A época não podia ter começado pior. Um começo atribulado, tal como os últimos tempos do clube. Um começo que não se previa há uns meses, quando o Sporting festejava a conquista da Taça de Portugal, já depois de ter conquistado a Taça da Liga. O que se esperava que saísse - Bruno Fernandes - ficou, o que se esperava que continuasse - Keizer - saiu e antes dele já havia algumas mudanças.
Apesar do mau arranque, o Sporting aposta numa época melhor do que a anterior. Pelo menos foram essas as expectativas transmitidas por Frederico Varandas, antes de começar a época. O mercado foi atípico, muito porque o clube ficou à espera de uma venda que acabou por não fazer, e o fecho trouxe novidades.
Troca de treinadores em Alvalade, a segunda do atual presidente, e um mar de dúvidas para o futuro. Quem ficou e o que poderá dar? O que se viu e o que pode ver-se ou melhorar nos próximos tempos? Tentaremos responder a essa questão nos próximos parágrafos.
Leonel Pontes é uma das muitas incógnitas deste Sporting. O treinador teve um começo invicto nos sub-23 dos leões e foi promovido à equipa principal de forma interina. Diz-se que o técnico tem seis jogos para mostrar o que vale e tentar convencer Varandas. Uma coisa já se sabe, Leonel Pontes não vai utilizar a mesma equipa de Marcel Keizer.
Os leões animaram (e muito!) o último dia de mercado, com as saídas de Raphinha, Diaby e Thierry Correia e as entradas de Bolasie, Jesé e Fernando. O avançado que os adeptos pediam para substituir Bas Dost e dar concorrência a Luiz Phellype é que não apareceu, ainda que o presidente do Sporting considere Jesé um avançado. É, portanto, um Sporting diferente e torna-se difícil dizer o que esperar.
Em relação à última época, a baliza continua a ser defendida por Renan, enquanto Viviano «passa férias em Lisboa» e a defesa também não sofre muitas alterações. A dupla Coates e Mathieu deve manter-se, apesar dos erros do uruguaio nesta fase inicial da época e Acuña tem tudo para ser o lateral esquerdo dos leões, com Rosier a ser contratado para assumir a titularidade no lado direito, embora o seu estado físico seja uma incógnita depois de tanto tempo parado.
O meio-campo perdeu Gudelj e também não ganhou muitas caras novas. Eduardo chegou do Belenenses SAD, mas ainda não conseguiu convencer. O médio foi o substituto de Doumbia no primeiro jogo da Liga, mas não parece ser essa a posição ideal para o brasileiro, que aparenta ser mais um substituto de Wendel. O ex-Fluminense encara esta como a época de afirmação e depois das saídas de Raphinha e Bas Dost procura assumir um papel mais importante, logo atrás do capitão.
A continuidade de Bruno Fernandes foi tema que durou meses, mas a verdade é que o médio ficou mais esta época e com ele o Sporting ganha uma força diferente. Se a decisão de manter o internacional português pode ser discutível do ponto de vista financeiro, do ponto de vista desportivo é um sinal muito positivo para os leões, que não têm assim tantos jogadores capazes de decidir partidas.
Dos reforços, Vietto é aquele que tem aparecido mais e depois de alguma desconfiança deu sinais de que pode vir a ser importante, mas é uma incógnita, tal como outras das caras novas em Alvalade. Jesé prometeu, mas os anos têm passado e as experiências estão longe de ser positivas, Bolasie está distante do que mostrou no Crystal Palace e Fernando é uma promessa, como é Plata, que podia ter ganho espaço com a saída de Raphinha e Diaby, mas que passou a ter ainda mais concorrência, ao contrário de Luiz Phellype. O ex-Paços de Ferreira é o único avançado de raiz dos leões e é nele que está depositada a responsabilidade de fazer esquecer Bas Dost, que marcou 93 golos em Alvalade. Há mesmo muitas dúvidas sobre o que pode ser esta equipa do Sporting, quer a nível individual, quer a nível coletivo.
A análise aos reforços foi longa, mas o Sporting assim obrigou. As mudanças de última hora tornam esta equipa imprevisível, mas a última mudança deu o toque final num mar de imprevisibilidade. Leonel Pontes vai, primeiro, querer apresentar resultados, embora lhe tenha sido pedido para também apostar na formação. Numa fase inicial e decisiva, parece-nos um pedido arriscado.
Com Keizer, os leões jogavam num 4x2x3x1 e Leonel Pontes não deve mexer muito neste esquema, atendendo ao que tem vindo a fazer. Tanto no Marítimo como na equipa sub-23 dos leões, o treinador apostou sempre em três médios diferentes. Assim, Doumbia é o estabilizador - como foram Danilo Pereira e Rodrigo Fernandes -, Wendel o transportador - à semelhança de Bruno Gallo e Matheus Nunes - e Bruno Fernandes o homem que aparece em zonas de finalização - como aconteceu com Fransérgio e Tomás Silva. A dinâmica na zona interior não deve sofrer muitas alterações, mas há uma peça que pode mudar tudo isto: Luciano Vietto.
O avançado tem começado à esquerda, sempre a aparecer nas costas do avançado e abrindo espaço para Acuña ou Bruno Fernandes, mas Leonel Pontes tem sido mais adepto de extremos e o mercado trouxe-lhe isso mesmo. Bolasie, Jesé e Fernando destacaram-se no lado esquerdo do ataque e podem "roubar" o lugar ao argentino, que é capaz de jogar em várias posições do ataque. Na equipa sub-23 dos leões, os extremos tinham liberdade para desequilibrar, mas também desciam quando a equipa jogava um futebol mais pausado e de equilíbrios, porque Leonel Pontes é um treinador mais equilibrado do que Marcel Keizer e pode ser aí o ponto de principal mudança nos leões.
Com o holandês, o Sporting nunca foi um exemplo no que toca a defender. A transição defensiva era sofrível e os números explicam um pouco isso. Em 42 jogos de Keizer, o Sporting só não sofreu golos em 10, tendo sofrido 47, ou seja, mais do que um por jogo - 1,12 golos/jogo. Números atípicos em equipas grandes no futebol português. Leonel Pontes deve começar a trabalhar a equipa neste aspeto, resta perceber de que forma o pensa fazer e se vai mudar algumas peças nos setores mais recuados - Neto procura roubar o lugar a Coates e Battaglia voltou de lesão.
Nesta fase, a pergunta que fazemos terá de ficar sem resposta. É impossível saber que futebol nos vai trazer este Sporting. Caso para dizer que o melhor é mesmo «não perder os próximos episódios».
Ainda não há uma estratégia definida ao estilo das individualidades, mas este é um Sporting com muitas soluções ofensivas, todas diferentes uma das outras. É inegável que não há alternativa direta a Luiz Phellype, mas há outro tipo de alternativas que podem funcionar e tornar este um Sporting perigoso. Há qualidade técnica, velocidade, capacidade de remate e a possibilidade de fazer um ataque móvel e que pode desbloquear as partidas mais fechadas.
Com Marcel Keizer a equipa leonina era muitas vezes apanhada em contrapé e deixava muito espaço para contra-ataques. O problema foi claro na pré-época e continuou nos jogos mais recentes - a derrota com o Rio Ave é um exemplo claro. Leonel Pontes, ou o homem que se seguir, tem de corrigir este aspeto com alguma urgência.
Os adeptos do Sporting pedem aquilo que pedem sempre, o campeonato. Os leões estão distantes dos rivais e há uma certa consciência disso, ficou visível na época passada, apesar da conquista de duas Taças, que este ainda não é um Sporting capaz de lutar lado a lado com Benfica e FC Porto num campeonato longo e onde vão sendo cometidos vários erros, mas ano após ano o objetivo de um clube como o Sporting passa por voltar a ser campeão.
Foi o melhor jogador do campeonato passado e é, de forma indiscutível, o melhor jogador do Sporting. Falou-se muito de uma possível saída, mas o capitão ficou e com ele os leões têm de ser olhados de outra forma. A época passada teve números impressionantes e difíceis de repetir, mas com Bruno Fernandes tudo parece possível. Capacidade de liderança, de passe, finalização e até defensiva. Bruno é um jogador completo e faz do Sporting uma equipa mais completa.
O futuro de Leonel Pontes depende do mesmo que o futuro de todos os outros treinadores da Liga: resultados. O treinador foi promovido dos sub-23 à equipa principal de forma interina, mas Varandas já disse que não há um prazo. O técnico procura aproveitar esta oportunidade para se afirmar e passar a ser encarado não apenas como o presente do Sporting mas também como o futuro.