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    Taça Campeões 1969/70
    Grandes jogos

    Benfica x Celtic: cara ou coroa?

    Texto por Álvaro Gonçalves
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    Cara ou coroa? A pergunta faz parte do nosso quotidiano desde a infância, seja por causa dos jogos de futebol na rua ou por qualquer outro motivo em que se tenha que escolher algo. No futebol, é uma pergunta comum que o árbitro faz aos capitães de equipa na hora de escolherem bola ou campo antes do jogo. Mas outrora houve eliminatórias de competições europeias a serem decididas com esse gesto tão simples. O Benfica que o diga.

    Ainda não se recorria à marcação de grandes penalidades quando o Celtic visitou o Estádio da Luz a 26 de novembro de 1969. Jogava-se a segunda mão da segunda ronda da Taça dos Campeões Europeus e o Benfica tinha perdido por 3x0 na primeira mão, com golos de Thomas Gemmell, William Wallace e Harry Hood.

    Vamos ao jogo!

    Era árdua a tarefa que os comandados de Otto Glória tinham pela frente, mas aos poucos foi-se tornando acessível. 35 minutos, Eusébio fez o 1x0 para o Benfica e o 1x3 na eliminatória. Apenas cinco minutos depois, John Fallon, guarda-redes do Celtic, foi batido pela segunda vez, desta feita por Jaime Graça.

    Chegava o intervalo e a esperança da nação benfiquista era muita. Os jogadores regressaram ao relvado para disputar a segunda parte. Nas bancadas do velho Estádio da Luz, 50 mil pessoas desesperavam pelo terceiro golo que teimava em não surgir.

    Billy McNeill, dois anos depois de ter levantado o troféu da Champions no Jamor, venceu Coluna no «jogo» da moeda ao ar, na Luz @Getty / Central Press
    O tempo passava e nada. Não havia unhas ou cigarros que resistissem a tanto nervosismo. Período de compensação. O árbitro holandês Laurens Van Ravens tinha o apito na boca. Estava prestes a dar o término do encontro. Último lance do jogo. Diamantino Costa, que aos 62 minutos tinha entrado para o lugar de Raul Águas, cabeceou a bola. Ouve-se um apito mas, indiferente a tudo isso, o esférico entrou na baliza defendida por Fallon. Golo. O tão ansiado golo do 3x0 que dava para empatar a eliminatória.

    Lançou-se a confusão no Estádio da Luz. Os escoceses reclamavam que o apito do árbitro aconteceu antes do cabeceamento de Diamantino. Os encarnados, como é lógico, diziam que o apito aconteceu já depois da bola ter entrado.

    Sem conhecerem a decisão de Laurens Van Ravens, que até decidiu a favor do Benfica, os adeptos presentes no Estádio da Luz invadiram o relvado e obrigaram a polícia a repor a ordem. Minutos depois, não muitos, com a situação sob controlo por parte das autoridades, as equipas regressaram dos balneários, para onde o árbitro as tinha mandado aquando da invasão.

    Jogava-se um prolongamento, mas os 30 minutos passaram depressa. As contas da eliminatória estavam na mesma. O recurso às grandes penalidades ainda não era deste tempo, portanto, a 'moeda ao ar' decidiria quem seguia em frente na competição.

    Depois da invasão, o árbitro holandês recusou-se a lançar a moeda no centro do relvado e chamou os capitães e treinadores de ambas as equipas ao seu balneário. Otto Glória não queria ver a decisão dramática da moeda ao ar e foi Calado, o seu adjunto, quem seguiu com Coluna ao balneário do juiz. Do lado do Celtic, Billy McNeill era o capitão e o treinador era Jock Stein.

    O momento decisivo

    Os representantes de ambas as equipas e os árbitros juntaram-se no balneário. A tensão e a ansiedade enchiam aquelas quatro paredes. À porta, os jornalistas estavam desejosos por informar os outros jogadores e a sociedade sobre quem era o vencedor da eliminatória.

    Chegou o momento decisivo e as palavras de Billy McNeill, capitão do Celtic, na sua autobiografia, dizem tudo.

    «Respondi cara depois de Stein me ter dito que estava por minha conta. Saiu cara! Ainda estava a festejar quando Van Ravens me perguntou outra vez cara ou coroa. 'Agora é para decidir se és tu ou ele quem vai lançar. Ganhaste tu'. Disse novamente cara e lancei. A moeda voou, bateu no chão e rolou até ao pé direito do árbitro. Aí caiu e...cara! Foi o maior alívio da minha vida», escreveria, anos mais tarde, McNeill sobre o frente a frente com Coluna.

    Tal como a moeda caiu junto do pé direito de Van Ravens, o Benfica caiu na segunda ronda da Taça dos Campeões Europeus e assim se conta a única vez que o Celtic saiu a sorrir do Estádio da Luz. Nesse ano, os escoceses acabariam por chegar à final, mas foram derrotados pelo Feyenoord.

    Comentários

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    motivo:
    TO
    FCP
    2015-08-13 02h08m por tonefcp
    Já gora também o FC do Porto foi eliminado por moeda ao ar numa eliminatória contra o Bordeaux da Taça das Cidades com Feira (antecessora da Taça UEFA) na época 66-67
    TO
    FCP
    2015-08-13 02h06m por tonefcp
    Já agora em 66-67 o FC do Porto também foi eliminado por moeda ao ar, na antiga Taça das Cidades com Feira (antecessora da Taça UEFA) pelo Bordeaux.
    SLB
    2015-01-25 23h29m por paulo218927
    Parece que já aconteceu de tudo ao Benfica. Até um Campeonato invicto não chegou para ser Campeão.
    jogos históricos
    U Quarta, 26 Novembro 1969 - 21:45
    Estádio da Luz
    Laurens Van Ravens
    3-0
    Eusébio 35'
    Jaime Graça 40'
    Diamantino Costa 90'
    Estádio
    Estádio da Luz
    Estádio da Luz
    Portugal
    São Domingos de Benfica - Lisboa
    Lotação120000
    Medidas105x74
    Inauguração1954