Alvibranco 25-04-2024, 09:39
Duas lendas numa foto e um reencontro prestes a acontecer pela última vez nos relvados. Fernando Torres termina a carreira esta sexta-feira e Iniesta, numa emotiva carta difundida pela imprensa espanhola, já sente saudades de «El Niño».
Antes do último jogo de Fernando Torres, eis a carta traduzida de Iniesta para o seu amigo.
«Que estranho. Não me digas que não, Fernando. É muito estranho, diria que estranho de uma forma bonita. Aqui estamos os dois, prestes a jogar a tua última partida como profissional. A mim ainda falta. Aqui estamos. Na outra ponta do mundo. É como se a vida, caprichosa como é, nos tivesse trazido até ao Japão para nos despedirmos. O futebol uniu-nos há mais de 20 anos, quando eramos uma crianças- bem, tu serás para sempre «El Niño» - e nunca nos separará. Encontrámo-nos quando tínhamos sonhos utópicos. Aquele golo que nos deu o Europeu sub-16 com a seleção em Inglaterra. Nunca esquecerei o gesto que tiveste ao dedicar-mo. Eu estava a ver na televisão porque tive de voltar para casa por causa de uma lesão.
Lembras-te, Fernando, aquela camisola assinada em Trinidad e Tobago com uma promessa que parecia irrealizável? Mas fizemo-la. E desde então, sempre juntos. Viena, Joanesburgo... Aquele inesquecível passe do Xavi para que desses razão ao sábio, ao maestro, ao Luís [Aragonés]. Aquele centro teu para que todos marcássemos o golo mais importante das nossas vidas. Separados, mas sempre juntos. E até ao último momento. Por cima de camisola ou clubes. Vivíamos em cidades distintas. Tu, em Madrid e eu, em Barcelona. Mas nunca fomos inimigos. Simplesmente amigos que vestiam uma camisola diferente, fundidos, isso sim, sempre numa pele vermelha. Ou «Rojita», como gostamos de lhe chamar.
Porque a nossa história, ainda que muitos não saibam, vem de longe. Desde muito longe. Pouco importou que um dia tivesses rompido fronteiras a caminho da Premier League, onde descobriram o talento de um «Niño» único, primeiro no Liverpool e depois no Chelsea. Quando voltaste a casa, ao Atlético, emocionei-me como todos os outros porque o futebol, mais do que os êxitos ou fracassos desportivos, é uma forma de entender a vida. E tu, Fernando, dignificaste este desporto. O nosso desporto. Não falo dos golos que marcaste, pois há uns anos que perdi a conta, nem dos títulos que conquistaste durante a tua maravilhosa carreira. Falo do teu comportamento, respeito pelo jogo, ao companheiro, ao rival e, claro, à bola.
Essa que começamos a passar em campos anónimos, longe de focos, câmaras, até chegar a partilhar milhares de experiências antes de ganhar um Mundial para o nosso país. Quando coincidamos em Espanha, assinarei aquela camisola, aquele tesouro que ninguém descobriu. Ainda que, na verdade, não exista maior tesouro do que a tua amizade, Fernando.
Foi uma viagem maravilhosa. Levou-nos por todos os cantos do Mundo. E vê onde estamos hoje. Em Tosu, jogando tu e eu uma partida de futebol. Uma mais. Mas não é uma mais. É a última. Quem diria! Enfrentas o [David] Villa e a mim. Depois, voltarás a casa. Os teus esperam-te, ainda que tenhas que saber que a bola está mais triste hoje do que ontem. Desfruta de todo o que vem agora e sê feliz. Mas sinto a tua falta, Fernando. Ainda não foste e já sinto a tua falta.»
1-6 | ||
Takashi Kanai 79' | Hotaru Yamaguchi 12' 86' Andrés Iniesta 20' (g.p.) Junya Tanaka 23' Kyogo Furuhashi 54' 73' |