Não nos interpretem mal nem sintam que, com este título, estamos a menosprezar o Benfica e a sua passagem aos oitavos de final da Taça de Portugal. A sua dimensão acabou por vir ao de cima e, nos últimos 20 minutos, virou o jogo de forma natural. Só que o Vizela merece totalmente a referência porque não foi nada menos do que gigante.
Com menos um desde a expulsão de Ericson, a meio da primeira parte, a equipa vizelense foi formidável não apenas na forma como condicionou o incomparavelmente mais dotado Benfica, mas sobretudo pela capacidade que teve de ameaçar marcar mais e causar uma tremenda surpresa, que seria muito maior para quem não tivesse visto o jogo.
Claro que as forças nunca são as mesmas. Sem dúvida que a qualidade é muito diferente. Obviamente uma joga a Champions e é campeã nacional, outra anda há alguns anos no Campeonato de Portugal a tentar regressar aos profissionais. Tudo isso é verdade, tal como a velha máxima de que no futebol são 11 de cada lado.
Só que, à medida que a primeira parte ia avançando, sem que o Benfica conseguisse mais do que passes longos de Gabriel ou lances de Grimaldo, ora acelerando, ora de bola parada, muito pouco capaz de surpreender um Vizela que não se encolheu para defender o 1x0 - podia mesmo ter aumentado o marcador, a surpresa passou a certeza de que há, nesta equipa de Álvaro Pacheco, muito mais qualidade e arte do que o estatuto poderia aparentar.
Arquitetados por um Samu que apenas pode estar neste patamar se a justificação for algumas más escolhas de carreira ou incapacidade de corresponder quando esteve ao mais alto nível, a equipa da casa era também injetada por uma bancada vibrante e crente que, em contexto de taça, não há impossíveis. Tudo somado, um atrevimento que merecia da plateia o mais forte aplauso e do Benfica as maiores ansiedades. Aliás, isso se viu em várias situações que resultaram em amarelos por puro nervosismo da equipa de Lage.
E bem pior teria sido se, do outro lado, não houvesse uma exceção: Ericson foi desastrado e, sem medir o limite, fez duas faltas merecedoras de cartão, deixando a equipa com menos um. Problema? Para o Benfica talvez...
A alteração de Lage era fácil de prever e aconteceu ao intervalo, com Vinícius a juntar-se a De Tomas, saindo Samaris. Nem por isso resultou. O Vizela, sem precisar do muitas vezes apetecível anti-jogo, privilegiou o espetáculo, apaixonou a plateia e motivou 'olés' (não estamos a brincar, ouviram-se mesmo). Numa exibição de gala, das que qualquer treinador que seja David deve mostrar à sua equipa antes de defrontar Golias, os rapazes vizelenses não se perpetuavam no setor defensivo e arriscavam sempre as idas à frente. Também é mesmo verdade, o segundo podia ter voltado a acontecer.
Bruno Lage continuava a ver a equipa incapaz. Numa opção corajosa, Álvaro Pacheco mantinha a linha defensiva relativamente subida e, na transição defensiva, muitas vezes se via o Benfica colocar quatro na frente, para quatro do Vizela, convidando ao jogo mais direto que era quase sempre resolvido na antecipação. A isso, Lage respondeu com Pizzi com Chiquinho no meio, Jota e Caio a apoiarem os dois da frente. Foram-se os operários, chegaram os criativos e assim o jogo virou.
Só que o tal espaço nas costas da defesa do Vizela haveria de trazer dissabor, pois nisso Carlos Vinícius é exímio e, numa corrida à procura do passe de Caio Lucas, foi mais forte que o opositor e conseguiu o golo da vitória.
Nos últimos 20 minutos, enfim, o Benfica conseguiu a superioridade que se esperava. Mas só aí. E esse é o maior elogio possível a um Vizela que não merecia cair sem prolongamento.
Não foi, foi muito mais do que isso. A equipa do Vizela teve uma enorme vontade de aproveitar as forças das câmaras televisivas mediáticas para mostrar a grande equipa que tem e fê-lo com uma espetacular organização e uma sabedoria do que fazer em campo notável, num jogo em que havia tudo para tremer das pernas.
Não foi no imediato, porque a equipa do Vizela se organizou muito bem mesmo com menos um elemento, mas a longo prazo é evidente que menos uma peça faz muita diferença, sobretudo contra equipas de alto nível. Ericson precipitou-se e, mesmo que surja a discussão sobre se foi um critério demasiadamente apertado ou não, já tem experiência suficiente para não se expor daquela maneira.