Adiar o Mundial? «Perante este cenário, diria que sim»

A Covid-19 pode alterar todos os planos dos campeões europeus para o Mundial. Depois da qualificação alcançada na Póvoa de Varzim, a equipa técnica de Jorge Braz começou a preparar de imediato o certame, apesar de tudo continuar incerto.

Explicando que votava «sim» ao adiamento do Mundial, o selecionador nacional explicou, nesta primeira parte da entrevista ao zerozero, todas as condicionantes e formas de preparação que o Mundial terá nos portugueses, seja ele jogado em setembro ou depois. Seja qual for a data, o objetivo é claro: sair da Lituânia com uma medalha.

«Estou a ver tudo demasiado incerto...»

ZZ: Na Póvoa de Varzim perguntaram-lhe se a preparação do Mundial já estava na sua cabeça... Depois do bom vinho e dos festejos, em que fase da preparação estamos?

JB: É evidente que começámos logo a trabalhar, ver como seria o processo de preparação e já tínhamos tudo praticamente alinhado. Onde iniciamos, como iniciamos, jogos de preparação, torneio de preparação, falar com os adversários, muitos contactos, o volume de treino, como nos íamos organizar... Toda a planificação estava quase finalizada, estávamos a acertar os detalhes. Neste momento, estamos todos um bocadinho preocupados, mas temos de continuar, no mínimo, a prever os possíveis cenários e se por acaso se manter o Mundial, as coisas estão organizadas e é para avançar. Se houver alterações, vamos adaptarmo-nos, reajustar. Estamos a aguardar, mas a preparar o Mundial da mesma forma.

©Zé Paulo Silva

ZZ: Pesando todos os dados... adiamento do Mundial: sim ou não?

JB: Perante este cenário, diria que sim. A Ásia a terminar a qualificação a 16 agosto, mesmo em cima do Mundial, a CONCACAF ainda não tem datas e está a começar a sentir o problema em alguns países... Estou a ver tudo demasiado incerto para uma competição desta natureza. É o Mundial, é onde todos querem estar. Já temos a condicionante de trabalhar com jogadores que estavam de férias, fazer uma convocatória com base no fim da época passada e neste momento nem sabemos quando a época vai acabar... Acho que está demasiada incerteza. Ainda temos um espaço temporal grande, vamos ver como correm os próximos dois meses, mas julgo que uma competição desta magnitude justicava-se prever já um adiamento. Não ser em setembro e ser um bocadinho mais para a frente.

ZZ: Se o Mundial for adiado de que forma complica todo o trabalho que já está planeado? É começar do zero?

JB: Altera-se completamente. O Mundial com esta data obriga-nos a fazer todo o período preparatório com os jogadores. A pré-época, no fundo. Os jogadores não estão a competir, têm de começar a preparar-se na seleção e já traz sempre esse tipo de problemas. E depois vai depender dos jogadores que estão no estrangeiro, se as ligas começam ou não... Uma série de condicionantes. Se o Mundial for para dezembro, para final da época seguinte... Aí nós teremos um processo normal. Jogadores a disputar a liga, convocatória, duas semanas de preparação... Um processo como foi o do Europeu. Iremos reajustar e preparar. Preparar vamos sempre prepararmo-nos da melhor forma. Não há cá desculpas. Se for assim, é assim e havemos de chegar lá bem. Se for a meio da época também nos iremos apresentar bem no Mundial.

ZZ: Qual é o fator que tem mais peso na preparação de uma prova destas?

JB: A sequência do que vai acontecer no Mundial é muito importante. Do meu ponto de vista e os últimos Mundiais foram nessa perspetiva, nós sabemos que queremos começar bem o Mundial, mas queremos é acabar bem, ficar até ao fim. E como preparamos a Seleção para que aquelas 3/4 semanas estejamos sempre bem a competir e a perceber que queremos começar bem, mas também acabar bem. Que é o problema deste tipo de Mundial porque o primeiro jogo oficial da época é o primeiro jogo do Mundial. Isto não é fácil... Sabemos que a evolução e o crescimento dá-se durante toda a competição. E o lado estratégico, de preparar muito bem os jogos, quais são os adversários do grupo, quais são as possibilidades de adversários a seguir. Os que temos menos tempo para preparar do ponto de vista estratégico são quartos, meias, final... Mas aí há outras questões que se sobrepõem e são decisivas que é a motivação de chegar lá, mesmo com poucos dias para preparar.

ZZ: E quais os adversários que se analisam numa prova destas? Todos?

Portugal ficou em quarto lugar no último Mundial ©FIFA

ZZ: Alguns dos jogadores do núcleo duro podem fazer a sua última fase final no Mundial. Se for em 2021, teme que alguns já não cheguem lá? 

JB: Vamos ver... Penso que na próxima época ainda vão todos estar a competir. É uma questão de forma desportiva para as nossas decisões finais. Como é evidente, é mais uma época que se altera... De gente que está muito motivada para este Mundial e que podia ser o último Mundial... prolongando mais uma época, muda um bocadinho. Mas cá estaremos para analisar. Não é por alguns meses que se vai alterar muita coisa.

ZZ: Por falar em núcleo duro... Foi assim que chegámos a campeões europeus. Como é que se gere a entrada de elementos mais novos nesse grupo?

JB: Estão sempre a aparecer miúdos novos. Reintegrámos o Miguel [Ângelo] por exemplo, que já tinha estado no Mundial, tivemos o Erick, o Edu, o Pauleta... Há uma série de miúdos que estão a aparecer. E se baixarmos ainda mais nos sub-21 ou sub-19 há muitos com grande potencial. Mas jogar uma fase final... o objetivo está ali. Se conseguirmos minimamente perspetivar o médio/prazo, claro que pensamos nisso. Mas julgo que estão a aparecer inúmeros jogadores com potencial, graças ao trabalho dos clubes, das Associações. O futuro está minimamente garantido.

ZZ: Seja em 2020 ou 2021... Com o que os portugueses podem sonhar na Lituânia?

JB: Com esta incerteza toda... é como disse na qualificação. Na última vez que lá estivemos chegámos ao fim e não trouxemos nenhuma medalha. Queremos estar até ao fim e melhorar. E para melhorar temos de ir às medalhas. Depois a cor logo se vê. Para melhorar já terá de ser uma participação muito muito boa. E isso está no nosso interior, de todos. Queremos estar até ao fim e tem de ser melhor do que o da Colômbia e implica ir às medalhas, isso é muito claro.

©Zé Paulo Silva