«Rosto da mudança» num clube que está «débil e frágil»: as propostas de candidatura de José Fernando Rio

A 6 e 7 de junho, o FC Porto vai a votos. Pinto da Costa, presidente do clube há 38 anos, terá a oposição de Nuno Lobo e José Fernando Rio. O candidato da lista C, José Fernando Rio, esteve nesta tarde de sexta-feira à conversa no podcast A culpa é do Cavani, e expôs alguns dos pontos-chave da candidatura que lidera.

O zerozero reuniu os pontos-chave da entrevista (veja na íntegra aqui), que abordou as questões de uma eventual sucessão na presidência, finanças, scouting ou formação, entre muitas outras.

Fim de ciclo de Pinto da Costa: Jorge Nuno Pinto da Costa já foi o maior presidente de todos os tempos. Acho que nos últimos anos tem havido uma degradação da qualidade das medidas tomadas quer a nível do clube, da SAD, desportivas e financeiras. Há coisas evidentes demais, a começar pelas contas do clube e a terminar na performance desportiva da equipa principal. Nesta altura o FC Porto vive uma situação débil e frágil com alguns constrangimentos. Há dois fatores determinantes para caraterizar este momento. Pinto da Costa deixa uma SAD em falência técnica e, em termos desportivos, tem apenas um campeonato nos últimos seis anos, que é uma coisa impensável para um portista. Pinto da Costa tem uma capacidade que é rara, que é a de se reinventar. Acho que, nos últimos quatro anos, isso não aconteceu e é muito difícil que aconteça nos próximos quatro.  

Razão para a candidatura: Acho que é absolutamente decisivo para o futuro do clube haver uma tomada de decisões que eu não vejo os atuais dirigentes com vontade e capacidade para tomar. 

A falta de comentários do presidente: Vejo com alguma estranheza, confesso. Durante o decorrer desta campanha, em que Pinto da Costa não participa, só de forma institucional, de forma indireta, eu aprendi a respeitar o Nuno Lobo e porque é tão portista como todos os que estamos aqui. A melhor arma é a sobranceria e fingir que não existe esta candidatura. Quem está instalado sabe que o maior perigo sou, a minha equipa, as minhas ideias e aquilo que represento. Julgo ter uma boa imagem diante dos portistas e a melhor maneira que eles acham que me combatem é fingir que eu não existo. A campanha tem sido positiva. 

Candidatura de Nuno Lobo para afastar votos: Eu não posso afirmar uma coisa dessas. O Nuno Lobo tem se esforçado para passar a sua mensagem. Acho que lançar 250 medidas parece-me um bocadinho populista e longe da realidade. Mas para quem está no lugar, é bom que a suposta oposição apareça dividida e, aparentemente, para quem vê de fora, é uma candidatura que dá jeito à atual direção. Um dia antes do prazo legal para entregar as candidaturas, o Nuno Lobo não tinha nada pronto: assinaturas, não tinha nomes para anunciar. Beneficiou de uma suspensão do prazo de um mês e meio para apresentar a sua candidatura. Resta-me aceitar essa realidade e apresentar as minhas ideias para convencer os sócios.

«Formação é um pilar fundamental da minha campanha»

Porquê José Fernando Rio? Primeiro porque não fui eu que trouxe o clube até esta situação de falência técnica. Foi esta direção e esta administração da SAD. O FC Porto, no último semestre, apresentou um prejuízo de 52 milhões de euros, tem um passivo acumulado 444 milhões. Sem contas sustentáveis durante várias épocas, não há capacidade desportiva da equipa principal de futebol. As contas são uma coisa muito importante e não aparecem aqui como um pormenor. Não ter um défice deste tamanho, não ter prejuízo é decisivo para manter o clube vivo, mas para manter a grandeza do clube. Os sócios não podem olhar só para a equipa de futebol porque essa performance desportiva depende da situação financeira. 

Nunca seremos um clube milionário, o céu não é o limite para as receitas do clube e, nesse caso, tem apostar na formação. Ajuda a manter a identidade da equipa de futebol. Um jogador formado no FC Porto sabe quais são os valores e conhece bem os sócios e adeptos. E depois também permite mais valias com a transação dos passes destes jogadores. A formação é um pilar fundamental da minha campanha e tem de ser também do FC Porto. Tem de haver um aproveitamento desportivo e depois financeiro destes jogadores.

O FC Porto tem de voltar a ser um pilar nas instituições desportivas portuguesas. A voz do FC Porto não tem o peso que já teve na Liga, na FPF, mesmo junto do Governo. Parece que perdeu um pouco do poder que tinha, deixou que outros ocupassem um lugar que era deles. Tem de voltar a ter uma voz ativa forte nestes lugares. A sensação que fica é que, quem manda no futebol é o Benfica. O FC Porto tem demérito porque deu a oportunidade de agarrar esse momento. Comigo, vai deixar de ser um clube fechado sobre si próprio. Não podemos estar de costas voltadas aos outros clubes.

Estabilizar a situação financeira: O FC Porto tem de restruturar a sua dívida. Os encargos financeiros, só em juros, foram de 20 milhões de euros. Temos de adequar a dívida consoante as receitas. Vou propor o limite de dívida. A SAD do FC Porto não se pode endividar infinitamente, não pode estar sempre a recorrer a créditos. Estas são as medidas que vão ajudar a restruturar os problemas financeiros. Por outro lado, tem de aumentar as suas receitas. As mais valias dos jogadores de formação, o naming do estádio não são as únicas maneiras. Há mais sponsorização disponível no clube, temos de aumentar a receita financeira, tem de aumentar os seus direitos de televisão, temos de obter mais receitas com o dia de jogo, os adeptos têm de gastar mais dinheiro no estádio. 
 
Redução de custos: Há dois campos onde se pode atuar de imediato. Um tem a ver com os gastos com o pessoal da administração. Vou propor uma redução em 50% da remuneração fixa dos administradores e instituir um sistema de incentivos, uma remuneração variável, quando se verificarem fatores como a conquista de títulos. A outra rubrica onde é possível uma redução de custos tem a ver com os fornecimentos de serviços externos ao FC Porto. Há muitos destes serviços que podem ser feitos dentro de casa. Nos últimos anos temos contratado fora do FC Porto e isso não pode acontecer de maneira nenhuma. 

«O FC Porto sonha em voltar a conquistar uma prova europeia»

Folha salarial do plantel principal: É fundamental e isso faz-se através de mais jogadores da formação. O reforço e a restruturação do scouting. O FC Porto era uma referência mundial em descobrir jogadores e potenciá-los para uma venda milionária. A formação e o scouting são fundamentais para a redução da folha salarial. Não podemos estar sempre a deixar sair as suas referências, muito menos deixar sair jogadores a custo zero, como os últimos que saíram, que eram referências da equipa principal. 

O FC Porto sonha em voltar a conquistar uma prova europeia, tenho isso como um dos meus objetivos. Eu vejo as outras equipas a usarem a Liga dos Campeões para descansar ou testar jogadores. Quando vamos, é para ganhar. 

Garantia: Posso garantir que o FC Porto, clube, será sempre o maior acionista da SAD. A única hipótese é em caso de vida ou de morte. É fundamental manter o domínio da SAD. Nunca pode vencer o suficiente para deixar de ter a maioria do capital. 

Regresso da Liga: Tenho uma sensação que, se o clube que estivesse em primeiro lugar,fosse o outro, o campeonato não se retomava e o título já tinha sido atribuído. Há clubes com mais poderes do que o FC Porto e menos dependentes desta receita destes jogos em casa. Se o clube estivesse mais pujante, não só financeiramente, mas também dentro das instituições do futebol, poderíamos ter chegado a outro tipo de soluções. Eu espero que o campeonato não retome sem que fique definido o que acontece se ele tiver de parar outra vez. Faz muito mais sentido que se a classificação que vigorar for a que vigora no momento da interrupção.

«É preciso dar mais atenção aos sócios»

Regresso de um diretor geral: Tem de haver uma visão estruturada para todo o futebol do FC Porto e o Antero Henrique foi um homem que fez um excelente trabalho. Um dos problemas que o clube tem tido é não saber substituir as pessoas que vão saindo. O Antero Henrique, o Angelino Ferreira, o próprio Fernando Gomes, não foram substituídos à altura. Sobre regressos, isso depende de cada um. Não faço ideia do que eles pensam sobre o futuro. 

Relação com os sócios: O que eu começaria por fazer é uma campanha de refiliação dos antigos sócios. Eu fiquei espantado com a quantidade de pessoas que eram sócias e já não são. Há muita gente que desistiu. Assim como é urgente uma campanha para angariar uma campanha para novos sócios. Também é preciso melhorar a experiência durante os jogos. Essa experiência pode ser muito melhorada, é necessária mais animação para chamar as pessoas mais cedo ao estádio. E a medida que eu acho que beneficia mais os sócios é aumentar e melhorar o nível de parcerias para oferecer benefícios a quem tem o cartão de sócio do FC Porto. É preciso dar mais atenção aos sócios.

Modalidades e equipas femininas: Umas das minhas preocupações é a vertente feminina das modalidades que o FC Porto pratica. É um dos meus objetivos no meu mandato. Um clube como este consegue reunir condições para fazer voltar o voleibol masculino, tem de encontrar maneira de ter uma equipa de futsal, uma solução para ter uma equipa de futebol feminino. E o FC Porto tem de voltar a ter aquelas modalidades que sempre caracterizaram o clube. Temos de ter atletismo, ginástica, karaté, ténis de mesa, judo. O clube tem capacidade de oferecer mais do que tem na altura. Temos de ter mais um pavilhão e há um projeto para uma academia para as modalidades.

O apelo: Quero ser e serei o rosto da mudança. Temos um clube que está mais débil do que estava há quatro anos. É preciso haver uma mudança e isso tem de ser feito rapidamente. Os problemas têm-se vindo a agravar. Somos uma equipa de grandes portistas e queremos que o clube tenha uma gestão rigorosa e transparente. Queremos que a equipa de futebol volte a ser uma referência. Eu tenho soluções para pôr ao serviço do FC Porto. Vamos ter pegar o touro pelos cornos para que o clube passe a ter resultados positivos na conta e passe a ganhar muito mais na sua equipa profissional de futebol.