Com dois golos na sequência de pontapés de canto e com dois penáltis desperdiçados pelo FC Porto, o SC Braga venceu de forma categórica no Dragão e permitiu ao Benfica entrar mais descontraído no dérbi em Lisboa. Mais do que isso, Rúben Amorim deu uma prova superior de qualidade e competência da sua equipa, que soube discutir o jogo com o adversário - algo que tanto faltava a este clube contra Benfica e FC Porto.
O arranque de jogo trapalhão, um pouco à imagem das corridas desenfreadas dos muitos adeptos que, em hora de ponta, já chegaram atrasados ao recinto, esbarrou parcialmente no madrugador golo do SC Braga. Também aos trambolhões, inicialmente anulado por fora de jogo e depois validado após consulta das imagens. Falamos 'parcialmente' porque, se por um lado os dragões se mantiveram indisciplinados no fio de jogo, por outro o SC Braga agigantou-se na personalidade.
No resto, aplauso ao SC Braga. Tantas são as vezes que se atribuem estes momentos de surpresa ao demérito do clube teoricamente mais forte, que neste caso seria uma injustiça para a personalidade vincada da equipa de Rúben Amorim. Não tanto pela organização, um 3x4x3 a atacar que passava a 5x4x1 a defender, com algumas falhas na forma como surgiam espaços entre-linhas. Mas sim pela impressionante calma e tranquilidade no momento com bola, a sair da pressão portista com qualidade e a conseguir colocar a bola nas faixas e, daí, no último terço. Aí, a definição não foi a melhor, mas os problemas foram vários para Manafá, Marcano e companhia.
Sentia-se na plateia um burburinho. Ansiedade, insegurança e muito nervosismo.
Um a acabar a primeira parte, outro a abrir a segunda. Dois penáltis em pouco tempo para o FC Porto, em disparates de Raul Silva e de David Carmo (que o substituiu ao intervalo), e em desperdícios de Alex Telles e de Tiquinho.
Só que, de repente, no melhor período portista, a equipa bracarense tornou a serenar. E, serenando, voltou a ter capacidade para ter bola e para fazer o adversário correr atrás dele. Rapidamente os espaços surgiram e, quando novo golo apareceu, em novo canto que surgiu na sequência de uma desmarcação de Paulinho, não se pode dizer que tenha surpreendido.
Os últimos minutos, em que não houve capacidade portista para mais do que chuveirinhos, por entre o congelamento minhoto com bola, foram prova disso mesmo.
Entrada de Galeno: Com o FC Porto balanceado para o ataque, Amorim lançou o ex-portista para prender Manafá e para voltar a dar possibilidade de a sua equipa respirar com qualidade. O brasileiro foi sempre ponto de referência, muitas vezes decidiu mal, mas, no fim das equipas, foi essencial para o ressurgimento bracarense.
Jogo com muito trabalho para Carlos Xistra, que recorreu várias vezes ao VAR e que, no fim, teve uma arbitragem positiva. Ficam dúvidas sobre a zona onde Mattheus agarrou a bola numa saída na primeira parte, mas o golo bracarense é bem validado, os penáltis são bem marcados e, pela nova regra do fim da tripla punição, aceita-se apenas amarelo a Raul Silva.
Sabia o SC Braga, pelo poderio do adversário e pelo palco que pisava, que não teria tanta posse como nos jogos anteriores. Não foi isso um problema. Quando a teve, soube sempre o que fazer, foi sereno e esperou pelo surgimento da linha de passe e pelo espaço. Enorme demonstração de qualidade.
Não é que seja um modelo esgotado, até porque Conceição deu novo desenho à equipa, tentou o 4x3x3 e Marega na esquerda. Só que o problema está na forma como a ligação é feita entre a defesa e o ataque. Otávio foi quem mais soube soltar-se das amarras minhotas, mas foi curto e o futebol portista foi, em suma, previsível. À espera dos rasgos individuais que não surgiram.