A calma de um argentino com sangue nórdico

Não fez uma primeira parte bem conseguida, mas na sua equipa quem o fez? O argentino vinha de 45 minutos com duelos perdidos, más decisões e uma inoperância ofensiva e defensiva gritante, mas na segunda parte transfigurou-se e mudou o jogo por completo. Começou por recuar no terreno para pegar mais no jogo e num dia em que Bruno Fernandes não o estava a conseguir fazer, o argentino deu qualidade à saída de bola dos leões. Depois, com tranquilidade, apareceu nas zonas de finalização para marcar dois golos e ainda podia ter feito mais. Alguém diz que tem sangue latino?

Vinha de uma péssima exibição na Noruega, onde, para o zerozero, foi o pior em campo. Aí, dissemos que a jogar assim não podia ser solução, mas Borja quis mostrar outra face. A subida de temperatura de um país para outro fez bem ao colombiano, que substituiu Acuña com qualidade. Pecou por algumas hesitações na hora de sair para o ataque, apupadas pelos adeptos, aplaudidas pela equipa técnica, mas esteve a muito bom nível defensivamente e ainda desequilibrou no ataque. Sem dúvidas, o melhor jogo da época.

Aos 18 anos, fazer o primeiro jogo na Liga é sempre marcante, fazer o primeiro jogo logo em Alvalade pode ser ainda mais e causar algum nervosismo. Pode, mas nem sempre acontece. Com Nilton Varela não aconteceu. O lateral estreou-se frente a um clube que conhece, uma vez que passou pela formação do Sporting, e fez um jogo interessante, quer no capítulo defensivo - Bolasie não conseguiu passar pelo ainda júnior -, quer no ofensivo, com sucessivas subidas para trocar bola com os colegas. Acabou o jogo em dificuldades físicas, mas entende-se. Deu tudo.

Deu nas vistas no melhor período da equipa azul, com a sua capacidade de transporte e qualidade de passe curto e longo. No meio-campo, aproveitou que Show estava a controlar a zona mais defensiva para chegar mais à frente e tentar combinações com os seus colegas. Faltou-lhe algum pulmão na segunda parte para ajudar a segurar os ataques rápidos dos leões, mas o que fez no início da partida ajuda a explicar o desgaste.

Pode parecer ingrato colocar neste espaço um jogador que deu tudo desde o primeiro minuto de jogo, mas a verdade é que essa vontade em fazer tudo bem e o mais depressa possível acabou por prejudiciar o internacional português, que se apresentou a um nível muito abaixo do que costuma fazer. Precipitado sempre que tinha bola, o capitão corrigiu, e bem, os colegas, mas esqueceu-se de olhar para o jogo que vinha fazendo. Somou más decisões e maus passes e acabou por dificultar o jogo coletivo por essa constante necessidade de fazer tudo bem.

Apenas meia hora em campo ajuda a explicar a exibição pouco conseguida do internacional português. A estratégia do treinador não resultou e Neto acabou por ser o sacrificado para a entrada de Camacho. À saída, o sentimento de desilusão era visível no rosto do defesa central, que está longe de apresentar o nível que prometeu na altura da sua contratação e até chegou a mostrar na pré-época.

Prometeu há duas épocas, mas tarda em conseguir mostrar todo o talento que lhe é conhecido. Na primeira parte ainda tentou combinar algumas vezes com os colegas, mas foi o elemento menos do meio-campo, mostrando pouca disponibilidade no momento ofensivo e por isso não foi de estranhar quando caiu de rendimento na segunda parte, quando o Sporting pressionou mais. Caiu a pique e acabou por ser o primeiro a sair. Com justiça.