi, Cervi e um Nuno Tavares que é incansável, mas que ainda tem de melhorar a tomada de decisão se quiser incomodar a sério o lugar de Grimaldo a curto/médio prazo.
Mas se o técnico do Benfica não conseguiu retirar qualquer resultado prático das suas mudanças, o que dizer da assertividade de João Pedro Sousa a partir do banco? As entradas de Walterson, de Anderson e dos dois laterais, Ivo Pinto e Centelles, levou a equipa para outro patamar exibicional, no que toca a objetividade, a frescura, a confiança, e, até, uma certa arrogância de ir para cima de uma equipa como o Benfica sem complexos.
Quando, aos 84 minutos, um outro suplente utilizado, neste caso Guga, carimbou o empate, o Famalicão já era, claramente, a melhor equipa em campo. E a jogada do golo revela bem o estado emocional do ainda campeão nacional, que abriu a passadeira e muitos espaços para, por fim, um momento de justiça.
Para desespero dos treinadores e gáudio daqueles que acompanhavam mais de fora, a partida entrou, então, num registo de transição-contra transição. Completamente partido, o jogo só não teve mais golos por acaso, tais os espaços que apareciam em cada lance perto das balizas. Ficou assim, mas só o Fama parece ter ainda muito a ganhar nesta Liga.
Fábio Martins, Cervi, principalmente, Pizzi, em vários momentos de grande classe, Walterson, o agitador do Famalicão nas últimas dezenas de minutos. Os extremos de Famalicão e Benfica estiveram inspirados e deram um colorido técnico especial a um duelo que teve emoção até ao fim.
Uma equipa dos pergaminhos do Benfica não pode tremer e cair tanto de rendimento nos últimos minutos. Há mérito do Famalicão, mas, acima de tudo, muita desconcentração e uma quebra emocional que teima em não sarar. Podia mesmo ter acabado em derrota.