Longe de ser um desconhecido para os portugueses, a chegada de Carlos Vinícius ao Benfica surpreendeu mais pelo valor da transferência do que pelo valor futebolístico.
Em Queluz, o avançado chegou, viu e venceu. O Real SC foi despromovido ao Campeonato Nacional, mas Carlos Vinícius, o melhor marcador e eleito melhor avançado da Ledman LigaPro, teria pela frente um destino surpreendente. A desatenção dos clubes portugueses levou-o para Nápoles, a troco de quatro milhões de euros. A viagem por Itália foi curta e o regresso a Portugal não se fez esperar.Poucos são aqueles que não recordam a meia época de Carlos Vinícius em Vila do Conde. No capítulo futebolístico foi meio ano de sonho para o avançado, que, no capítulo pessoal, passou por momentos dramáticos antes de rumar ao Mónaco, novamente por empréstimo do Nápoles. O trajeto de vida de Carlos Vinícius deixa uma garantia aos benfiquistas. Vontade é coisa que não falta e mesmo perante os desafios da vida o brasileiro tem conseguido sair por cima e fazer golos, como aquele que fez na estreia pelo Benfica na Liga NOS. Curiosamente, a sua missão nem sempre foi essa.
Os números de Carlos Vinícius em Portugal não enganam. Ali está um avançado. Daqueles que garantem golos, mas nem sempre foi assim. Alto, rápido, possante... defesa. Essa foi uma das posições de Carlos Vinícius no futebol brasileiro, depois de ter jogado atrás do avançado e como médio defensivo. No Palmeiras era apenas a sexta opção para a posição de defesa central, só que, em 2015, Marcos Valadares chegou ao clube e o defesa Carlos Vínicius tornou-se avançado.
O treinador que mudou a carreira (e a vida) de Vinícius aconselhou inclusive o então jovem defesa a ver vídeos de Ronaldo, o Fenómeno, para melhorar as suas capacidades como avançado.
«Sempre tive facilidade para me adaptar às posições. No Palmeiras, eu estava como defesa central, mas o Marcos Valadares chegou e perguntou se eu não queria uma oportunidade para jogar como atacante. Eu aceitei e logo dei a resposta. Graças a Deus, as coisas correram bem para mim, fiz golos, fiz tudo aquilo que ele me pediu. Foi daí que começou», recordou ao jornal Globoesporte.
O nascimento do filho quando tinha apenas 19 anos levou-o a ponderar abandonar o futebol. Carlos Vinícius precisava de «levar o pão para casa», como revelou numa entrevista ao zerozero. «A água já estava cá em cima, não dava para mais» e o fim parecia ter chegado ainda antes do começo. Vinícius chegou mesmo a revelar à mulher que iria desistir da carreira de futebolista, mas a resposta veio em forma de pergunta: «O que vai fazer?».
Pergunta difícil de responder, mas que não fazia Vinícius mudar de ideias. O «ganha pão» estava na cabeça do brasileiro, que procurava dar uma vida digna à família que começava a criar. Nesse período de indefinição, a ajuda dos sogros foi fundamental e eis que de Portugal surgiu uma mão amiga. Tudo mudou.
Em todas as entrevistas que dá, Carlos Vinícius não esquece o nome do dirigente que lhe salvou a carreira. Luís Neves, do Real SC, esteve no Brasil a observar jogadores e viu Carlos Vinícius. Sem nada a perder, o avançado aceitou o desafio. Havia esperança que a mudança para Portugal trouxesse novas oportunidades, mas Carlos Vinícius estava longe de esperar o que aí vinha.
20 golos no último classificado da Segunda Liga não são para qualquer jogador. No espaço de um ano tudo mudou. Aquele Vinícius que desesperava na procura do «ganha pão» e que estava prestes a acabar a carreira transferia-se para o Nápoles. Chegou a treinar em Itália, com Carlo Ancelotti, teve o forte apoio de Mário Rui e Allan, médio brasileiro que o ajudou durante a pré-época, mas o empréstimo ao Rio Ave foi encarado com naturalidade, mas, uma vez mais, Carlos Vinícius mal sabia o que o esperava.O regresso a Portugal, e a estreia na Primeira Liga, voltou a ultrapassar as expectativas. Em menos de meio ano foram marcados 14 golos e desta vez todos estavam atentos a Carlos Vinícius, um avançado potente, clínico e com um pé esquerdo forte. FC Porto e Benfica foram desde logo clubes interessados, mas o Mónaco surgiu entre os pretendentes e o Nápoles aceitou nova cedência. Os golos e os minutos foram bem menos, mas de França surgiram novas aprendizagens e experiências depois de mais um momento de grandes emoções, que voltaram a levar Carlos Vinícius a colocar tudo em causa.
O avançado já tinha mostrado capacidade para lutar contra os problemas e dar um passo em frente, mas a 6 de outubro de 2018 chegou o dia mais complicado da vida de Carlos Vinícius, que tinha acabado de perder a mãe, vítima de um ataque cardíaco. Enquanto a carreira em Portugal ia correndo às mil maravilhas, o drama passava novamente pela vida do avançado, que voltou a colocar tudo em causa: «A minha mãe morreu. Qual é a graça de chegar ao topo se não posso partilhar com ela?», lamentou, emocionado, ao nosso site.
Sara trouxe uma nova luz a Carlos Vinícius, que regressou do luto com mais golos para mostrar à família e dedicar à falecida mãe. Ainda há muito a fazer e o avançado não põe a fasquia baixa.
«O topo». Quando questionado sobre os objetivos a palavra surge no imediato. «O topo». Os obstáculos fizeram Carlos Vinícius tremer, mas a visão do topo sempre esteve lá. A Liga dos Campeões, por exemplo, é um dos objetivos. Até onde chegará Carlos Vinícius? Se a ambição se mantiver espera-se que vá... «ao topo».
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