Faltou muita coisa ao líder do campeonato no regresso à competição. O FC Porto foi curto, previsível durante muito tempo, em Famalicão, perdendo por 2x1. Os dragões ainda chegaram ao empate e pareciam capazes de operar a reviravolta, mas os erros atrás foram demasiado penalizadores.
Bancadas vazias, zona de imprensa bem mais reduzida em relação ao costume, máscaras dentro e fora das quatro linhas. A voz do adepto a ecoar, sim, mas bem lá ao longe. O regresso ao futebol em Famalicão fez-de muitos cuidados e de um cenário impensável. Mas é a nova normalidade a mudar-nos a todos e ao desporto-rei, como não podia deixar de ser.
No FC Porto pouco ou nada mudou. Não estavam Marcano, Telles ou Nakajima em relação à equipa que deixou fugir dois pontos face ao Rio Ave, mas a filosofia está bem enraizada na cabeça de quase todos os protagonistas. Muita pressão, procura da profundidade, dos duelos individuais, das características físicas e atléticas de jogadores como Marega, Soares ou Danilo. Continuava lá tudo, como se os mais de 80 dias não tivessem existido.
E o que não mudou, também, foi a estratégia específica dos dragões para enfrentar esta sensação Famalicão. As ordens eram claras, bem audíveis desde o banco, caso fossem esquecidas entretanto. Assim que o adversário procurasse uma saída apoiada desde trás, os jogadores da linha atacante tinham que cair logo em cima, subindo toda a equipa para uma pressão que chegava até à linha do meio campo. Com bola, predominaram os lançamentos desde a direita para a meia esquerda do lado defensivo contrário, onde apareceu Marega com muito perigo para obrigar Defendi a uma grande defesa.
Em relação a esse jogo do Dragão, na primeira volta, o Famalicão de João Pedro Sousa arriscou bem menos. Criou dois calafrios, muito por culpa dos erros gravíssimos de Marchesín, primeiro, e de Pepe, depois, mas teve uma postura mais segura, mais conservadora, de aposta no passe longo, até, em detrimento das trocas curtas mais atrás que costumam marcar a construção da equipa. Não se podiam cometer os mesmos erros do passado.
O domínio territorial pertenceu quase sempre ao FC Porto e, no meio destas duas estratégias, a equipa de Conceição foi quase sempre mais perigosa. Quando a bola corrida e os movimentos nas costas de Marega não funcionavam, também por culpa da má definição que teima em desaparecer do maliano, os lances de esquema tático ganhavam ainda mais preponderância. Mas as boas intenções de Sérgio Oliveira não passavam disso mesmo, de intenções...
Equipas de regresso, tudo à espera de mais futebol, até porque a paragem foi longa e o intervalo quase que apareceu como um tormento, mas que início de segunda parte. Em três minutos, faltas e faltinhas, paragens que irritaram tudo e todos e um lance para os apanhados. Marchesín, que já tinha uma saída comprometedora nos primeiros 45 minutos, borrou a pintura com uma autêntica oferta para Fábio Martins, que se limitou a aproveitar. Impensável!
O Dragão procurou reagir rápido, demasiado rápido, porque a pressa foi inimiga da perfeição. A dependência no passe longo e nos duelos passou a ser demasiado clara e, durante uma boa dezena de minutos, o Famalicão foi capaz de controlar as investidas do líder do campeonato. E Toni Martínez ainda teve tempo para ameaçar o segundo, depois de uma autêntica fífia de Pepe - o central sentiu (e muito) a paragem.
Esperava-se que o FC Porto partisse para a reviravolta, mas não foi nada disso que aconteceu. O Famalicão foi em busca de mais, teve esse arrojo numa altura de maior aperto. Criou muito perigo num lance de bola parada e chegou mesmo ao golo da vitória, com Pedro Gonçalves a brilhar na condução e no remate. A abordagem defensiva dos azuis e brancos também não foi nada boa, para não variar.
Até ao fim, foi um líder à procura da sorte, de um desvio feliz, de um passe longo que encontrasse o destino do golo, mas nem o empenho de Aboubakar bastou. O FC Porto não voltou nada bem e a liderança do campeonato pode fugir já nesta primeira jornada pós-covid.
Em relação ao jogo do Dragão, o Famalicão esteve muito melhor do ponto de vista defensivo. A equipa de João Pedro Sousa não cometeu tantos erros, apresentou-se segura no eixo central, mesmo sem Gustavo Assunção, e foi objetiva no momento de atacar a baliza azul e branca, cheirando os melhores momentos para criar mossa.
Esperava-se mais deste FC Porto. Por momentos superiorizou-se, mas faltou mais qualidade nos momentos decisivos, atrás e à frente. Pepe e Marchesín não ofereceram segurança, Soares e Zé Luís acrescentaram pouco ou nada. A resposta coletiva terá de ser outra para o que resta da luta com o Benfica.